A 6 de janeiro deste ano, o governo alemão realizou uma emissão de
obrigações com maturidade a 10 anos, no montante de 5 mil milhões de
euros, com um cupão de 0,50% (ou seja, comprometeu-se a pagar anualmente
uma taxa de juro de 0,50%). Neste momento essa obrigação cota a 103,5, e
quem comprou estes títulos em janeiro já tem uma mais-valia potencial
de 3,5%. Este é um dos principais motivos que move os investidores para
continuarem a comprar obrigações, sempre com o objetivo de ganhar mais
um pouco. É verdade que o upside, o espaço para subir, é cada vez menor
mas os investidores não desistem. O mercado obrigacionista, enquanto o
Banco Central Europeu (BCE) continuar a comprar obrigações do tesouro,
só terá um sentido: o da compra.
Se esta obrigação do tesouro
alemã valorizar até os 106 corresponder-lhe-á uma rentabilidade (yield)
negativa de -0.1%. E se porventura atingir os 108 já estamos a falar de
uma yield negativa de -0.3%. É pertinente salientar que a taxa de juro
dos depósitos, de absorção de liquidez, do BCE é de -0.2%. Se a taxa de
juro alemã a 10 anos subir para 1%, a cotação desta obrigação desce para
95. Se subir para cerca de 1.5% a cotação desce para 90, ou seja uma
perda de 10% face à emissão e de 14% face aos valores atuais. É pouco
provável que tal aconteça no curto-médio prazo devido à atuação do BCE,
que compra mensalmente 60 mil milhões de euros de obrigações em mercado
secundário. Mas no longo prazo esta correção poderá ser inevitável…
A obrigação do tesouro portuguesa, a 2 anos, está com uma rentabilidade
(yield) de 0.1%, muito perto de entrar em terreno negativo. A
referência dessa OT a 2 anos é a obrigação com maturidade a 15 de
outubro de 2016 e cupão de 4,2%. Com o pagamento de 28% de IRS, de taxa
liberatória, o juro líquido a receber anual é de 3,02%, e em ano e meio
(3.02%+1.51%) é de 4.53%. Ou seja, como a obrigação cota a 106, na
maturidade o investidor só irá receber 100, logo a rentabilidade (yield)
líquida desta aplicação, hoje, não será de 0,1%, mas negativa de cerca
-1,5% [4.53%+100%-106%] se tivermos em conta a fiscalidade e caso o
investidor não tenha mais-valias noutros títulos para compensar a
menos-valia. Se for um investidor conservador e só tiver esta
obrigação em carteira, as notícias não são as melhores.
É
normal encontrar investidores que em função do maior risco associado às
ações e perante o seu perfil mais conservador só emprestam e não entram
nos capitais próprios das empresas. Só adquirem obrigações ou depósitos a
prazo e não compram ações.
O principal risco que assombra os
mercados financeiros é a provável bolha que está a ser criada nos
mercados obrigacionistas, nomeadamente nas obrigações do tesouro, mas
também nas das empresas. Apesar da subida recente, os investidores
compram com o intuito de vender mais alto. Como a tendência é de alta,
os investidores continuam a comprar. Este comportamento recorda-nos
outras épocas de bolhas maduras formadas, como o caso das dotcom em
1999, ou o que se passou em 1736 na "crise das tulipas". Os últimos a
entrar irão absorver todo o choque da correção.
Quando chegar o
ajustamento das obrigações, as taxas de juro vão subir e retirar
atratividade às rentabilidades das ações, originando uma correção
significativa dos mercados acionistas, dos mercados financeiros como um
todo e por arrasto da economia real. A receita que está a ser utilizada
pelo BCE poderá redundar numa nova crise financeira de dimensões
parecidas com a de 2008.
http://www.fundspeople.pt/pessoas/paulo-monteiro-rosa-53196/blog/bolha-das-obrigacoes-31939
http://mises.org.pt/posts/artigos/bolha-das-obrigacoes/
Paulo Monteiro Rosa, economista.
In Vida Económica, 30 de abril de 2015.
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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