Since December 25th, 2010

Translate

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A selecção natural e o dilema do prisioneiro.


1. A selecção natural

Na passada terça-feira, dia 14 de Agosto, o Tesouro grego colocou 4 mil milhões de euros em bilhetes do Tesouro a 3 meses e aceitou pagar uma taxa de juro de 4,43%. A Itália e a Espanha conseguem empréstimos a taxas entre os 3% e os 6%, 7% dependendo se são bilhetes ou obrigações do tesouro com maturidades mais longas (5 a 10 anos). Na passada quarta-feira, dia 22 de Agosto, o Tesouro francês colocou 7 mil milhões de euros com taxas negativas ou próximas de zero. Maturidade a 3 meses, 4 mil milhões de euros com a taxa negativa (-0,015%), a 6 meses foram mil e 200 milhões de euros com taxa negativa (-0,018%) e a 12 meses, 1.800 milhões de euros a taxa foi ligeiramente positiva (0,002%). Os países nórdicos e do centro da Europa conseguem financiamento a taxas de juro perto de 0% ou mesmo negativas. 

O risco é proporcional ao retorno e é de acordo com esta premissa que os investidores alocam o seu dinheiro, seleccionam os seus investimentos. Numa época de crescente incerteza quanto à evolução da Zona Euro, os aforradores optam por emprestar dinheiro a países cujo retorno seja garantido em detrimento de um retorno satisfatório para o seu dinheiro. Um retorno elevado para o dinheiro tem um significativo risco inerente que neste momento os investidores não estão dispostos a correr. Estariam dispostos a emprestar dinheiro ao Estado grego? E à Alemanha, apesar de não existir qualquer retorno ou mesmo na maturidade o reembolso ser menor que o investimento inicial? Provavelmente serão mais as vozes receptivas ao investimento em títulos de dívida do governo alemão…  
Em virtude da crise das dívidas soberanas da Zona Euro, os países do norte da Europa estão a financiar as suas economias a taxas de juro de 0% (contribuindo para um maior crescimento económico), beneficiando do estatuto de activos de refúgio e da fuga de capitais dos países do sul da Europa.
As economias do sul têm que fazer os ajustamentos orçamentais (subida dos impostos e descida da despesa pública) que se traduzem em menos rendimento disponível (positivo para diminuir a procura interna e a procura de importações e aumento das exportações que espelham uma melhoria da balança comercial, mas negativo devido ao aumento do desemprego). Além destes ajustamentos, as suas empresas ainda têm que pagar taxas de juro proibitivas à banca. Um projecto de investimento idêntico, poderá obter um financiamento barato na Alemanha e em Portugal terá, provavelmente, que pagar 8% ou 9%, o que poderá torná-lo inviável. A extinção das economias do sul da Europa não é fantasia…

As leis económicas reflectem a interacção entre os Homens, entre os seres vivos. Algumas vezes reflectem a lei dos mais fortes. É a selecção natural de Darwin num processo evolutivo como explicação da adaptação e especialização dos seres vivos. Prevalecem os mais fortes em detrimento dos mais fracos, sobressaem e sobrevivem os países do norte da Europa em prejuízo dos países do sul.

A teoria de Darwin foi inspirada nas observações feitas nas viagens durante a sua vida, nomeadamente às ilhas Galápagos e na doutrina económica de Malthus (a população crescia exponencialmente enquanto que a comida só crescia linearmente. A falta de comida teria implicações demográficas, levando a uma "luta pela sobrevivência", na qual somente o mais apto sobreviveria).
As leis económicas baseiam-se nas leis naturais, como a lei da oferta e da procura, na selecção natural de Darwin que tem por base, entre outras, as leis económicas de Malthus. Os países mais fracos são dominados e eliminados pelos países com economias mais fortes, mais desenvolvidas (em IDH [índice de Desenvolvimento Humano], IPC [Índice de percepção de Corrupção], índice de Gini [distribuição do rendimento], etc).

Acontece ao longo da história, a selecção “natural” dos países hegemónicos. Os sumérios, os egípcios, os gregos, os romanos, os portugueses e espanhóis, os franceses, os britânicos, os russos, os EUA. Os impérios, tal como os seres vivos, nascem, crescem e morrem. A maior parte dos impérios, dos domínios territoriais, um dia acabam. A China é uma das civilizações mais antigas cuja existência continua, uma sociedade milenar, unificada 2 séculos antes do nascimento de Cristo, apesar de fechada até há 20 anos atrás. Mas, apesar da sua longa existência, não está fora do alcance das leis de selecção natural…

Mas será que a economia só se rege pelas leis egoístas “puras” da natureza?



2. A cooperação da Alemanha e da Grécia.

A Zona Euro encontra-se neste momento perante o dilema, na parte mais antiga e primitiva do seu “cérebro”, nos primórdios da construção europeia em 1957, no complexo reptiliano: Fugir ou lutar. Desintegração (cada país ou região sai da União Europeia) ou cooperação (lutando pela UE). A Europa encontra-se prisioneira das opções que tomou e encontrar-se-á ou não das que tomar…

No entanto o homem, animais e restantes seres vivos, tem muito a ganhar com a cooperação. O homem é um animal social e, tal como abelhas e as formigas, a palavra-chave é a cooperação. O “dilema do prisioneiro” prova que a cooperação traz mais vantagens que o egoísmo puro.

O dilema do prisioneiro resume-se a um crime que alegadamente é praticado por duas pessoas e a polícia não tem provas suficientes para prender os suspeitos. Coloca cada prisioneiro numa cela individual e propõe o mesmo acordo a ambos: se confessar que o crime foi cometido pelo colega e o amigo ficar em silêncio, o que confessou e culpou o colega é libertado e o que permaneceu calado é preso 10 anos. Se ambos ficarem calados, só podem ser condenados a 6 meses de prisão por falta de provas, é nesta situação que reside a confiança entre os dois suspeitos e as vantagens que advêm dessa cooperação. Se ambos traírem o colega, cada um apanha 5 anos de prisão. Quadro1


Mas cada prisioneiro, como não pode contactar com o outro, não sabe o que o colega vai dizer. Pode surgir aqui a tentação de trair, do egoísmo puro. Como vai reagir cada prisioneiro? Cooperarão ambos os prisioneiros, para minimizar a perda da liberdade, ou um dos presos, confiando na cooperação do outro, o trairá para ganhar a liberdade? O objectivo de cada um é apanhar o mínimo de prisão possível, logo a primeira reacção poderá ser de culpar o colega e sair em liberdade. Mas se o colega fizer o mesmo, ambos são presos 5 anos. Então deve ficar calado e apanhar apenas 6 meses de prisão. O problema do dilema é como vai reagir cada suspeito? O dilema do prisioneiro é um problema da teoria dos jogos de soma não nula e representa a prova cabal de que a cooperação compensa. Podem existir dois vencedores no jogo. Não importa os valores das penas, mas calcular as vantagens da decisão de um interveniente que está interligada à decisão do outro. A confiança, a cooperação é fundamental e a traição é perniciosa…

Casos como este são recorrentes na economia, sociologia, ciência política, biologia…

A cooperação de ambos representa o “óptimo de Pareto”, porque não é possível o prisioneiro “A” melhorar a sua situação sem prejudicar a situação do outro colega e vice-versa. No entanto a não cooperação de ambos representa o “equilíbrio de Nash”, porque nenhum dos prisioneiros tem a ganhar alterando a sua estratégia unilateralmente e a estratégia que lhe traz mais benefícios é a liberdade. O “equilíbrio de Nash”, neste jogo, culmina numa situação pior porque se ambos culpam o colega acabam por ficar presos mais tempo (5 anos cada um).

Para concluirmos que a melhor decisão é a cooperação, por analogia iremos utilizar a Alemanha e a Grécia, como representantes de duas regiões. O norte e centro da Europa (Alemanha, Áustria, Finlândia, Holanda, França, etc) e o sul da Europa (Grécia, Portugal, Espanha e Itália).
A) Confiam no outro prisioneiro (país) e permanecem calados (cooperando ambos os países). A Grécia assume um papel responsável e faz os ajustamentos necessários para reabilitar a sua economia e a Alemanha permanece solidária. Existe sempre o risco de um país trair o outro. B) Culpam o outro prisioneiro (país) e não cooperam, não realizando os ajustamentos (Grécia) ou não são solidários (Alemanha) e esperam ser libertados (beneficiados financeiramente). No entanto se o outro país fizer o mesmo, ambos ficarão numa situação pior do que se permanecessem calados (cooperativos).
Num processo pontual, caso do “dilema do prisioneiro clássico”, os suspeitos (países) podem pensar que compensa arriscar e culpar e trair o outro colega (país), não fazendo os ajustamentos (Grécia) que deve fazer e beneficiar da benevolência do outro suspeito (Alemanha) que havia confiado na Grécia. Mas se o processo for repetido várias vezes, for um processo dinâmico e os suspeitos (países) voltam a encontrar-se como acontece neste caso da Zona Euro, os países tendem a cooperar das próximas vezes.

No “dilema do prisioneiro iterado” (ou seja repetitivo), a cooperação pode alcançar-se como um resultado de equilíbrio. Quando se repete o jogo, oferece-se a cada jogador (país) a oportunidade de penalizar o outro jogador (país) pela não cooperação em jogos anteriores. Assim, o incentivo para não cooperar pode ser superado pela ameaça das penalizações, o que conduz a um resultado melhor, ou seja a cooperação. Ver quadro2


A saída da Grécia do euro é um dado adquirido para alguns investidores e uma incerteza para outros, mas a situação é tudo menos previsível. A saída da Grécia do euro pode estar já acomodada pelos bancos e pelo sistema financeiro europeu, mas a concretização desta possibilidade será sempre uma novidade, um precedente, uma brecha na União Monetária. Provavelmente, a Alemanha fará quase tudo para que isso não aconteça… E por quase tudo entende-se tudo, com excepção da criação de moeda pelo BCE (Banco Central Europeu) sem suporte de produção. Mesmo aqui a Alemanha poderá abrir uma excepção e permitir uma flexibilização monetária, através da emissão de notas de banco ou criação de dinheiro electrónico (colocado digitalmente no passivo dos balanços dos bancos comerciais e no activo do BCE), ou o próprio BCE comprar directamente, em mercado primário, dívida pública espanhola e italiana para impedir que as respectivas yields passem acima, por exemplo, dos 4%. Mas esta excepção seria imperativamente temporária e numa situação limite, como uma forma de ganhar, "comprar" tempo até os países-membros da Zona Euro encontrarem uma forma política para ultrapassarem o problema. E antes desse último recurso, ainda existia a solução que passaria por poupança real como seja o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF)...
Na eventual saída da Grécia do euro, é provável que os títulos dos países mais fragilizados financeiramente sejam mais penalizados, caso dos activos financeiros portugueses. Mas os títulos dos países periféricos, dos países do norte da Europa e do resto do mundo não saem incólumes a uma saída da Grécia do euro, ainda que controlada. A amplitude da crise gerada continua a ser uma incógnita, mas se acontecesse há 2 anos atrás teria efeitos muito mais graves...

Se a Alemanha se fechar, não cooperar, perderá. O mesmo acontecerá à Grécia. A Alemanha terá muito mais a ganhar em cooperar do que em fechar-se sobre si própria e permitir a saída da Grécia do euro, é como abrir uma caixa de Pandora. A Grécia tem mais a ganhar em cooperar do que fechar-se sobre si própria, sair do euro e viver uma situação de colapso financeiro.
O Quadro2 pode ser bastante explicativo, mas é apenas académico. É preciso que os políticos e os povos estejam conscientes dos graves problemas que pairam sob a UE e se mostrem cooperantes para ajudar na restauração da reintegração europeia. Existe uma série de grupos de interesse, de pressão que não querem cooperar. Existem elites que são anti-reformas.
Mas estarão os contribuintes alemães receptivos para cederem mais dinheiro dos seus impostos para reabilitar as economias do sul da Europa? O governo alemão terá que ter a capacidade para demonstrar ao seu povo os benefícios de pertencerem a uma integração económica, ainda mais num mundo com uma população crescente, no qual a voz da Europa só se fará ouvir como um todo. (Veja-se o que acontece nas ONU, o veto de um país como a China, Rússia ou EUA tem peso, enquanto que o veto da França ou da Inglaterra de nada vale. Deveria ser a União Europeia a ter assento permanente na ONU. O Brasil já luta por isso).
A economia grega estava e continua a estar sob uma bolha que tem que ser ajustada. Os gregos estarão dispostos a mais ajustamentos na sua economia? O governo helénico terá que explicar aos gregos que não existe outro caminho. Depois destas compreensões e cooperações, com mais responsabilidade e solidariedade, os países do sul poderão beneficiar de financiamento idêntico, com taxas de juro idênticas à da Zona Euro setentrional e os países do norte poderão integrar uma Europa como um todo. A não cooperação levará a um final que ninguém deseja e todos desconhecem.
O dilema norte/sul. O que se passa na Zona Euro é já um problema cultural …

Paulo Monteiro Rosa, economista, 24 de Agosto de 2012

Publicado na ATM / Analistas Mercados Capitais

http://www.associacaodeinvestidores.com/index.php/artigos-e-teses/63-artigos/244-a-seleccao-natural-e-o-dilema-do-prisioneiro-grecia-e-a-europa

8 comentários:

  1. Boa tarde, Paulo.

    Se me permite, gostaria de comentar alguns pontos do seu artigo sobre os quais, respeitosamente, discordo.

    "As leis económicas reflectem a interacção entre os Homens, entre os seres vivos. Algumas vezes reflectem a lei dos mais fortes. É a selecção natural de Darwin num processo evolutivo como explicação da adaptação e especialização dos seres vivos. Prevalecem os mais fortes em detrimento dos mais fracos, sobressaem e sobrevivem os países do norte da Europa em prejuízo dos países do sul."

    Nao acredito que as leis economicas reflictam a lei do "mais forte"... Quando o Paulo diz "o mais forte" parece implicito que existe alguma forma de forca aplicada, quando nao e' assim.
    Eu acho que as leis economicas reflectem a lei do MAIS EFICIENTE. Os recursos disponiveis sao finitos (capitais, humanos e temporais) e, por isso, ha que utiliza-los com eficiencia. As leis naturais da economia regem as interaccoes entre os seres humanos da forma mais eficiente e usam o sistema de precos livres para alocar esses recursos de forma mais eficiente.

    O sentido da sua frase podera levar a quem leia o seu artigo a concluir (erradamente, na minha opiniao), que para que 'A' ganhe (o mais "forte"), 'B' (o mais "fraco") tem de perder. Isto e' o que o "diabolizadores" do capitalismo querem transmitir (como se o sistema sob o qual vivemos fosse, verdadeiramente, capitalista e nao estatista-monopolista-corporativista). Quando 2 individuos acordam, VOLUNTARIAMENTE, numa troca comercial, ambas as partes ganham (de outro modo a troca nao se faria). O capitalismo e' um sistema de mutuo-beneficio.
    Quanto a cooperacao. Sem duvida que, sem cooperacao entre seres humanos, provavelmente ainda viveriamos em cavernas. A especializacao de tarefas e a troca VOLUNTARIA sao as chaves do progresso, do bem estar e da propria civilizacao.

    A cooperacao so existe entre INDIVIDUOS e nao colectivos. Os individuos sao os unicos capazes de julgar o que e' melhor para SI MESMO, nao sao capazes de julgar o que e' melhor para os OUTROS. Quando os individuos 'A' e 'B' colaboram, essa colaboracao so e' benefica quando 'A' avalia a sua situacao depois da colaboracao e chega a conclusao que vai ficar melhor e o mesmo acontece com 'B'. Caso contrario nao haveria colaboracao.

    Ora no colectivo, sao os politicos que decidem o que "e' melhor" para o colectivo, forcando assim, todos os envolvidos no colectivo, a "colaborar" mesmo contra sua propria vontade. Esta nao e' uma situacao de mutuo beneficio. Vao haver uns que perdem em beneficio de outros que ganham. Cooperacao FORCADA nao e' cooperacao.

    Comparar a decisao de um individuo (prisioneiro) com a "decisao" de um colectivo (pais), nao faz nenhum sentido. O prisioneiro tem um corpo, uma mente, uma consciencia, um julgamento subjectivo. O colectivo nao tem absolutamente nada disso.

    O problema da Europa e do mundo e' o colectivismo. Neste momento a Europa nao passa de uma URSE - Uniao das Republicas Socialistas Europeias. O caminho que parece que as pessoas querem seguir e' o de aumento do poder central de Moscovo... digo, de Bruxelas, do distributismo forcado de riqueza (como se dividir a pizza aumentasse o tamanho da pizza) e da consequente perda de liberdades individuais. E' este o problema central da Europa. Nao ha nada que "cooperacao" forcada va resolver.

    Cumprimentos!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bom dia Fernando,

      Obrigado pelo seu construtivo comentário.

      Nomenclaturas diferentes. O que eu digo de forte é o que refere de eficiente. É o mais forte aquele que consegue utilizar da melhor maneira o que o rodeia, eu seu benefício próprio. Estamos a falar da mesma coisa.

      Eu não inventei a roda. O modelo pode ser usado quer individualmente quer colectivamente. Os países não são governados pelo povo, mas por um grupo de pessoas que decide os destinos da nação. São os colaboradores de uma empresa que decidem e delineiam o caminho que a empresa deve seguir? Tudo é feito por células e sub-células. O planeta terra é uma célula. Cada país é uma sub-célula. Cada freguesia é uma sub-célua. Cada ser humano é uma sub-célula mas com particularidades, porque é um ser racional em si mesmo e tem como principal objectivo a maximização do seu bem estar e isso poderá passar pela atitude egoísta (primeiro eu, eu segundo lugar eu e em terceiro "eu" e só depois os outros), mas como animal social coopera com os restantes, mas sempre com o seu sub-consciente a pensar nele próprio (a cooperação é efectuada para benefício próprio). O ser humano, é todo ele sem excepção maquiavélico? Não. Muitos olham aos meios para atingir os fins que são sempre em seu benefício, mas olham aos meios não para ajudar alguém, mas para ser beneficiado (porque se estivesse na situação contrária gostaria que fizessem os mesmo, é o altruísmo que não passa de um egoísmo refinado. Tudo depende da interação humana e não da vontade humana.

      Queremos mais Estado ou menos Estado? Queremos menor Estado, menos gastador, muito mais pequeno em termos financeiros. Não me interessa se emprega menos ou mais colaboradores. Tem que se governar com o mínimo de dinheiro possível. Eficiência do Estado... Não deveremos ter Estado? Não devemos ter polícia? Como assegura a segurança? Não compreendo...

      Por último, com havia referido, eu não inventei a roda. Por exemplo em ciência política, o dilema do prisioneiro usa-se no problema dos Estados envolvidos nas corridas ao armamento. Ambos os países (Por exemplo EUA e a Ex-União Soviética) concluem que têm 2 opções: aumentar os gastos militares, ou chegar a um acordo para reduzir o seu armamento. Nenhum dos dois países pode estar seguro de que o outro acatará o acordo; deste modo, ambos se inclinam para a expansão militar. A ironia está em que ambos os estados parecem actuar racionalmente, mas o resultado é completamente irracional. Mas num processo de dilema do prisioneiro iterado, a tendência poderá ser para a cooperação, no entanto o armamento não é visísel, como as atitudes bem vísiveis de ajustamentos económicos ou empréstimos. Apesar de existirem espiões e então chegar-se ao acordo de reduzir o armamento.

      Eu faço análise. Não acho que aquele país está errado, que o outro é bom. Não faço juízos de valor mas apenas análise depaixonada...

      Cumprimentos,
      PMR

      Eliminar
  2. Caro Paulo,

    Obrigado pelo seu comentario, que muito agradeco.

    Permita-me que foque dois pontos que eu acho importantes salientar. Na minha opiniao ha certas subtilezas que podem passar despercebidas para a maioria das pessoas.

    Exista uma grande diferenca entre "interesse-proprio" e "egoismo". A maioria das pessoas confunde os dois termos. Todos os seres humanos agem em interesse proprio e isso nao e' mau, antes pelo contrario, e' condisao necessaria a accao humana.

    Quando eu estou deitado no meu sofa a ver um filme e me da a fome, eu tenho 2 opcoes: ou continuo deitado e com fome, ou decido agir e fazer uma sandes. Eu agi de acordo com o meu interesse proprio. Quando eu vou trabalhar, faco-o por interesse proprio, nao por altruismo para com o meu patrao. Ele emprega-me porque esta a seguir o seu interesse proprio, nao porque tem pena de mim. Ambos agimos por interesse proprio sem que nenhum de nos nem terceiros fiquem prejudicados.

    E' a beleza do capitalismo de mercado livre. E' a materializacao desta caracteristica intrinseco dos seres humanos. Cada um de nos, agindo em interesse proprio, colaboramos uns com os outros, acabando por beneficia-los com as nossas accoes.

    Quando o padeiro, agindo em interesse proprio (para ganhar o seu salario e satisfazer as suas necessidades e da sua familia), passa as noites a cozer pao, vai beneficiar todos aqueles que, de manha, satisfazem-se com o pao fresquinho. A accao por interesse proprio e' uma situacao "win-win".

    No entanto, a maioria das pessoas associa a accao por interesse proprio com egoismo. Pensam que, quando o individuo 'A' age por interesse proprio, tem de ser, forcosamente, em deterimento de alguem, o meu ganho tem de ser a perda de alguem, uma situacao "win-lose".

    No capitalismo de mercado livre, cada um de nos so ganha servindo os outros, ou seja, produzindo bens e servicos que os outros queiram, voluntariamente, comprar. Isto nao tem abolutamente nada a ver com egoismo.

    Para finalizar, so um pequeno comentario a sua frase: "Não deveremos ter Estado? Não devemos ter polícia? Como assegura a segurança? Não compreendo..."

    O estado tem o monopolio da seguranca. Todos sabemos quais sao as consequencias de um monopolio: servico pouco eficiente e demasiado caro. Porque e' que aceitamos e confiamos que o mercado nos forneca tantos bens e servicos que sao necessarios para a nossa vida e o nosso bem estar e parece que excluimos a seguranca e a justica desse grupo de servicos? Porque e' que estes tem de ser um monopolio do estado? Nao tem, na minha modesta opiniao.

    Cumprimentos respeitosos!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Fernando,

      Obrigado pelo seu comentário.

      Concordo em pleno com o interesse próprio. Falamos das mesmas coisas com semânticas diferentes.

      Sou apologista do mercado livre. Contra a desvirtuação do mercado pelas autoridades: Estado, autoridades monetárias...

      O Estado deve deve apenas supervisionar para a concorrência funcionar. Mas 3 sectores precisam de atenção: Saúde, Educação e Justiça. Se o Estado subsidiar e manter a igualdade de oportunidades nas escolas privadas, a escola pública pode acabar. O mesmo para saúde...

      As autoridades monetárias devem apenas supervisionar. Os bancos centrais devem verificar se existem irregularidades e deixar o resto ao mercado livre, às preferências temporais das pessoas. As taxas de juro não devem ser manipuladas pelo BCentral, mas devem aparecer como uma taxa entre a antecipação e o adiamento do consumo. Deixem o mercado decidir qual a taxa de juro.

      Criar dinheiro sem qualquer suporte de produção sai caro. Vimos as últimas crises de 2000 dotcoms e 2008-? imboliário. A de 1929 tem a mesma génese, criação de dinheiro que não tem nada subjacente. É a origem de todas as crises...

      Depois são sempre os menos ricos a pagar as crises e não beneficiam com expansões económicas. Por exemplo, nas dotcom os primeiros a entrar em 1995 ganharam dinheiro e os menos informados entraram já em 2000 e perderam o dinheiro.

      Depois com a crise, os mais ricos e informados conseguiram asssegurar os seus bens, os outro viram-nos lapidados por uma deflação que foi e é sempre fruto do aumento da massa monetária antes através de políticas monetárias flexíveis. Porque a deflação é positiva e representa a democratização do consumo.

      As taxas depois descem de 5% para 1% (FED), mais uma vez as autoridades monetárias que se devem confinar à supervisão, a manipularam a taxa de juro e os menos ricos foram outra vez prejudicados. Quem tinha mais informação comprou quando começou a expansão monetária e quando surgiu a inflação (monetária sempre, não conheço outra) venderam o que tinham comprado obtendo lucros fabulosos. Os que compraram em último, os menos informados, ainda ofuscados pela ilusão monetária, compraram os bens caros e ficaram com eles na mão e hoje valem 50% do que pagaram, muitas vezes casas para as pessoas morarem e não especularem...

      O índice de Gini tende a aumentar na ocasião de crises. Ou seja a criação de dinheiro do nada pelo Banco Central para financiar os interesses dos Estados, acaba sempre em crises e acabam sempre por prejudicar os menos ricos... Mas logo aparece o Estado a dizer que vai fazer tudo para proteger os mais desfavorecidos. Aquele que causou o problema, vem agora tentar resolvê-lo. Realmente deveria ser ele a resolvê-lo, porque quem "estraga velho paga novo", mas o problema é que a receita para resolver a crise é precisamente a que nos trouxe à crise (criação de dinheiro e Estado a gastar mais). Empurrar o problema com a barriga e a endossá-lo para os vindouros. Mas como no "longo prazo estamos todos mortos" como dizia o irresponsável Keynes, está tudo dito... Não podemos apagar um incêndio com gasolina. Não podemos resolver a crise com a criação de dinheiro que foi o que nos trouxe até ela. Só há uma solução para resolver a crise: Cortar na despesa pública. E se possível aliviar quanto antes a carga fiscal... Simples.

      É sempre preferível um crescimento salutar em detrimento de um crescimento que altera todas as variáveis, como preferência temporal para o consumo, com desajustes na poupança real (devido à manipulação da taxa de juro), inflação, que pode no curto prazo trazer crescimento que não passa de ilusório e que se traduzirá em grande volatilidade... Com altos e baixos.

      Por último: Como agir perante monopólios naturais?

      Pode, por favor ler o seguinte artigo: http://omniaeconomicus.blogspot.pt/2011/12/as-privatizacoes-e-os-bens-publicos.html. Tomo a liberdade de lhe pedir o seu comentário.

      Cumprimentos,
      PMR

      Eliminar
    2. Forrobodó do dinheiro fácil e "falso". A impressão de dinheiro sem qualquer suporte de produção, sem nada subjacente é dinheiro "falso", porque não poderemos comprar mais coisas com mais dinheiro. Em termos nominais há mais dinheiro, mas em termos reais mantém-se tudo igual.

      Logo a minha referência de que o dinheiro só é verdadeiro, porque é realizado e fabricado por alguém que tem o monopólio legal, dada pelas autoridades de um país para o poder fazer, que são os Bancos centrais. Mas em termos financeiros e económicos esse dinheiro é "falso", apenas tem curso legal porque leva a chancela do banco central que está habilitado para isso.

      Eliminar
  3. Olá Fernando,

    Obrigado pelo seu comentário.

    Concordo em pleno com o interesse próprio. Falamos das mesmas coisas com semânticas diferentes.

    Sou apologista do mercado livre. Contra a desvirtuação do mercado pelas autoridades: Estado, autoridades monetárias...

    O Estado deve deve apenas supervisionar para a concorrência funcionar. Mas 3 sectores precisam de atenção: Saúde, Educação e Justiça. Se o Estado subsidiar e manter a igualdade de oportunidades nas escolas privadas, a escola pública pode acabar. O mesmo para saúde...

    As autoridades monetárias devem apenas supervisionar. Os bancos centrais devem verificar se existem irregularidades e deixar o resto ao mercado livre, às preferências temporais das pessoas. As taxas de juro não devem ser manipuladas pelo BCentral, mas devem aparecer como uma taxa entre a antecipação e o adiamento do consumo. Deixem o mercado decidir qual a taxa de juro.

    Criar dinheiro sem qualquer suporte de produção sai caro. Vimos as últimas crises de 2000 dotcoms e 2008-? imboliário. A de 1929 tem a mesma génese, criação de dinheiro que não tem nada subjacente. É a origem de todas as crises...

    Depois são sempre os menos ricos a pagar as crises e não beneficiam com expansões económicas. Por exemplo, nas dotcom os primeiros a entrar em 1995 ganharam dinheiro e os menos informados entraram já em 2000 e perderam o dinheiro.

    Depois com a crise, os mais ricos e informados conseguiram asssegurar os seus bens, os outro viram-nos lapidados por uma deflação que foi e é sempre fruto do aumento da massa monetária antes através de políticas monetárias flexíveis. Porque a deflação é positiva e representa a democratização do consumo.

    As taxas depois descem de 5% para 1% (FED), mais uma vez as autoridades monetárias que se devem confinar à supervisão, a manipularam a taxa de juro e os menos ricos foram outra vez prejudicados. Quem tinha mais informação comprou quando começou a expansão monetária e quando surgiu a inflação (monetária sempre, não conheço outra) venderam o que tinham comprado obtendo lucros fabulosos. Os que compraram em último, os menos informados, ainda ofuscados pela ilusão monetária, compraram os bens caros e ficaram com eles na mão e hoje valem 50% do que pagaram, muitas vezes casas para as pessoas morarem e não especularem...

    O índice de Gini tende a aumentar na ocasião de crises. Ou seja a criação de dinheiro do nada pelo Banco Central para financiar os interesses dos Estados, acaba sempre em crises e acabam sempre por prejudicar os menos ricos... Mas logo aparece o Estado a dizer que vai fazer tudo para proteger os mais desfavorecidos. Aquele que causou o problema, vem agora tentar resolvê-lo. Realmente deveria ser ele a resolvê-lo, porque quem "estraga velho paga novo", mas o problema é que a receita para resolver a crise é precisamente a que nos trouxe à crise (criação de dinheiro e Estado a gastar mais). Empurrar o problema com a barriga e a endossá-lo para os vindouros. Mas como no "longo prazo estamos todos mortos" como dizia o irresponsável Keynes, está tudo dito... Não podemos apagar um incêndio com gasolina. Não podemos resolver a crise com a criação de dinheiro que foi o que nos trouxe até ela. Só há uma solução para resolver a crise: Cortar na despesa pública. E se possível aliviar quanto antes a carga fiscal... Simples.

    É sempre preferível um crescimento salutar em detrimento de um crescimento que altera todas as variáveis, como preferência temporal para o consumo, com desajustes na poupança real (devido à manipulação da taxa de juro), inflação, que pode no curto prazo trazer crescimento que não passa de ilusório e que se traduzirá em grande volatilidade... Com altos e baixos.

    Por último: Como agir perante monopólios naturais?

    Pode, por favor ler o seguinte artigo: http://omniaeconomicus.blogspot.pt/2011/12/as-privatizacoes-e-os-bens-publicos.html. Tomo a liberdade de lhe pedir o seu comentário.

    Cumprimentos,
    PMR

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Forrobodó do dinheiro fácil e "falso". A impressão de dinheiro sem qualquer suporte de produção, sem nada subjacente é dinheiro "falso", porque não poderemos comprar mais coisas com mais dinheiro. Em termos nominais há mais dinheiro, mas em termos reais mantém-se tudo igual.

      Logo a minha referência de que o dinheiro só é verdadeiro, porque é realizado e fabricado por alguém que tem o monopólio legal, dada pelas autoridades de um país para o poder fazer, que são os Bancos centrais. Mas em termos financeiros e económicos esse dinheiro é "falso", apenas tem curso legal porque leva a chancela do banco central que está habilitado para isso.

      Eliminar
  4. Boa tarde Paulo,

    Gostei do seu artigo e a teoria dos jogos até se pode aplicar. Mas neste caso, na Europa, o jogo está desiquilibrado.

    Para além das pressões externas que desvirtuam o proprio jogo, será sempre mais facil para a Alemanha ganhar do que a Grécia. O ganho potencial é maior e o esforço necessário da Grécia é muito maior. E a Grécia a ganhar poderá ficar na mesma dependente dos grandes da Europa.

    No exemplo dos prisioneiros eles estavam em circunstãncias iguais, bem como EUA vs URSS.

    Aplica-se e de facto das 4 opções que sempre existem, a melhor é sempre a mesma.

    Resta saber se o jogador A ou B preferem arriscar por outra via.

    Os gregos podem pensar que não lhes vale a pena continuar na UE e continuarem na cauda da Europa, sendo subservientes por mais décadas, por exemplo. E podem achar que saindo, perdem uns bons anos mas que depois têm mecanismos financeiros para aplicarem na recuperação e estarão "livres" dos gigantes europeus.

    A Alemanha por seu lado, que pode ter muito a perder com a saída da Grécia, também pode ter a perder na mesma medida ou mesmo mais com o arrastar da situação. E os Alemães são pacientes, vejamos até quando.

    Se não existissem tantas dúvidas, não haveria tantos contra a UE e o Euro. Ninguém no seu perfeito juizo e numa situação boa preferisse a sua desintegração.

    E mais, na situação ideal, num win-win, quanto tempo demora? E ainda vamos a tempo disso?

    Como saber?

    Essa é talvez a maior dúvida de toda a população europeia, seja politico ou desempregado minimamente informado.

    Cumprimentos,
    André Vaz

    ResponderEliminar

Arquivo do blogue

Seguidores

Economista

A minha foto
Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.