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quarta-feira, 15 de junho de 2011

O incumprimento da Grécia e o colapso do Lehman Brothers.


A queda do Lehman Brothers no dia 14 de Setembro de 2008, despoletou uma série de quedas diárias dos índices accionistas na casa dos 10%. O Dax de Frankfurt caiu cerca de 30% em apenas 3 dias. O inesquecível mês de Outubro de 2008, que fica indelevelmente ligado não só à História dos mercados financeiros, mas à própria História da humanidade.   
O mercado obrigaccionista (nomeadamente o corporate – obrigações das empresas, ou seja títulos que as empresas emitem para recolherem capitais alheios, pedidos de empréstimo que fazem através da emissão de obrigações e não indo directamente à banca. Pode sair mais barato, não ficam dependentes da banca e os bancos podem não ter liquidez de momento. Muitas obrigações das empresas são compradas pelos próprios bancos ou por fundos por eles geridos) registou também descidas muito significativas. Alguns bancos viram as cotações das suas obrigações valerem praticamente zero. Obrigações do Royal bank of Scotland estiveram a cotar a 15%, uma queda superior a 80%, face a cotações de 85% antes da queda do banco de investimento norte-americano.
Estivemos muito perto da ruptura do sistema financeiro mundial.
Lembro-me de ter dito a um amigo que jamais iríamos assistir a uma situação semelhante, durante a nossa vida. Hoje digo, com algum receio, que provavelmente estava errado quando referi o jamais...

A História jamais se repete, mas tem a natureza de ser parecida. A queda da Grécia, precipitaria uma reacção em cadeia de consequências incomensuráveis. A Moody’s ameaçou hoje a descida do rating de bancos franceses, devido à sua exposição à dívida grega. O BCE detém, provavelmente, mais de 100 mil milhões de euros de dívida grega. O BCP seria um banco penalizado. Bancos alemães e ingleses também têm exposição. A seguir seria o efeito dominó, devido à interligação de todo o sistema financeiro. Bancos sem qualquer ligação à dívida grega, pelo menos directamente, ver-se-iam envolvidos, porque têm participações em bancos com exposição à dívida da Grécia. A dívida pública grega ascende a cerca de 350 mil milhões de euros, quase 1% do PIB mundial e cerca de 4% do PIB da Zona Euro. Qualquer reestruturação implicaria uma violação de obrigações legais que, provavelmente, teria um efeito sistémico mais negativo do que a catástrofe do Lehman Brothers. Irão os gregos hipotecar as suas ilhas? A Deutsche Telekom já detém 30% da Hellenic Telecom, enquanto o Estado grego já só tem em sua posse 10%.

No dia 15 de Setembro de 2008, as dívidas do lehman Brothers foram estimadas em 100 mil milhões de euros. O efeito em cadeia, levou a perdas avultadas noutras instituições financeiras, pelo que foi aprovado um pacote de emergência financeiro no montante de 700 mil milhões de dólares (cerca de 500 mil milhões de euros), denominado de Plano Paulson. Perante a dívida grega de 350 mil milhões, os efeitos colaterais no sistema financeiro seriam superiores a um bilião de euros (quase 3% do PIB mundial)?

O colapso do Lehman Brothers, foi considerado mais tarde como um erro. Se realmente foi um erro, então deixar o Estado grego entrar em incumprimento será, provavelmente, um erro ainda maior…

Paulo Monteiro Rosa, economista. 15 Junho de 2011

6 comentários:

  1. Falta ainda mencionar os "Naked Credit Default Swaps". O tamanho do mercado, que não tem um exchange, parece ser maior do que o pensado. A insistência da Sra. Merkel em incluir os privados em haircuts foi rapidamente abandonado dado que isso seria considerado como um "default" da Grécia aos olhos das agências de rating, e iria desplotar a execução dos CDS. Um "naked CDS" é como se alguem tirasse um seguro contra incêndio da casa do um vizinho, tecnicamente a única forma de ganhar dinheiro é esperar que a casa arda ou que o risco de arder aumente para vender o contrato a outro. Ou seja, quem emitu os contratos (i.e. quem aceitou a aposta) fê-lo a cobrar valores baixos (i.e. mediu mal o risco) a julgar que a UE nunca deixaria um estado membro falir, muitos fazem a aposta nem sequer detêm divida grega e estão simplesmente a torcer pelo pior. Um pouco à semelhança da AIG, pode se dar o caso de bancos europeus terem aceite a aposta e agora não terem forma de o honrar se o incidente de "default" se der.

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  2. Boa tarde Sr. AG,

    Obrigado pela sua atenção e pelo comentário acertivo.

    Melhores cumprimentos,
    Paulo Rosa

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  3. O produto global bruto (PGB) de 2010 ronda os 60 biliões (60x10E12) de USD (42 biliões EUR). A dívida grega é efectivamente quase 1% do PGB. Para mim a grande ameaca à economia mundial é o mercado de derivados financeiros (Swaps, Wedge Funds) cujo volume é 25 vezes superior ao PGB ou seja uns astrondosos 1400 biliões de USD (1,4x10E15). A dívida americana no valor de 14 biliões de USD também não deixa de ser preocupante.

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  4. Boa tarde Sr. João Chumbo,

    Na realidade o peso dos derivados é de preocupar qualquer pessoa que lida com os mercados financeiros. As alavancagens são enormes. Tivemos uma amostra, em Outubro de 2008, com a desalavancagem de carteiras de acções, obrigações. Quedas de 50% nas acções e 80% nas obrigações. Não chegou aos derivados de commodities, swaps, etc. O ouro físico são 160 mil toneladas, os derivados existentes sobre o ouro excedem isso. Faz lembrar o multiplicador monetário da massa monetária, a moeda em circulação na Zona Euro é de apenas 8% do total da massa monetária (800 milhões de euros, massa monetária - M3 - é de quase 10 mil milhões).

    Os 100% de dívida pública dos EUA assustam, mesmo apesar de quase 70% estar na mão de americanos (FED, Segurança Social, investidores particulares, etc). 4 mil milhões na mão de estrangeiros, mais de 25% pelo governo chinês. O Japão tem também quase mil milhões de USD. O défice comercial crónico também assusta, apesar dos ajustamentos automáticos com a depreciação do USD, o défice da balança comercial continua em 4.5% do PIB (já foi mais elevado, antes da crise de 2008).

    Cumprimentos,
    Paulo Rosa

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  5. Efectivamente o custo de não auxiliar a Grécia é superior a ajudar. Porém, a Grécia actual como a conhecemos tem de mudar de atitude, o seu contrato social e de perfil ou arriscam-se a ficar como a Argentina, mesmo sem declaração de "default".

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  6. Bom dia Sr. JC,

    Agradeço a sua apreciação. Na realidade a Grécia tem que mudar de atitude sob pena de por em causa toda a sociedade e economia helénica. Com repercurssões no resto do mundo...

    Cumprimentos,
    Paulo Rosa

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.