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sexta-feira, 4 de maio de 2018

A BOLHA DO IMOBILIÁRIO 10 ANOS DEPOIS

Nos EUA, em abril, os contratos promessa de venda de casas caíram pelo 4º mês consecutivo. Segundo os promotores imobiliários, o clima é o principal fator que tem penalizado as vendas, como os fortes nevões registados em várias partes dos EUA. No entanto, desde meados de 2016 o mercado imobiliário - tal como refletido no indicador mais importante, os contratos promessa - tem mostrado uma crescente e indisfarçável fraqueza.  

A conjuntura económica continua favorável e vai alimentando a procura pela compra de casa num nível considerável, mas nem todos os compradores podem assinar contratos por causa da falta de opções no stock de casas. As licenças para a construção de casas têm subido consecutivamente desde os mínimos de 500 mil licenças, registados em 2009, e refletem a papel químico o comportamento do mercado acionista norteamericano, nomeadamente o S&P500. Atualmente há 1,4 milhões de licenças, quase três vezes mais que em 2009, mas ainda aquém dos máximos alcançados nos 2,25 milhões de licenças antes da crise do imobiliário norte-americano em 2008.

Porém os preços das casas já se encontram junto aos máximos históricos verificados em 2006, o que se reflete no aumento da inflação nos EUA, para além da subida da cotação do petróleo para máximos dos últimos 4 anos, em dezembro de 2014. A inflação dos EUA está nos 2.1% e é, neste momento, o principal móbil para a subida de taxas de juro por parte da Reserva Federal norteamericana, o que por sua vez pode espoletar a correção dos mercados financeiros, designadamente a vertente acionista, que sobe há nove anos consecutivos. Caso as taxas de juro de longo prazo cheguem aos 4% ou 4.5%, não é de excluir a hipótese de gerar uma estagnação ou recessão.
A rentabilidade atual das obrigações do tesouro a 10 anos está nos 2.95%.

É cada vez mais difícil encontrar uma casa acessível para comprar.
Mais casas novas ou disponíveis para venda nos próximos meses poderiam servir também para moderar o crescimento dos preços.
Porém, "gato escaldado da água fria tem medo" e os investidores não aumentam a oferta porque se lembram bem da crise de 2008.
Ainda há casas dessa altura por vender e, além disso, as bolhas nos mercados imobiliários formam-se depressa e arrasam vários setores da economia de um dia para outro.

Os investidores e construtores civis permanecem sob "aviso amarelo" desde a crise financeira de 2008, que teve origem na excessiva construção e venda de casas a pessoas que não tinham qualquer possibilidade de a pagar quando as taxas de juro começaram a subir.
Acresce que compra de casa vai contribuir para o crescente endividamento das famílias que serão penalizadas com a atual subida das taxas de juro.

Em Portugal temos verificado uma subida moderada do preço do imobiliário nos últimos anos, principalmente desde 2016. Mas nas duas principais cidades do país, o preço das casas tem subido vertiginosamente impulsionado pelo crescimento exponencial do turismo. Para já, em Lisboa e no Porto assistimos a uma subida do preço do imobiliário devido a uma dinâmica diferente de muitas outras geografias internacionais, onde os preços começam a atingir valores estratosféricos e em alguns casos podemos mesmo avançar que existe uma bolha porque o preço a que o imóvel é vendido não corresponde ao real valor, àquilo que, por exemplo, se pode retirar dele através de um arrendamento…

Na Baixa do Porto pedem 240.000 euros por imóveis com 35m2, restaurados, em prédios antigos sem elevador. Quando o valor da exposição alavancada (a média do investimento imobiliário atual dos residentes) excede o retorno esperado e a utilidade desse ativo, sabemos o que pode acontecer se existir um choque exógeno.

Paulo Monteiro Rosa, In "Vida Económica", 4 de maio de 2018 


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.