Nos últimos dias, as empresas tecnológicas têm sido das
mais penalizadas em bolsa, castigadas pela subida das taxas de juro de longo
prazo, nomeadamente do tesouro norte-americano. As crescentes expectativas de
aumento das taxas de juro pela Reserva Federal dos EUA (Fed) para responder não
só à elevada inflação, mas também para normalizar a política monetária, têm
penalizado mais as empresas cujos ‘cash
flows’, ou seja, o diferencial entre as receitas e os custos que dão origem
aos fluxos de dinheiro que entram e saem da empresa, são gradualmente mais
elevados nos anos mais longínquos e menores nos anos mais próximos. E, na
realidade, os fluxos de dinheiro, os retornos e os lucros são mais elevados nos
períodos mais afastados em muitas empresas tecnológicas, mas não só. Também as
empresas criadas recentemente e que se iniciam em bolsa, como as ‘startups’, através de Ofertas Públicas
de Venda (OPVs), apresentam receitas baixas e custos elevados nos primeiros
anos, mas as previsões para os ’cash
flows’ futuros vão aumentando gradualmente e de forma significativa.
Juros mais altos reduzem o valor presente do fluxo de caixa esperado, e isso
significa que os investidores procuram pagar menos por uma ação. No primeiro
trimestre do ano passado, em fevereiro e março, o rendimento do tesouro dos EUA
a 10 anos quase duplicou e o Nasdaq caiu mais de 10%.
O método do desconto dos ‘cash flows’
(DCF), ou seja, o valor atualizado líquido (VAL) dos resultados que serão
gerados no futuro por uma determinada empresa ou investimento, traz para o
presente o valor de todos os retornos futuros. O termo ‘cash flow’ ou “fluxo de caixa” é usado nesta análise como sinónimo
de lucro.
De 2022 a 2027, o somatório dos ‘cash
flows’ das empresas A e B em termos nominais é idêntico, mas quando
aplicada uma taxa de juro para atualizar os valores futuros dos lucros para o
dia de hoje, o valor da empresa B é menor do que o da empresa A. Se a taxa de
juro for de 0,5%, o VAL da empresa A nos seis anos em questão é de 43,70 €, ou
seja, 1,75% inferior ao seu valor nominal de 44,48 €, mas o VAL da empresa B é
de 43,33 €, uma descida de 2,6% face ao seu valor nominal e mais baixo 0,8% que
o VAL da empresa A. Perante uma subida da taxa de juro para 2%, o VAL de A é de
41,48 €, uma descida de 6,75%, mas a empresa B, cujos ‘cash flows’ crescem significativamente ao longo do tempo, o VAL é
de 40,10 €, uma queda de 9,85% e mais baixo 3,4% que a empresa A. Em suma, a
empresa A é tendencialmente uma empresa madura e de estilo ‘value’, enquanto a empresa B é muito
provavelmente uma empresa em crescimento, uma ‘startup’ de uma tecnológica. À medida que a taxa de juro aumenta,
os ‘cash flows’ futuros valem cada
vez menos e quanto mais longínquos, menos valem.
A ‘duration’ é um termo utilizado na
negociação no mercado obrigacionista e descreve a sensibilidade da cotação de
uma obrigação a uma alteração dos juros, e as empresas tecnológicas têm em
média mais ‘duration’ do que as
restantes empresas. As obrigações com datas de vencimento mais longas têm uma ‘duration’ mais elevada.
Todavia, as taxas de juros e os seus efeitos sobre os preços das ações são mais
transitórios, e menos importantes, do que a sustentabilidade dos retornos
futuros muitas vezes alicerçados em tecnologias inovadoras e disruptivas.
Paulo Rosa, Vida Económica 20 janeiro 2022
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022
Tecnológicas mais penalizadas pelos juros
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- Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
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