O
cenário de um dólar fraco pode ser realidade perante o número crescente de
variáveis que penalizam a moeda norte-americana. A Covid-19 implicou um reforço
da política monetária expansionista da Reserva Federal norte-americana, através
de um aumento da massa monetária e da descida da taxa de juro de referência de
1,75% para 0,25%. O diferencial da taxa de juro entre a “Fed Funds Rate” e a
taxa de depósito do Banco Central Europeu (BCE) já não é tão favorável ao
dólar, uma vez que essa diferença passou de 275 pontos base para apenas 75
pontos base em menos de duas semanas, nomeadamente na primeira metade do mês de
março.
O esperado aumento do défice orçamental dos EUA em 2020, como resposta do Governo ao confinamento, e o discurso da FED, em que deu a entender que não pretende aumentar taxas de juro antes de 2023, podem penalizar o dólar num futuro próximo. Para além disso, há a perceção de que os EUA têm sido menos eficazes no controlo da pandemia do que a Europa e a China. Nos últimos meses, a FED tem criado mais dinheiro do que o BCE, e, desde o início de março, o balanço da FED expandiu-se perto de 70%, enquanto que o do BCE aumentou cerca de 35%. A taxa de desemprego nos EUA aproximou-se da taxa da Zona Euro, muito devido à maior flexibilidade laboral nos EUA. No passado, a diminuição do diferencial da taxa de desemprego entre a Europa e os EUA beneficiou o euro contra o dólar. Além disso, há a considerar as implicações favoráveis para o euro de uma união política mais solidificada na Europa, espelhada no acordo de recuperação económica “pós-Covid” alcançado no início da semana, e na atual cotação de 1,16 dólares por cada euro, o valor mais elevado da moeda única desde setembro de 2018.
É pouco provável que a tecnologia, nomeadamente norte-americana, que tem sido o setor líder nos últimos anos, continue a sê-lo se o dólar enfraquecer significativamente. As empresas value e os mercados emergentes tendem a melhorar o seu desempenho num cenário de queda no dólar. A ações cíclicas costumam ter melhor performance que as empresas defensivas, porque um dólar mais fraco é frequentemente associado a um aumento das expectativas de inflação e a um crescimento nominal mais rápido do PIB. As empresas com elevados níveis de alavancagem operacional, ou seja, aquelas que são capazes de aumentar as receitas sem que os custos subam tão rapidamente, beneficiam de margens de lucro crescentes quando o crescimento económico nominal aumenta ou quando elas conseguem repassar custos de produção mais altos para os clientes.
Um bom exemplo é o setor de materiais e também o industrial. Devido ao nível baixo de ativos fixos, o setor tecnológico geralmente tem um menor grau de alavancagem operacional. As empresas básicas (setor Staples) tendem a ter mais pricing power do que as empresas discricionárias num período de eventual queda do dólar e expectativas de inflação crescentes, uma vez que os produtos que vendem são menos substituíveis.
A inclinação da curva de rendimentos nos EUA tende a acentuar-se em períodos de fraqueza do dólar, e o setor bancário pode ser beneficiado porque tendencialmente cede crédito com prazos mais longos, a taxas mais elevadas, do que paga pelos depósitos dos clientes, que têm prazos mais curtos ou são à ordem, e a taxas mais baixas, neste contexto. Atualmente, a horizontalidade da curva e o controlo da mesma penalizam a lucratividade dos bancos.
Muitas economias emergentes são configuradas de maneira pró-cíclica, o que é o oposto da economia dos EUA, porque a inflação tende a ser mais alta nesses países, costumam ter défices elevados da balança de pagamentos, precisam de importar capital do exterior e a dívida que assumem é frequentemente denominada em dólares americanos. Com um dólar fraco, a dívida em moeda estrangeira torna-se mais fácil de pagar, a inflação importada diminui, os preços das commodities em dólares aumentam, cresce a capacidade dos bancos centrais dos países emergentes de reduzir as taxas de juros devido à menor inflação, o crescimento acelera, aumenta a poupança doméstica, o investimento interno e a atratividade de investimentos vindo do exterior intensificam-se.
Paulo Rosa, In Vida Económica, 24 de julho de 2020O esperado aumento do défice orçamental dos EUA em 2020, como resposta do Governo ao confinamento, e o discurso da FED, em que deu a entender que não pretende aumentar taxas de juro antes de 2023, podem penalizar o dólar num futuro próximo. Para além disso, há a perceção de que os EUA têm sido menos eficazes no controlo da pandemia do que a Europa e a China. Nos últimos meses, a FED tem criado mais dinheiro do que o BCE, e, desde o início de março, o balanço da FED expandiu-se perto de 70%, enquanto que o do BCE aumentou cerca de 35%. A taxa de desemprego nos EUA aproximou-se da taxa da Zona Euro, muito devido à maior flexibilidade laboral nos EUA. No passado, a diminuição do diferencial da taxa de desemprego entre a Europa e os EUA beneficiou o euro contra o dólar. Além disso, há a considerar as implicações favoráveis para o euro de uma união política mais solidificada na Europa, espelhada no acordo de recuperação económica “pós-Covid” alcançado no início da semana, e na atual cotação de 1,16 dólares por cada euro, o valor mais elevado da moeda única desde setembro de 2018.
É pouco provável que a tecnologia, nomeadamente norte-americana, que tem sido o setor líder nos últimos anos, continue a sê-lo se o dólar enfraquecer significativamente. As empresas value e os mercados emergentes tendem a melhorar o seu desempenho num cenário de queda no dólar. A ações cíclicas costumam ter melhor performance que as empresas defensivas, porque um dólar mais fraco é frequentemente associado a um aumento das expectativas de inflação e a um crescimento nominal mais rápido do PIB. As empresas com elevados níveis de alavancagem operacional, ou seja, aquelas que são capazes de aumentar as receitas sem que os custos subam tão rapidamente, beneficiam de margens de lucro crescentes quando o crescimento económico nominal aumenta ou quando elas conseguem repassar custos de produção mais altos para os clientes.
Um bom exemplo é o setor de materiais e também o industrial. Devido ao nível baixo de ativos fixos, o setor tecnológico geralmente tem um menor grau de alavancagem operacional. As empresas básicas (setor Staples) tendem a ter mais pricing power do que as empresas discricionárias num período de eventual queda do dólar e expectativas de inflação crescentes, uma vez que os produtos que vendem são menos substituíveis.
A inclinação da curva de rendimentos nos EUA tende a acentuar-se em períodos de fraqueza do dólar, e o setor bancário pode ser beneficiado porque tendencialmente cede crédito com prazos mais longos, a taxas mais elevadas, do que paga pelos depósitos dos clientes, que têm prazos mais curtos ou são à ordem, e a taxas mais baixas, neste contexto. Atualmente, a horizontalidade da curva e o controlo da mesma penalizam a lucratividade dos bancos.
Muitas economias emergentes são configuradas de maneira pró-cíclica, o que é o oposto da economia dos EUA, porque a inflação tende a ser mais alta nesses países, costumam ter défices elevados da balança de pagamentos, precisam de importar capital do exterior e a dívida que assumem é frequentemente denominada em dólares americanos. Com um dólar fraco, a dívida em moeda estrangeira torna-se mais fácil de pagar, a inflação importada diminui, os preços das commodities em dólares aumentam, cresce a capacidade dos bancos centrais dos países emergentes de reduzir as taxas de juros devido à menor inflação, o crescimento acelera, aumenta a poupança doméstica, o investimento interno e a atratividade de investimentos vindo do exterior intensificam-se.