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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Repensar os mercados perante um "bull market" duradouro


Após subidas muito rápidas e exponenciais, como foram as do início do ano 2017, um verdadeiro "efeito janeiro", os mercados registaram nos últimos dias fortes quedas que já não se observavam há bastante tempo. Para já, o "bull market" continua, apesar de muitos sinais de exaustão. As subidas das bolsas norte-americanas têm sido exponenciais nos últimos meses, algo que é insustentável no médio/longo prazo. A subida das rentabilidades das obrigações do Tesouro — as "bunds" alemãs e das "Treasuries" norte-americanas a 10 anos - devido ao receio de um aumento da inflação e subida das taxas de juro, acabou por ser uma justificação, ou mesmo um pretexto, para uma correção há muito aguardada...

O "bull market" permanece, apesar de o sentimento do mercado ser negativo no início de fevereiro, algo que não se verificava desde junho de 2016. No entanto, as bolhas (os preços dos ativos bastante acima do seu valor real) vão-se agudizando em vários mercados, desde o acionista ao obrigacionista, passando pelo imobiliário e dívidas soberanas. A política orçamental expansionista dos EUA forneceu o "combustível" necessário para a manutenção deste longo "bull market". No final do milénio passado assistimos a um "bull market" de 8 anos, o que levou muitos investidores e analistas a garantir que os ciclos económicos tinham acabado e que não haveria lugar a recessões e correções nas bolsas. O mesmo acontece hoje em dia. Mas as contas públicas norte-americanas voltam a estar desequilibradas, com o agravamento do défice orçamental.

Os balanços dos principais bancos centrais precisam, mais cedo ou mais tarde, de um saneamento, depois de acumularem ativos, alguns com uma solvabilidade creditícia algo duvidosa, durante vários anos, com os programas de compras de ativos, designadamente através dos "Quantitative Easings". O Dow Jones desceu quase 2,6% a 2 de fevereiro, a maior queda desde junho de 2016. Na segunda-feira, 5 de fevereiro, perdeu 4,6%, depois de ter estado a cair 6,3%, a maior queda desde agosto de 2011. A volatilidade medida pelo índice norte-americano VIX atingiu os 50 pontos nesse mesmo dia, algo que não acontecia desde agosto de 2015. Mas uma andorinha não faz a primavera, e serão precisas mais quedas significativas para validar uma mudança de tendência, e dar início a um "bear market" nas principais bolsas mundiais.

Este pode ser o primeiro sinal de exaustão do mercado nos últimos dois anos, desde a queda das bolsas chinesas, e os investidores não devem ficar alheios a estes sinais de alerta para não serem apanhados no meio de uma verdadeira e forte correção dos mercados e inversão de tendência para negativa, que irá acontecer mais cedo ou mais tarde. O PSI-20 perdeu mais de 9% desde as últimas sessões de janeiro, algo que não acontecia desde o dia da votação do "Brexit-, em junho de 2016, anulando todos os ganhos do primeiro mês do ano. Até 6 de fevereiro, o BCP caiu cerca de 16%, depois de seis sessões consecutivas a perder, numa tomada de mais-valias por parte dos investidores após um fulgurante início do ano com ganhos de mais de 20%. O maior banco privado português há um ano que não registava uma queda tão rápida e desta dimensão.

Na passada segunda-feira, já apelidada de negra, assistimos a um significativo "sell-off" nas praças norte-americanas, que se repercutiu nas restantes principais praças mundiais. Bastaram algumas palavras como "panic sell", "sell-off", "stop loss" nas notícias para os algoritmos dispararem as vendas e amplificarem a queda. Contas suportadas por crédito foram obrigadas a vender e as ordens de "stop loss" foram ativadas.

Paulo Rosa, Vida Económica, 9 de fevereiro 2018



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.