Há um ano que o S&P500 não
tem uma correção de 5%, facto que não acontece desde 1995, e desde 1950 só se
verificou seis vezes. As expectativas dos analistas de Wall Street continuam
otimistas e esperam um crescimento dos ganhos das empresas entre 6 e 7% no trimestre.
A volatilidade do S&P500, medida pelo VIX, cota atualmente nos 9.50 pontos é
dos valores mais baixos de sempre. Porém, é plausível que este comportamento
não se prolongue por muito mais tempo sem uma correção…
O emagrecimento gradual do balanço da Reserva Federal norte-americana e a subida das taxas de juro, que vêm sendo anunciados pela presidente do Banco Central dos EUA Yellen Janet, hão-de pressionar o crédito concedido e a conceder, retraindo a tomada de empréstimos para novos investimentos e forçando o aumento dos encargos financeiros das empresas, via subida das taxas de juro, que já têm bastante crédito em carteira. O malparado poderá aumentar. Também é verdade que passam a existir mais alternativas à poupança, com taxas de juro mais atrativas, o que pode condicionar e diminuir o investimento por esta via. A política monetária “loosening” ou expansionista da FED já terminou há 4 anos e o seu discurso “dovish” de 2008 a 2013 há muito que foi substituído por um “hawkish”.
O Banco Central Europeu, através do seu presidente Mário Draghi avisou na semana passada, que está preparado para começar a assumir uma postura menos expansionista, e quiçá mais tarde mesmo um discurso mais “hawkish” e uma política monetária “tightening”, (contracionista) através do aumento da taxa de juro e diminuição do seu balanço. Tal não deverá acontecer no curto prazo devido à “japonização” da economia da Zona Euro, nomeadamente no que concerne à inversão da pirâmide demográfica.
No entanto, a volatilidade das bolsas tecnológicas, já há mais de um mês, tem aumentado e os índices têm cedido terreno. O Nasdaq100 no início de julho perdia mais de 5% em relação ao máximo verificado a 9 de junho. Na sessão de segunda-feira, um dos principais índices tecnológicos mundiais e o mais importante na China, o Shenzhen Compósito perdeu 4.3%. Este índice acumula uma perda de 9% desde o início do ano e de 11% nos últimos 12 meses.
É normal que a volatilidade desça em momentos de subida paulatina das bolsas, caracterizados por ganhos ligeiros – entre 0.1% e 0.5% - e durante várias sessões consecutivas, que podem muitas vezes chegar a ultrapassar uma dezena de dias de negociação. Uma regra de ouro dos mercados está aqui bem patente: “não se deve cortar ganhos”.
Os detentores de títulos vão segurando as suas ações em carteira, enquanto os compradores vão seguindo a velha máxima de acompanhar a tendência de subida e vão comprando, ainda que cada vez mais renitentes e receosos de uma correção. Por isso as subidas são ligeiras.
A volatilidade tende a subir durante períodos de queda das cotações, espelhando o comportamento dos investidores que pressionam a venda de títulos com receio de que continuem em queda perante a ausência de compradores que esperam uma entrada a preços mais baixos, e refletindo uma das regras da bolsa: quando o mercado está a cair, no caso do vendedor, “cortar perdas” e assumir uma posição de venda, e quanto ao comprador “não ir contra a tendência” e deixar descer.
A volatilidade aumenta porque esta movimentação dos compradores e vendedores amplifica bastante as quedas, porque existem muitos vendedores e poucos compradores. Maior propensão à venda e menor apetência para realizar compras.
Paulo Monteiro Rosa, In "Vida Económica" 21 de julho 2017