O relatório do emprego nos EUA, divulgado normalmente na primeira sexta-feira de cada mês, é consensualmente considerado o dado macroeconómico mais importante da economia norte-americana. Esse dado influencia, quase em exclusivo, a política monetária da Reserva Federal (FED), a par das vendas a retalho. Na última sexta-feira, a 3 de junho, foram divulgados os dados de maio e, apesar da taxa de desemprego ter descido para os 4.7%, o dado que os analistas mais valorizaram foi sobre a capacidade da economia gerar emprego. A criação de postos de trabalho, excetuando os empregos agrícolas pela sua sazonalidade, registou o valor mais baixo desde setembro de 2010. Em maio, nos EUA, foram criados apenas 38 mil postos de trabalho. Um dos items de maio que teve uma queda significativa foi a criação de emprego no sector privado.
As
recessões nos EUA, nos últimos 35 anos, têm acontecido sempre que se
inicia um novo ciclo político. Podemos inferir que as recessões são
influenciadas pelos ciclos políticos? Empiricamente isso é observado,
mas não podemos dizer que é algo mais que mera coincidência. É um facto
que as decisões dos "independentes" bancos centrais encerram em si mesmo
dinâmicas que influenciam a economia. E um novo ciclo político também
traz consigo novas políticas…
A
última recessão nos EUA teve início em 2008, coincidindo com a entrada
do novo inquilino na Casa Branca, o democrata Obama, e durou um ano e
seis meses, a mais longa desde a grande depressão de 1929. Os EUA vinham
de uma profunda crise do imobiliário norte-americano, o "sub-prime", e
acabariam por contagiar o resto do mundo. George W. Bush chegou à
presidência a 20 de janeiro de 2001 e o país entrou em recessão em março
de 2001 até novembro. A queda da bolsa durou até outubro de 2002,
provocada pela bolha das "dotcom" e pelo ajustamento económico em
virtude da exuberante política monetária expansionista, de Alan
Greenspan. Em 1992, quando Bill Clinton chegou ao poder, o país ainda
recuperava da recessão de 1991/1992. Seis meses depois de Ronald Reagan
ter sido empossado, em janeiro de 1981, assistimos a um período de
recessão de julho de 1981 a novembro de 1982. No pós-guerra, a partir de
1945, o tempo médio de uma recessão foi de meio ano.
As
últimas quatros recessões no EUA coincidiram com as eleições e mudanças
de ciclos políticos. Em todas elas vemos períodos longos de políticas
inflacionistas encetadas pelo banco central norte-americano, a FED, que
gera bolhas nos ativos financeiros e imobiliário que inundam a economia
de dinheiro e geram ciclos económicos enviesados que mais tarde são
obrigatoriamente ajustados. As eleições são sempre na primeira
terça-feira de novembro e este ano... há eleições para a nova
administração dos EUA!
Os
futuros sobre a probabilidade de subidas de taxas de juros da FED ("FED
Fund rates") negociados na bolsa de Chicago (Chicago Mercantile
Exchange) desceram abruptamente, após a divulgação dos dados do emprego
de maio. A probabilidade de subida de taxa de 0.5% para 0.75% na próxima
reunião da FED, a 15 de junho, desceu para 5.6%... a probabilidade de
manutenção de taxas é de 94.4%. O euro subiu dos 1.1150 para 1.1350 face
ao dólar (os denominados, na gíria da negociação cambial de Forex, 200
pip´s ou 2 figuras). Também as expetativas e decisões dos
administradores da FED, medidas pelos famosos pontos, deverão, em breve,
refletir uma manutenção das taxas. Caso o mercado de trabalho continue a
mostrar dados fracos, então uma recessão nos EUA poderá ser mesmo uma
realidade. São já oito anos de expansão económica e outros tantos de
subidas das bolsas norte-americanas.
Caso
entrem recessão, então a bolsa e a frágil economia portuguesa, que
quase não recuperaram nada nos últimos 15 anos, passarão por tempos
difíceis, nomeadamente ao nível do financiamento mais elevado com a
subida das rentabilidades, "yields", dos títulos de dívida soberanos
portugueses, a refletir a queda das cotações das Obrigações do Tesouro
(OT) nacionais.
Paulo Rosa, Jornal "Vida Económica", 9 de junho 2016
Paulo Rosa, Jornal "Vida Económica", 9 de junho 2016