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quinta-feira, 9 de junho de 2016

OS CICLOS POLÍTICOS E AS RECESSÕES

O relatório do emprego nos EUA, divulgado normalmente na primeira sexta-feira de cada mês, é consensualmente considerado o dado macroeconómico mais importante da economia norte-americana. Esse dado influencia, quase em exclusivo, a política monetária da Reserva Federal (FED), a par das vendas a retalho. Na última sexta-feira, a 3 de junho, foram divulgados os dados de maio e, apesar da taxa de desemprego ter descido para os 4.7%, o dado que os analistas mais valorizaram foi sobre a capacidade da economia gerar emprego. A criação de postos de trabalho, excetuando os empregos agrícolas pela sua sazonalidade, registou o valor mais baixo desde setembro de 2010. Em maio, nos EUA, foram criados apenas 38 mil postos de trabalho. Um dos items de maio que teve uma queda significativa foi a criação de emprego no sector privado.

As recessões nos EUA, nos últimos 35 anos, têm acontecido sempre que se inicia um novo ciclo político. Podemos inferir que as recessões são influenciadas pelos ciclos políticos? Empiricamente isso é observado, mas não podemos dizer que é algo mais que mera coincidência. É um facto que as decisões dos "independentes" bancos centrais encerram em si mesmo dinâmicas que influenciam a economia. E um novo ciclo político também traz consigo novas políticas…

A última recessão nos EUA teve início em 2008, coincidindo com a entrada do novo inquilino na Casa Branca, o democrata Obama, e durou um ano e seis meses, a mais longa desde a grande depressão de 1929. Os EUA vinham de uma profunda crise do imobiliário norte-americano, o "sub-prime", e acabariam por contagiar o resto do mundo. George W. Bush chegou à presidência a 20 de janeiro de 2001 e o país entrou em recessão em março de 2001 até novembro. A queda da bolsa durou até outubro de 2002, provocada pela bolha das "dotcom" e pelo ajustamento económico em virtude da exuberante política monetária expansionista, de Alan Greenspan. Em 1992, quando Bill Clinton chegou ao poder, o país ainda recuperava da recessão de 1991/1992. Seis meses depois de Ronald Reagan ter sido empossado, em janeiro de 1981, assistimos a um período de recessão de julho de 1981 a novembro de 1982. No pós-guerra, a partir de 1945, o tempo médio de uma recessão foi de meio ano.

As últimas quatros recessões no EUA coincidiram com as eleições e mudanças de ciclos políticos. Em todas elas vemos períodos longos de políticas inflacionistas encetadas pelo banco central norte-americano, a FED, que gera bolhas nos ativos financeiros e imobiliário que inundam a economia de dinheiro e geram ciclos económicos enviesados que mais tarde são obrigatoriamente ajustados. As eleições são sempre na primeira terça-feira de novembro e este ano... há eleições para a nova administração dos EUA!

Os futuros sobre a probabilidade de subidas de taxas de juros da FED ("FED Fund rates") negociados na bolsa de Chicago (Chicago Mercantile Exchange) desceram abruptamente, após a divulgação dos dados do emprego de maio. A probabilidade de subida de taxa de 0.5% para 0.75% na próxima reunião da FED, a 15 de junho, desceu para 5.6%... a probabilidade de manutenção de taxas é de 94.4%. O euro subiu dos 1.1150 para 1.1350 face ao dólar (os denominados, na gíria da negociação cambial de Forex, 200 pip´s ou 2 figuras). Também as expetativas e decisões dos administradores da FED, medidas pelos famosos pontos, deverão, em breve, refletir uma manutenção das taxas. Caso o mercado de trabalho continue a mostrar dados fracos, então uma recessão nos EUA poderá ser mesmo uma realidade. São já oito anos de expansão económica e outros tantos de subidas das bolsas norte-americanas.

Caso entrem recessão, então a bolsa e a frágil economia portuguesa, que quase não recuperaram nada nos últimos 15 anos, passarão por tempos difíceis, nomeadamente ao nível do financiamento mais elevado com a subida das rentabilidades, "yields", dos títulos de dívida soberanos portugueses, a refletir a queda das cotações das Obrigações do Tesouro (OT) nacionais.

Paulo Rosa, Jornal "Vida Económica", 9 de junho 2016

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