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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Tesla imune ao coronavírus?

O alastrar da epidemia coronavírus, nomeadamente a Itália, anulou os ganhos do ano dos mercados acionistas, corrigindo quase 10%, com a volatilidade a aumentar significativamente. O VIX e o VDAX, que cotavam à volta dos 15 pontos, estão agora nos 26 pontos.

As obrigações têm servido de refú
gio, principalmente a Bund alemã, cuja rentabilidade caiu para os -0,53%, indiciando que o mercado não inverteu tendência, apenas existe uma correção espelhada no "flight to quality".

Agudiza-se o diferencial negativo, já observado desde o dia 20 de fevereiro, das rentabilidades da dívida soberana norte-americana a dez anos, cuja yield é de 1,34%, e da yield da T-Bill a 3 meses, que cota nos 1,48%, antecipando recessão económica, um indicador bastante utilizado pela FED para aferir a saúde da economia. Medidas pelos futuros negociados na Bolsa de Chicago, as probabilidades de descida de taxa de juro aumentaram. Para a próxima reunião da FED é agora de 32% a descida e manutenção é de 68%, mas para a seguinte FOMC, dia 29 de abril, a probabilidade de descida é de 64%, contra 36% de manter. O ouro está em máximos desde janeiro de 2013 e o petróleo em mínimos de há um ano.

Porém, uma aldeia povoada por irredutíveis investidores da Tesla ainda resiste ao invasor coronavírus. A Tesla perdeu apenas 35% dos ganhos acumulados desde o início do ano, e valoriza ainda cerca de 85%.

A Tesla superou a Volkswagen em capitalização bolsista e é já a segunda fabricante automóvel mais valiosa, atrás da Toyota, e, mais que uma fabricante tradicional de automóveis, é uma empresa tecnológica. A capitalização bolsista não é suportada pelos seus fundamentais convencionais, mas pelo que o futuro lhe possa reservar. O carro tornar-se-á o "dispositivo móvel" mais importante no futuro, a par do smartphone, com incremento do número dos carros elétricos devido às preocupações com as alterações climáticas.

Uma empregadora de topo, a Tesla é uma empresa ideal para os funcionários devido à sua diversidade e cultura de incentivo à inovação. Ê a empresa automóvel líder no seu segmento em 2019. A Tesla é percebida como tendo os melhores carros elétricos por gama/classe e deixou para trás todas as outras marcas na corrida dos melhores carros elétricos, e a autonomia provou ser superior para cobrir grandes distâncias. A Tesla domina as vendas de veículos elétricos dos EUA e o modelo 3 é o mais vendido em 2019, quase 190 mil unidades. O cross-selling compreende parcerias com seguros como a Liberty, e diversificação das ofertas. Mas o sistema de fabrico bastante complexo é um ponto negativo. Quanto maior o padrão de inovação, maiores serão também as complexidades mecânicas, e quando assim é, há um crescente risco na produção. A Tesla é incapaz de satisfazer todas as encomendas e esse ponto pode afetar o valor da marca. A empresa está subdimensionada para o aumento exponencial das encomendas (também poderá ser visto com um ponto positivo, em caso de crise económica, não ter uma capacidade instalada sobredimensionada).

É pioneira em carros de economia de energia, mas não o consegue fazer com linhas de produção massificadas. Há escassez de baterias, e os caprichos de Elon Musk podem ser prejudiciais.

Curioso é comparar o desempenho muito idêntico da Tesla e da Virgin Galactic, dois títulos muito procurados pelas "mães e pais" norte-americanos, ambas com estelares valorizações numa reduzida janela de tempo. Mas terão já testado a resiliência dos seus modelos de negócio a cenários extremos de incerteza como quebra das cadeias de logística e a redução do apetite pelo risco? 

Paulo Rosa, In Vida Económica, 28 de fevereiro 2020


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.