O mercado antecipa uma alta de 50 pb na reunião
do BCE a 15 de dezembro. Está prevista também uma subida de igual dimensão de
50 pb na primeira reunião de 2023, a 2 de fevereiro, seguida de um aumento de
25 pb na segunda reunião de 2023 a 16 de março, fixando-se nessa altura a taxa
de juro dos depósitos do BCE nos 2,75%, muito perto da taxa terminal esperada
atualmente pelo mercado, à volta dos 2,8%. Este aumento de 50 pb possivelmente
estará já descontado, não devendo alterar visivelmente as taxas Euribor.
Entretanto, um potencial anúncio do BCE de redução do seu balanço, o denominado
quantitative tightening (QT), associado a um compromisso de abrandamento do
aumento das suas taxas de juro de referência, poderão aliviar os encargos das
famílias que detêm empréstimos associados às Euribor. Como o QT é
essencialmente uma redução do balanço, cujo ativo é constituído em grande parte
por títulos da dívida pública, a não renovação destes títulos na sua
maturidade, ou a sua alienação, pressionarão as taxas de juro de longo prazo,
sobretudo de países periféricos da Zona Euro como Portugal, Espanha e Itália,
redundando numa indesejável perceção de menor coesão do projeto europeu. Ainda
assim, se ao potencial QT do BCE estiver associado um compromisso de
desaceleração do aumento das taxas de juro pelo BCE, então poderemos estar
diante de um abrandamento das taxas de juro de curto prazo e um aumento das
taxas de juro de longo prazo, ou seja, um cenário de reversão da alta das
Euribor e um aumento dos juros das dívidas públicas, beneficiando quem tem
crédito à habitação indexado à Euribor, mas acabando por penalizar as contas
públicas dos governos. Entretanto, o PIB da Zona Euro relativo ao quarto
trimestre será divulgado no próximo dia 31 de janeiro e até lá serão ainda
apresentados vários dados importantes referentes à atividade económica na área
euro, bem como os dados relativos à evolução da inflação. Se os números do PIB
da Zona Euro no quarto trimestre confirmarem uma contração económica e a
inflação sinalizar uma visível desaceleração, a taxa de juro terminal do BCE
deverá cair substancialmente. Todavia, a um mês e meio de distância, e perante
a incerteza que ainda persiste e continuará em 2023, é muito difícil prever a
evolução das taxas de juro para o próximo ano, sendo que a postura do BCE
alterar-se-á de acordo com a evolução dos dados macroeconómicos. Ainda assim,
poderemos confirmar que nos últimos tempos as dificuldades nas cadeias de
abastecimento têm diminuído consideravelmente, os preços da energia têm
descido, a atividade económica tem enfraquecido e a propensão ao consumo está
cada vez mais fragilizada, sendo de esperar que esta tendência continue e
corrobore uma gradual melhoria dos números da inflação tanto do lado da oferta
como do lado da procura, refletida numa previsível queda no índice de preços no
consumidor. Se este cenário se materializar em 2023, então o BCE poderá mais
cedo do que o esperado reverter a sua atual postura monetária restritiva. É
expectável voltarmos a ter num futuro próximo taxas de juro próximas de zero? É
um cenário atualmente muito pouco provável, mas tudo dependerá da evolução da
inflação nos próximos anos. Cadeias de abastecimento sem problemas e um recuo
dos preços dos combustíveis fósseis, dos produtos agrícolas e dos metais
industriais, impulsionarão a produção das economias avançadas (com aparelhos
produtivos estruturados e excesso de capacidade produtiva instalada), respondendo
mais facilmente às encomendas e à procura dos consumidores, culminando numa
considerável queda da inflação. Mas a guerra na Ucrânia e a política “covid
zero” chinesa teimam em dificultar as cadeias de abastecimento globais,
entraves ao abrandamento da inflação.
Nos EUA, a reunião da Fed deverá mostrar uma melhoria do dot plot. Atualmente
o mercado prevê uma taxa terminal de 5%, refletida numa alta de 50 pb a 14 de
dezembro, 25 pb em fevereiro e 25 pb em março, recuando no 2º semestre de 2023
para 4,5%, com dois cortes de 25 pb. Entretanto, cresce o receio de recessão. O
outlook trimestral da Fed deve mostrar uma maior desaceleração do PIB em
2023, de 1,2% em setembro, últimas perspetivas, para um número próximo de zero.
No entanto, poderemos ver alguma melhoria na inflação medida pelo PCE core (em
setembro foi de 2,8% a previsão para 2023). Tal como o BCE, também a Fed, devido
ao receio da inflação, pode acelerar o seu QT, procurando impulsionar novamente
as yields das treasuries depois das quedas nas últimas semanas, aumentando
as taxas de juro de longo prazo e desacelerando as de curto prazo. Mas acelerar
o QT pressiona ainda mais o já depauperado mercado de dívida, retirando-lhe
liquidez. Entretanto, nos EUA a inflação abrandou no mês de novembro, sinalizando
uma eventual desaceleração dos preços não só nos EUA mas também na Zona Euro
nos próximos meses. Estes números penalizam ainda mais o dólar, diminuindo a
inflação importada na Zona Euro, e afastando uma crise cambial do euro. Nota:
Texto escrito antes das reuniões da Fed e do BCE.
PMR In VE 13 dezembro 2022
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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sexta-feira, 16 de dezembro de 2022
Bancos centrais e juros de curto e longo prazo
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