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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Os bancos centrais são os principais responsáveis pelas crises financeiras

A crise financeira de 2008, bem como a de 1929 e outras tiveram na sua génese uma política monetária inflacionista/expansionista encetada pelas autoridades monetárias, que ao manipularem as taxas de juro de 6% em 2000 para 1% em 2003, criando uma falsa poupança, e crédito barato, levaram à duplicação do preços das casas nos EUA, e não só, de 2003 a 2006. Quando a Reserva Federal sobe as taxas de 1% para 5%, nesse período de 2003 a 2006, os agentes económicos começaram a não ter meios para pagar as suas prestações e os preços das casas caem. A falência e a crise surgem...
Já em 1929 tinha acontecido o mesmo. Em 1921 a taxa de juro da FED de Nova Iorque era de 7% e em 1925 era de 2.5%. No final de 1929 já se encontrava de novo nos 6%.

Voilá, nascem as crises... E têm como principais e únicos culpados os bancos centrais que mais não são que braços armados dos Estados. Apesar dos Estados, hoje em dia, não poderem ser financiados directamente pelos bancos centrais, as operações de cedência de liquidez aos mercado pelos bancos centrais são efectuadas com títulos da dívida pública. Os bancos (OIM - Outras Intituições Monetárias, além do BC - Banco Central) têm que adquirir os títulos de dívida, como por exemplo obrigações do tesouro, aos Estados, e financiar estes últimos, para poderem dar como garantia ao Banco Central e obter financiamentos e nova moeda junto da autoridade monetária. A dívida pública é a única que serve como colateral, garantia para os bancos terem dinheiro do banco central. Então, indirectamente os bancos centrais mais não fazem do que financiarem as dívidas dos Estados, com a intermediação dos bancos (as chamadas OIM, Outras Intituições Monetárias).

Muitos filmes e documentários foram realizados sobre a crise financeira de 2008. O "Inside Job" é um dos mais conhecidos e bastante factual e realista, no entanto conta a história do meio para a frente. Como numa ecografia feita no 4º mês de gestação, o "Inside Job" nada refere a respeito dos primeiros 4 meses. Quem são os progenitores? Quando foi a concepção e quem esteve nela?

Em 1929, os carros nas fábricas norte-americanas ficaram na linha de produção. Existiu uma crise de superprodução? Não, porque a maior parte das pessoas não tinha automóvel e os bens económicos são escassos. Os carros não tiveram compradores devido ao desfasamento entre a poupança e a política monetária do Banco Central dos EUA. As autoridades tentaram travar a queda do IPC através da manutenção dos salários nominais. Esta política redundou no aumento de desemprego e na falência das empresas via aumento dos custos laborais reais. Uma descida dos salários nominais teria resolvido a crise... No entanto as autoridades optaram por políticas económicas expansionistas, quer orçamental, quer monetária. Com aumento de impostos, protecionismos (quem não importa, também não consegue exportar porque os outros países não arrecadam receitas).

Também se parte do princípio que o consumo é o motor da economia, no entanto é o engenho do ser humano que cria as necessidades das pessoas. Foi a invenção da roda que libertou recursos humanos para funções com maior valor acrescentado. Há 30 anos atrás, antes de aparecer o smartphone, as pessoas passavam bem sem ele. Hoje em dia é um produto de 1ª necessidade. Quem criou a necessidade do automóvel? O consumidor ou o talento e a curiosidade do empreendedor?

A massa monetária (controlada pelos bancos através dos DOrdem e os DPrazo) é sempre mais ou menos proporcional à base monetária (moeda em circulação + reservas legais). A base monetária é controlada pelos bancos centrais. Estes intervêm na economia, quando deveriam supervisioná-la. A base monetária, da Zona Euro, aumentou de 350 mil milhões de euros em 2005 para 840 mil milhões de euros em 2013 e nesse mesmo período o M2 (DPrazo+DOrdem+Base Monetária), dinheiro criado pelos bancos aumentou de 4 biliões para 9 biliões de euros. O que se pode induzir daqui é que os bancos só têm a moeda e a cedência de crédito de acordo com a vontade dos bancos centrais. Obviamente, se os bancos centrais descerem muito as taxas de juro, os bancos vão ter mais possibilidades de vender crédito, pois está mais barato. Qual é o negócio que não tenta vender o máximo do seu produto? Sejam automóveis, roupa ou crédito à habitação. Só compra o produto quem quer...
São sempre os bancos centrais que influenciam a circulação do dinheiro. Os bancos centrais criam falsa poupança. Taxas de juro dadas pelos bancos centrais não espelham a realidade do mercado, as necessidades dos agentes económicos, mas apenas uma planificação da economia por parte de alguns "iluminados".

Tudo depende das preferências temporais das pessoas. A própria formação das taxas de juro - se não existisse uma taxa de referência dada pelo Banco Central - seria exclusivamente encontrada no mercado, entre a poupança de quem adia o consumo e o uso dessa poupança por quem pede emprestado, para consumir ou investir. Quanto menor for a poupança, mais elevada será a taxa de juro, e vice-versa.

O BCE, o BoJ, o BoE fizeram o mesmo. Estavam aqui os principais ingredientes para um cocktail económico explosivo e uma recessão profunda. No entanto foi o "neoliberalismo" que ficou com a fama... Tem as costas larguíssimas o dito "invisível neoliberalismo".

Apóstila: O mesmo Coquetel explosivo está outra vez a ser preparado há 2 anos com os Quantitative Easings (QE) nos EUA, os LTRO's do BCE, as significativas políticas monetárias expansionistas do BoE e do Banco of Japão.

Paulo Monteiro Rosa, economista, 1 de Maio de 2014

1 comentário:

  1. A diferença de taxas de juro entre o que os bancos comerciais exigem aos estados com dificuldades de liquidez e o que efectivamente pagam ao banco central, quando estes recebem o mesmo activo financeiro como garantia de novos empréstimos, justifica-se?
    Será que se aceita como garantia um activo incerto, ou melhor dizendo a banca comercial olha para o banco central e ele diz que é de confiança, enquanto contradiz o estado com desconfianças. Toda a gente sabe que a relação banca comercial - estados é efectuada através do mercado -mais do que um banco a fazer avaliação das incertezas- e que aí se justifica todo o tipo de spreads em relação a montante.
    E quando os bancos comerciais estão também em má situação financeira como os estados?
    É o mesmo estado em dificuldades que cede liquidez aos bancos privados, para que com a garantia do pagamento de impostos, que outra senão essa, facilitar a vida a bancos nacionais e justo será dizer que foram bem remuneradas.



    As crises têm origem sempre em desequilíbrios e a facilidade com que podem ser revertidos, os desequilíbrios na avaliação de rendibilidades são os mais frequentes e nisso a banca, utiliza toda a vocação para a ilusão com primor. As inovações técnicas não chegam para a demanda de sucesso, que é exigido pelas inovações financeiras mais as actividades corriqueiras de engenharia económica.

    Em 1929, a resposta à crise foi deixar ao abandono as forças de mercado, ajustamento pela via dos preços, quem tinha dinheiro com mais ficou, quem não o tinha ou devia dinheiro, ficou sem nada. Essa explicação que o senhor dá é como o outro que diz, o remédio é bom mas não chega para as necessidades, dê-se mais remédio!!!


    E no padrão Ouro, uma mudança de taxas de câmbio, para dar um encosto ao comércio internacional, tornou-se impraticável, pois, o ganho de ouro de uns é a perda de outros e se houver apropriação por um país de todo o ouro, pela pujança comercial, os países pobres ficam sem Ouro quer para o comércio, quer para lastro da moeda interna. Estava-se a ver
    os USA a desfazerem-se do Ouro -aumento do consumo-, ou os países menos avantajados a baixarem a sua taxa de câmbio relativamente a parceiros comerciais, sem entrarem em espirais deflacionárias!!!

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.