Das várias correntes
económicas, há quatro principais: o Marxismo, que defende uma intervenção quase
plena do Estado; o Keynesianismo, que postula a intervenção do Estado em
momentos de crise, quer ao nível monetário, através dos bancos centrais, quer
ao nível orçamental, através dos orçamentos elaborados pelos governos; a Escola
de Chicago ou monetarista que tem uma visão quase exclusivamente monetária dos
fenómenos económicos; e a Escola Austríaca que advoga o livre mercado e a
ausência do Estado em vários domínios económicos e sociais. Os apologistas
desta escola têm alertado há muitos anos para a necessidade do reequilíbrio da
política monetária, isto é, do balanço dos bancos centrais.
Defendem que as taxas de juro, e a sua formação, devem estar menos dependentes
das decisões dos bancos centrais e mais próximas do mercado. As taxas de juro
devem refletir as preferências temporais dos agentes económicos entre poupar,
consumir, investir, antecipar o consumo e recorrer ao crédito cedido pelos que
poupam. Só assim se encontra uma taxa de juro equilibrada e fidedigna.
Ewald Nowotny, presidente do Banco Central Austríaco, e um dos membros mais influentes do BCE, apesar de pertencer ao Partido Social Democrata da Áustria que é de centro esquerda, não deixa de ter uma cultura germânica baseada na poupança e na estabilidade monetária. A 10 de abril Nowotny referiu que era a hora de normalizar a política monetária e que o BCE deveria subir a taxa de juro dos depósitos em 20 pontos base de -0.40% para -0.20%, e apresentar, nos próximos meses, a forma como vai reduzir o programa de estímulo de 2,5 biliões de euros utilizados nos últimos três anos e que quadruplicaram o balanço do BCE.
Foi o primeiro sinal de restabelecimento da política monetária da Zona Euro, com a alteração para uma política contracionista ("tightening") e a redução ou eliminação dos estímulos monetários que permanecem em 30 mil milhões de euros mensais. O Euro subiu de imediato e desceu horas depois, após o porta voz do BCE ter vindo garantir que as palavras de Dowotny tinham sido a título pessoal e não vinculavam o BCE. As obrigações, nomeadamente do tesouro, também reagiram a estas palavras, e a curva de rendimentos será certamente redesenhada num futuro próximo.
Houve uma desautorização das palavras de Ewald Dowotny? Não parece, bem pelo contrário! Este pode ter sido o primeiro sinal de inversão da política monetária do BCE depois de quase 10 anos de política monetária expansionista.
É a Escola Austríaca e o Ordoliberalismo a pressionarem. Mas a corrente Keynesiana, dominante há mais de 70 anos, continua a adiar o ajustamento da política monetária do BCE. Os germânicos da Alemanha e da Áustria são apologistas de equilíbrios monetários via mercado, em detrimento das decisões de taxas por um grupo restrito de pessoas.
Porém, os mediterrânicos, como a Itália (na figura do presidente do BCE, Mário Draghi) e a Espanha defendem o poder quase exclusivo dos bancos centrais na decisão sobre políticas monetárias, no que respeita aos reequilíbrios e estabilidade dos mercados financeiros (na vertente de curto prazo, o mercado monetário; e na vertente de longo prazo, ativos superiores a um ano, o mercado de capitais).
Axel Weber, economista alemão, abdicou de suceder a Trichet na presidência do BCE, em 2010, quando soube que as políticas monetárias que seriam adotadas para ultrapassar a crise financeira de 2008 e das dívidas soberanas em 2010 iriam contra a sua doutrina económica e não resolveriam os problemas financeiros no longo prazo, mas talvez apenas no curto prazo. Comprar tempo sempre foi uma estratégia preferida de quem faz política…
Paulo Rosa, In "Vida Económica", 20 de abril de 2017
Ewald Nowotny, presidente do Banco Central Austríaco, e um dos membros mais influentes do BCE, apesar de pertencer ao Partido Social Democrata da Áustria que é de centro esquerda, não deixa de ter uma cultura germânica baseada na poupança e na estabilidade monetária. A 10 de abril Nowotny referiu que era a hora de normalizar a política monetária e que o BCE deveria subir a taxa de juro dos depósitos em 20 pontos base de -0.40% para -0.20%, e apresentar, nos próximos meses, a forma como vai reduzir o programa de estímulo de 2,5 biliões de euros utilizados nos últimos três anos e que quadruplicaram o balanço do BCE.
Foi o primeiro sinal de restabelecimento da política monetária da Zona Euro, com a alteração para uma política contracionista ("tightening") e a redução ou eliminação dos estímulos monetários que permanecem em 30 mil milhões de euros mensais. O Euro subiu de imediato e desceu horas depois, após o porta voz do BCE ter vindo garantir que as palavras de Dowotny tinham sido a título pessoal e não vinculavam o BCE. As obrigações, nomeadamente do tesouro, também reagiram a estas palavras, e a curva de rendimentos será certamente redesenhada num futuro próximo.
Houve uma desautorização das palavras de Ewald Dowotny? Não parece, bem pelo contrário! Este pode ter sido o primeiro sinal de inversão da política monetária do BCE depois de quase 10 anos de política monetária expansionista.
É a Escola Austríaca e o Ordoliberalismo a pressionarem. Mas a corrente Keynesiana, dominante há mais de 70 anos, continua a adiar o ajustamento da política monetária do BCE. Os germânicos da Alemanha e da Áustria são apologistas de equilíbrios monetários via mercado, em detrimento das decisões de taxas por um grupo restrito de pessoas.
Porém, os mediterrânicos, como a Itália (na figura do presidente do BCE, Mário Draghi) e a Espanha defendem o poder quase exclusivo dos bancos centrais na decisão sobre políticas monetárias, no que respeita aos reequilíbrios e estabilidade dos mercados financeiros (na vertente de curto prazo, o mercado monetário; e na vertente de longo prazo, ativos superiores a um ano, o mercado de capitais).
Axel Weber, economista alemão, abdicou de suceder a Trichet na presidência do BCE, em 2010, quando soube que as políticas monetárias que seriam adotadas para ultrapassar a crise financeira de 2008 e das dívidas soberanas em 2010 iriam contra a sua doutrina económica e não resolveriam os problemas financeiros no longo prazo, mas talvez apenas no curto prazo. Comprar tempo sempre foi uma estratégia preferida de quem faz política…
Paulo Rosa, In "Vida Económica", 20 de abril de 2017