O alastrar da epidemia coronavírus, nomeadamente a Itália, anulou os ganhos do
ano dos mercados acionistas, corrigindo quase 10%, com a volatilidade a
aumentar significativamente. O VIX e o VDAX, que cotavam à volta dos 15 pontos,
estão agora nos 26 pontos.
As obrigações têm servido de refúgio, principalmente a Bund alemã, cuja
rentabilidade caiu para os -0,53%, indiciando que o mercado não inverteu
tendência, apenas existe uma correção espelhada no "flight to
quality".
Agudiza-se o diferencial negativo, já observado desde o dia 20 de fevereiro,
das rentabilidades da dívida soberana norte-americana a dez anos, cuja yield é
de 1,34%, e da yield da T-Bill a 3 meses, que cota nos 1,48%, antecipando
recessão económica, um indicador bastante utilizado pela FED para aferir a
saúde da economia. Medidas pelos futuros negociados na Bolsa de Chicago, as
probabilidades de descida de taxa de juro aumentaram. Para a próxima reunião da
FED é agora de 32% a descida e manutenção é de 68%, mas para a seguinte FOMC, dia
29 de abril, a probabilidade de descida é de 64%, contra 36% de manter. O ouro
está em máximos desde janeiro de 2013 e o petróleo em mínimos de há um ano.
Porém, uma aldeia povoada por irredutíveis investidores da Tesla ainda resiste
ao invasor coronavírus. A Tesla perdeu apenas 35% dos ganhos acumulados desde o
início do ano, e valoriza ainda cerca de 85%.
A Tesla superou a Volkswagen em capitalização bolsista e é já a segunda
fabricante automóvel mais valiosa, atrás da Toyota, e, mais que uma fabricante
tradicional de automóveis, é uma empresa tecnológica. A capitalização bolsista
não é suportada pelos seus fundamentais convencionais, mas pelo que o futuro
lhe possa reservar. O carro tornar-se-á o "dispositivo móvel" mais
importante no futuro, a par do smartphone, com incremento do número dos carros
elétricos devido às preocupações com as alterações climáticas.
Uma empregadora de topo, a Tesla é uma empresa ideal para os funcionários
devido à sua diversidade e cultura de incentivo à inovação. Ê a empresa
automóvel líder no seu segmento em 2019. A Tesla é percebida como tendo os
melhores carros elétricos por gama/classe e deixou para trás todas as outras
marcas na corrida dos melhores carros elétricos, e a autonomia provou ser
superior para cobrir grandes distâncias. A Tesla domina as vendas de veículos
elétricos dos EUA e o modelo 3 é o mais vendido em 2019, quase 190 mil
unidades. O cross-selling compreende parcerias com seguros como a Liberty, e
diversificação das ofertas. Mas o sistema de fabrico bastante complexo é um
ponto negativo. Quanto maior o padrão de inovação, maiores serão também as
complexidades mecânicas, e quando assim é, há um crescente risco na produção. A
Tesla é incapaz de satisfazer todas as encomendas e esse ponto pode afetar o
valor da marca. A empresa está subdimensionada para o aumento exponencial das
encomendas (também poderá ser visto com um ponto positivo, em caso de crise
económica, não ter uma capacidade instalada sobredimensionada).
É pioneira em carros de economia de energia, mas não o consegue fazer com
linhas de produção massificadas. Há escassez de baterias, e os caprichos de
Elon Musk podem ser prejudiciais.
Curioso é comparar o desempenho muito idêntico da Tesla e da Virgin Galactic,
dois títulos muito procurados pelas "mães e pais" norte-americanos,
ambas com estelares valorizações numa reduzida janela de tempo. Mas terão já
testado a resiliência dos seus modelos de negócio a cenários extremos de
incerteza como quebra das cadeias de logística e a redução do apetite pelo
risco?
Paulo Rosa, In Vida Económica, 28 de fevereiro 2020
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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