No dia 29 de
fevereiro, o sentimento dos empresários chineses do setor transformador,
medido pelo PMI industrial, caiu dos 50 para os 35,7 pontos, o número
mais baixo desde que existe compilação destes valores,
significativamente inferior aos piores números verificados durante a
crise financeira global entre 2008 e 2009, quando este dado se manteve
no intervalo de 38,8 a 45,3 pontos.
Estes registos espelharam fragilidade não apenas na produção, que foi bastante fraca nos 27,8, mas também nas encomendas relativas às exportações que se fixaram nos 28,7. As encomendas domésticas caíram para os 29,3 pontos. As medidas para tentar conter o Covid-19 não interromperam apenas a produção, mas quebraram também a cadeia de produção, o que ajuda a explicar a queda abrupta destes dados.
É provável que a epidemia já tenha atingido o seu ponto de inflexão na China, mas, mesmo que a produção industrial chinesa recupere em março, ainda enfrentará o risco de um nível baixo de encomendas para exportação. Isso ocorre porque a cadeia de abastecimentos continuará fragilizada, uma vez que na Coreia do Sul, no Japão, na Europa e nos EUA o Covid-19 apareceu mais tarde, e provavelmente estes países ainda estão longe do ponto de inflexão. As exportações chinesas continuarão, portanto, fracas no primeiro trimestre e, possivelmente, essa debilidade estender-se-á ao segundo trimestre. Perante estes cenários, a FED desceu extraordinariamente a sua taxa de juro de referência em 50 pontos, dos 1,75% para 1,25%, algo que não acontecia! desde 16 de dezembro de 2008.
Atualmente, segundo os futuros negociados na bolsa de derivados de Chicago, são esperados mais três cortes de taxas: na próxima reunião de 18 de março e com uma amplitude de 25 pontos, um segundo corte na FOMC seguinte, a 29 de abril, de 25 pontos, e um terceiro também de 25 pontos no início do segundo semestre, isto ê, corte total, em 2020, de 125 pontos base, de 1,75%, no início do ano, para 0,50% no final de 2020.
A rentabilidade das obrigações do Tesouro americano a 10 anos cota nos 0,93%, o valor mais baixo de sempre, refletindo a crescente preocupação dos investidores, que apostam em taxas de juro baixas por um longo período de tempo. O anterior valor histórico havia sido de 1,40%, em meados de 2012, quando as "Fed Funds Rate" se encontravam nos valores mais baixos de sempre, entre 0% e 0,25%. Mas, desde o corte da FED, a yield da T-Bond alO anos encontra-se acima da yield daT-BiU (bilhetes do tesouro americano) a três meses, nos 0,85%, não sinalizando recessão económica. Porém, a curva de rendimentos nos EUA é horizontal, indiciando um abrandamento económico. A yield da Gilt alO anos, no Reino Unido, cota em mínimos históricos, nos 0,335%.
A Goldman Sachs prevê agora que o BCE reduza a sua taxa de depósito em 20 pontos até ao final do ano, dos -0,50% para -0,70%, o BoE em 25 ou 50 pontos, o BoJ em 10 pontos, dos atuais -0,10% para -0,2%, o sueco RiskBank de 0% para -0,1% e o Banco Nacional da Suíça de -0,75% para -1%. Será suficiente para que as empresas escapem a um considerável abrandamento?
O meu avô costumava dizer-me que os juros comiam connosco à mesa. Outros tempos, outras realidades. Hoje, os juros ficam à porta da sala de jantar e por vezes servem à mesa!
Os mercados financeiros vão ser alimentados por este reforço de liquidez, e os arivos de risco deverão continuar a beneficiar do efeito TINA (There Is No Altemative).
Podemos, momentaneamente, ter a perceção de que o coronovírus se cura mais depressa com políticas monetárias extremamente expansionistas do que com a procura de uma vacina eficaz. Provavelmente, o vírus causará mais danos à economia do que à saúde pública, e o crescente receio quanto a uma pandemia está a ser potencialmente mais perigoso para a economia do que o vírus irá alguma vez ser. E... em suma, as restrições à circulação de pessoas têm um impacto substancialmente negativo na economia.
Paulo Rosa, In Vida Económica, 6 de março
Estes registos espelharam fragilidade não apenas na produção, que foi bastante fraca nos 27,8, mas também nas encomendas relativas às exportações que se fixaram nos 28,7. As encomendas domésticas caíram para os 29,3 pontos. As medidas para tentar conter o Covid-19 não interromperam apenas a produção, mas quebraram também a cadeia de produção, o que ajuda a explicar a queda abrupta destes dados.
É provável que a epidemia já tenha atingido o seu ponto de inflexão na China, mas, mesmo que a produção industrial chinesa recupere em março, ainda enfrentará o risco de um nível baixo de encomendas para exportação. Isso ocorre porque a cadeia de abastecimentos continuará fragilizada, uma vez que na Coreia do Sul, no Japão, na Europa e nos EUA o Covid-19 apareceu mais tarde, e provavelmente estes países ainda estão longe do ponto de inflexão. As exportações chinesas continuarão, portanto, fracas no primeiro trimestre e, possivelmente, essa debilidade estender-se-á ao segundo trimestre. Perante estes cenários, a FED desceu extraordinariamente a sua taxa de juro de referência em 50 pontos, dos 1,75% para 1,25%, algo que não acontecia! desde 16 de dezembro de 2008.
Atualmente, segundo os futuros negociados na bolsa de derivados de Chicago, são esperados mais três cortes de taxas: na próxima reunião de 18 de março e com uma amplitude de 25 pontos, um segundo corte na FOMC seguinte, a 29 de abril, de 25 pontos, e um terceiro também de 25 pontos no início do segundo semestre, isto ê, corte total, em 2020, de 125 pontos base, de 1,75%, no início do ano, para 0,50% no final de 2020.
A rentabilidade das obrigações do Tesouro americano a 10 anos cota nos 0,93%, o valor mais baixo de sempre, refletindo a crescente preocupação dos investidores, que apostam em taxas de juro baixas por um longo período de tempo. O anterior valor histórico havia sido de 1,40%, em meados de 2012, quando as "Fed Funds Rate" se encontravam nos valores mais baixos de sempre, entre 0% e 0,25%. Mas, desde o corte da FED, a yield da T-Bond alO anos encontra-se acima da yield daT-BiU (bilhetes do tesouro americano) a três meses, nos 0,85%, não sinalizando recessão económica. Porém, a curva de rendimentos nos EUA é horizontal, indiciando um abrandamento económico. A yield da Gilt alO anos, no Reino Unido, cota em mínimos históricos, nos 0,335%.
A Goldman Sachs prevê agora que o BCE reduza a sua taxa de depósito em 20 pontos até ao final do ano, dos -0,50% para -0,70%, o BoE em 25 ou 50 pontos, o BoJ em 10 pontos, dos atuais -0,10% para -0,2%, o sueco RiskBank de 0% para -0,1% e o Banco Nacional da Suíça de -0,75% para -1%. Será suficiente para que as empresas escapem a um considerável abrandamento?
O meu avô costumava dizer-me que os juros comiam connosco à mesa. Outros tempos, outras realidades. Hoje, os juros ficam à porta da sala de jantar e por vezes servem à mesa!
Os mercados financeiros vão ser alimentados por este reforço de liquidez, e os arivos de risco deverão continuar a beneficiar do efeito TINA (There Is No Altemative).
Podemos, momentaneamente, ter a perceção de que o coronovírus se cura mais depressa com políticas monetárias extremamente expansionistas do que com a procura de uma vacina eficaz. Provavelmente, o vírus causará mais danos à economia do que à saúde pública, e o crescente receio quanto a uma pandemia está a ser potencialmente mais perigoso para a economia do que o vírus irá alguma vez ser. E... em suma, as restrições à circulação de pessoas têm um impacto substancialmente negativo na economia.
Paulo Rosa, In Vida Económica, 6 de março
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