Since December 25th, 2010

Translate

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Os Credit Default Swaps da banca portuguesa e o comportamento das acções do sector bancário


Os Credit Default Swaps (CDS) dos bancos portugueses estão a descer desde o início do ano entre 26,9% e 10,2%, apesar de desde o início do mês terem voltado a subir. No entanto, as acções dos bancos têm desvalorizado desde o início do ano. O que poderá explicar este comportamento distinto entre a cotação dos CDS e das acções dos bancos portugueses?

Os CDS da banca registaram uma subida significativa o ano passado. As incertezas implícitas ao comportamento da economia portuguesa num ambiente de resgate financeiro e à recapitalização da banca contribuíram para uma subida expressiva, de Maio a Novembro de 2011, dos CDS do BCP de cerca de 100% e do BES à volta de 50%.

A entrada nos capitais próprios dos bancos por parte do Estado, no processo de recapitalização do sector financeiro, nunca foi bem vista pelos accionistas. No início de Dezembro, o Estado referiu que em princípio não entraria directamente nos capitais próprios dos bancos e se iria socorrer da emissão de instrumentos híbridos, nomeadamente obrigações contingentes, os denominados CoCos, títulos de dívida passíveis de serem convertíveis em acções. A entrada far-se-ia através dos capitais alheios, o que daria simultaneamente maior suporte à estrutura da dívida. A percepção do risco abrandou e a procura de obrigações dos referidos bancos aumentou, as yields desceram e consequentemente os CDS subjacentes a essa dívida diminuíram.

Por exemplo a obrigação do BCP com maturidade a 24 de Janeiro de 2017 (5 anos, visto que se tratam de CDS a 5 anos), cotava nos 38% no final do ano passado e tinha uma taxa de juro implícita (yield) de 23%. Hoje cota a 62.5%, o que representa uma subida de 65% e tem uma yield de 12%. Esta é uma característica a todas as obrigações da banca e por conseguinte os CDS tiverem que aliviar. A descida dos CDS da banca é também fruto da forte desvalorização das obrigações dos bancos o ano passado e da considerável subida da percepção do risco. Obviamente, não poderíamos ter hoje uma obrigação com uma Yield de 12% e com um CDS de 18% que se verificava no final de 2011. O CDS teve que ajustar para valores à volta dos 12%. Para segurar um investimento ninguém está disposto a pagar mais do que a rentabilidade do investimento, neste caso 12%.

As acções dos bancos, que representam a cotações dos capitais próprios no mercado, estão em queda desde o início do ano. A evolução negativa da economia portuguesa, a diminuição do rendimento disponível, o aumento do crédito malparado dos bancos e os necessários aumentos de capital da banca para reporem os rácios de solvabilidade, espelham as desvalorizações significativas verificadas.

Desde o início do ano verificamos subidas significativas nas obrigações dos bancos na ordem dos 30% a 60%, acompanhada pela evidente queda dos CDS, e uma descida das acções dos bancos superior a 30%.

Há algumas semanas atrás o Estado revelou que pretende ter acções em todos os bancos que apoiar. A par desta notícia e das incertezas quanto à evolução política na Grécia e do comportamento das obrigações do tesouro de Espanha, os CDS dos bancos regressaram à tendência de subida. Os CDS da República portuguesa e das restantes empresas nacionais, não foram excepção, e agravaram-se desde essa data.

De salientar que a queda das cotações dos CDS dos bancos, foi acompanhada por uma subida dos CDS da EDP e da PT desde o início do ano. O que estará por detrás da melhor performance dos CDS do sector financeiro?

Apesar da constante subida dos CDS da Portugal Telecom e da EDP, os seus valores ainda são inferiores aos CDS da banca. O melhor comportamento dos CDS do sector financeiro, este ano, poderá ser explicado pela acima mencionada entrada do Estado no capital dos bancos através de Cocos, que diminuem as incertezas que existiam e concede alguma robustez à estrutura dos capitais alheios. Este facto traduziu-se num incremento da procura de obrigações da banca, diminuição das yields e da percepção do risco via CDS. O aumento da procura de obrigações do tesouro português a partir do final do ano passado também terá contribuído para uma maior apetência por obrigações da banca, porque estavam muito desvalorizadas e com um nível de CDS significativamente elevado, de 18% no caso do BCP, no final do mês de Novembro de 2011.   

Os CDS da Portugal Telecom reflectem os receios e as incertezas quanto à evolução do balanço e dos resultados da empresa, perante a descapitalização via dividendos (0.65€/acção, dividendo yield de 17%, um compromisso da empresa para desincentivar os accionistas a venderem as suas acções na OPA da SonaeCom em 2006), a recessão económica portuguesa e o abrandamento dos cash flows depois da venda da operadora de telecomunicações brasileira, a Vivo (a Cash-Cow dos resultados da Portugal Telecom). A Oi está longe de gerar os fluxos financeiros da Vivo.

O agravamento dos CDS da EDP poderá passar pelo relativo endividamento da empresa, que condiciona o comportamento dos investidores e retrai-os na tomada de uma posição compradora na empresa. O resultado da negociação da subsidiação das energias alternativas e da cogeração entre o Estado e a eléctrica portuguesa, provavelmente, afectará negativamente os lucros da EDP e a percepção de risco poder-se-á agudizar.


Paulo Monteiro Rosa, economista, 23 de Maio de 2012

Publicado no Diário Económico de 24 de Maio 2012, comentário baseado neste artigo.

http://www.scribd.com/doc/94706809/Diario-Economico-24-05-2012

4 comentários:

  1. Boa noite Paulo Rosas,

    Uma questão simples para juntar ao seu esclarecedor artigo!

    É a favor do short selling?


    Um abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá amigo Vivendi,
      Vou fazer um enquadramento para responder cabalmente à questão do short selling. Marx referia a bolsa como o local onde os ricos retiravam dinheiro uns aos outros. O daytrading não passa de um jogo de informação. Quem tiver melhor informação será bem sucedido. No curto prazo os principais "players" são especuladores, necessários para darem liquidez ao mercado para quem investe no longo prazo (>5 anos). A bolsa é um local onde as empresas se financiam a custos favoráveis e não estão dependentes dos bancos. Podem emitir acções (capitais próprios) e obrigações (capitais alheios). Os especuladores são importantes porque dão profundidade, mas também desestabilizam, principalmente quando os volumes são baixos. Mais volatilidade. No curto prazo a bolsa é um jogo, constituído por especuladores e as cotações raramente espelham o valor da empresa. No longo prazo é um investimento, constituído por investidores e o valor da empresa é fielmente reflectido pela bolsa. Vender títulos sem os ter é uma prática no mínimo pouco serena para dar estabilidade e trazer investidores de longo prazo, pressionando os preços e tornam mais artificiais as cotações. Proibir em tempos de crise não é solução. Dá sinal ao mercado de que os reguladores estão receosos... Os players no mercado são muito poucos, o mercado não tem volume num período de crise económica, logo as vozes contra a proibição desse instrumento são quase todas, porque no mercado quase só existem especuladores que querem ganhar com a queda. Estes instrumentos, que nada trazem de mais valia ao mercado, não deveriam ter sido criados. Mas proibi-los só quando o mercado está bullish e aguenta os short-sellings e as vozes contra serão quase inexistentes, porque os especuladores estão do lado da compra. Muito pouca gente aposta na queda do mercado, a não ser no daytrading. De salientar que quem vende a descoberto tem ganhos limitados (os preços não descem abaixo de zero) e perdas ilimitadas. São estratégias arriscadas, mas quando o mercado está bearish, quase sempre o short selling é lucrativo porque não existe quase ninguém no mercado. Mas poderá existir uma OPA e perdas significativas. As posições curtas são necessárias no mercado de futuros e opções para existir alguém disposto a vender e a comprar a produção de um produtor de laranjas. Alguém quer vender a sua produção em abril que colherá em setembro. Haverá um especulador no mercado para comprar e assumir o risco de produção. No mercado existem especuladores (desestabilizam o mercado, mas dão liquidez), arbritagistas (estabilizam o mercado) e investidores (estão no mercado para o investimento, para receber os dividendos). O short selling poderá retirar do mercado investidores de longo prazo e são estes que dão valor e sentido à existência do mercado. A bolsa é um sítio onde se investe, não é um casino. É uma peça fundamental no financiamento das empresas. O short selling é um instrumento dos especuladores. Ganhar dinheiro com a queda, alguém ficará sem esse dinheiro caso o especulador que vende a descoberto ganhe dinheiro. Em tempos de crise, o mercado já está bastante pressionado em baixa, os investidores estão afastados do mercado e com descidas mais acentuadas devido ao short selling só irão contribuir para descredibilizar os mercados e afastar os investidores de longo prazo que restam. No longo prazo o short selling não terá qualquer influência no valor da empresa no mercado, mas pelo caminho terá "atropelado" e tirado do caminho muitos investidores que muitas vezes devido à sua alavancagem (contas caucionadas, CFD´s, etc) que não deixa de ser um mecanismo especulativo. Mas também poderá retirar valor a muitos investidores de longo prazo que acabam por desistir do investimento em bolsa. Em suma o short selling, nomeadamente de acções, não é nenhuma mais valia para o mercado... Um abraço, PMR

      Eliminar
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  3. Uma ótima resposta. Só posso concordar com tudo o que escreveu. Eu sempre fui um entusiasta da bolsa e cheguei a estar bem ativo numa determinada fase. Afastei-me justamente pelo short-selling, que na minha visão não são mais que uns tubarões inseridos em um sistema financeiro virtual e fortemente alavancados para extorquir milhares de pequenos investidores. As regras da bolsa já não são iguais para todos. Um pequeno investidor está assim completamente entregue às vontades de um especulador da city ou de uma alguma casa de investimento. E com esta brincadeira muitos milhares de pessoas perderam as suas poupanças (só verificar a estagnação da classe média americana) e as empresas ficaram com menos capacidade de financiamento.

    Abraço.

    ResponderEliminar

Arquivo do blogue

Seguidores

Economista

A minha foto
Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.