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segunda-feira, 4 de junho de 2018

O SUL DA EUROPA, OUTRA VEZ


Depois de Itália, agora é a Espanha a adensar os problemas políticos na Zona Euro. O partido "Ciudadanos" pede eleições antecipadas e o PSOE apresenta uma moção de censura contra o governo do PP liderado por Mariano Rajoy.

Só nos primeiros dois dias desta semana, a taxa das obrigações do tesouro a 10 anos de Espanha subiu 38 pontos base, de 1,36% para 1,74%. O spread face à divída alemã aumentou significativamente, em 66,5 pontos base, sendo que a taxa da dívida germânica a 10 anos caiu mais de 60%, 28,5 pontos base, de 0,475% para 0,19%. É o habitual refúgio dos investidores que se abrigam da incerteza em obrigações de um país líder e motor da economia da Zona Euro. As obrigações soberanas francesas também servem de refúgio, com a taxa a 10 anos a descer 12%. Já a dívida pública portuguesa a 10 anos luta para sacudir a imagem de mau aluno, impressionando a Comissão Europeia, mas a taxa já subiu 33% para os 2,53%.
O mercado acionista espanhol perdeu 5% e o italiano desceu 6,5%, enquanto as praças de Frankfurt e Paris perdiam pouco mais de 1%. O Deutsche Bank parou as quedas que o deixaram próximo do mínimo histórico e a banca mediterrânica cedeu consideravelmente: o Santander caiu 12%, o BCP 14% e o UniCredit 12% (tendo perdido 23 % desde 14 de maio).

Apesar de o Banco Central Europeu (BCE) continuar com os incentivos, as taxas de juro de longo prazo entre o Norte da Europa e os países periféricos voltaram a divergir. Podemos ler este sinal como uma antecipação do que vai suceder assim que o BCE iniciar uma política monetária contracionista, tal como já acontece nos EUA por parte da FED há mais de três anos. Os investidores voltarão a distinguir as contas públicas dos países da Europa setentrional e da Europa mediterrânica, tal como aconteceu a seguir à crise do "subprime" em 2008. Esta perceção do mercado é bastante negativa para o futuro da Zona Euro e da União Europeia.

As famigeradas eurobonds, obrigações emitidas por um "tesouro europeu", supranacional, existiram implicitamente entre 2000 e 2008, quando as taxas da dívida grega e da alemã eram muito semelhantes. Desde 2015, a política do BCE criou uma convergência artificial das rentabilidades. A verdade é que, sem o BCE, o Sul da Europa não consegue convergir com o Norte da Europa. O Banco Central da Zona Euro é o cimento agregador da frágil integração europeia. O BCE tem conseguido fazer pela Europa aquilo que os governos dos Estados-Membros se recusam a realizar. Os vários executivos da União Europeia, agrilhoados às agendas eleitorais, tentam desviarse dos ajustamentos orçamentais e das dívidas públicas, apesar de o BCE lhes estar a comprar tempo para colocarem as contas públicas em ordem. As dívidas públicas mais elevadas são da Europa Meridional.

Em 2017, face ao PIB, a dívida pública foi de 125% em Portugal, 132% em Itália, 100% em Espanha e 178% na Grécia. Na Alemanha, foi de 64%. A média dos 27 países da UE é de 81%.

É paradoxal que sejam os Bancos Centrais (BC), que muitas vezes estão na génese das crises financeiras, a salvarem Zonas Económicas. Os mercados, e a sua função primordial na determinação das taxas de juro segundo o equilíbrio entre quem poupa e adia o consumo e quem antecipa o investimento ou o consumo e pede emprestado, deveriam sobrepor-se à definição das taxas de juro pelo Banco Central. Que arma utilizará o BCE na próxima crise?

Paulo Rosa, In "Vida Económica", 1 de junho 2018






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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.