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sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Perspetivas para inflação e economia dos EUA

Perspetivas para a inflação dos EUA de acordo com a evolução do crescimento económico

A inflação homóloga norte-americana abrandou no 2º semestre do ano passado, tendo o índice de preços no consumidor (IPC) aumentado apenas 0,2% entre junho e dezembro de 2022, em grande medida influenciado pela melhoria nas cadeias de abastecimento. A gradual diminuição do défice comercial dos EUA, a partir de abril do ano passado, fomentou o crescimento económico na segunda metade do ano, depois de uma contração económica no 1º semestre. A economia dos EUA contraiu, respetivamente, 1,6% e 0,6% nos 1º e 2º trimestres do ano passado (como se pode observar no gráfico 1). No 3º trimestre a economia norte-americana cresceu 3,2% e é esperado que aumente 3,5% no 4º trimestre, de acordo com os dados do GDP Now da Fed de Atlanta de 18 de janeiro. É visível no gráfico 1 a correlação inversa entre inflação e crescimento económico. Enquanto a inflação foi gradualmente subindo ao longo do ano de 2021 e no primeiro semestre de 2022, a economia foi desacelerando, entrando mesmo em contração na primeira metade do ano passado, no entanto a tendência de descida da taxa de desemprego manteve-se, alcançando o pleno emprego ainda no 1º trimestre de 2022, não corroborando a clássica curva de Phillips. Entretanto, o abrandamento da inflação a partir de junho de 2022 coincidiu com a retoma económica norte-americana.


Gráfico 1 - Evolução nos EUA da inflação e do PIB nos últimos 2 anos


Fonte: Banco Carregosa, Bloomberg e Reserva Federal de Atlanta

 

A melhoria do lado da oferta tem permitido um maior crescimento económico e uma descida da inflação, sendo este o cenário mais favorável para a valorização das ações, algo que tem sido observado desde o início de outubro do ano passado, com a recuperação generalizada dos mercados acionistas. Todavia, a política monetária energicamente restritiva, iniciada há quase um ano pela Reserva Federal dos EUA (Fed), ameaça o crescimento económico, comprometendo gradualmente a capacidade de financiar futuros investimentos, devido às taxas de juro mais elevadas, penalizando também os financiamentos das famílias e empresas endividadas, à medida que se renovam os empréstimos, agora a taxas de juro muito mais altas.

A procura, ainda resiliente, em grande parte devido às poupanças resultantes dos apoios aquando da pandemia e do confinamento, poderá ser paulatinamente penalizada nos próximos meses, à medida que a alta dos juros deteriora o rendimento disponível, sendo uma ameaça às vendas das empresas e ao crescimento económico.

À medida que os juros se mantêm altos por um período de tempo mais longo, cresce também a probabilidade não apenas de uma recessão, mas de quão profunda esta poderá ser. Em caso de recessão, a inflação poderia descer para perto do objetivo de estabilidade de preços da Fed. Este cenário de baixa inflação e recessão é positivo para as obrigações soberanas.

Os gráficos 2 e 3 evidenciam os cenários de melhoria da inflação, numa primeira fase devido ao gradual desaparecimento das dificuldades nas cadeias de abastecimento, crescimento do PIB e robusto mercado de trabalho (boom deflacionista), e numa segunda fase também de contínua queda da inflação, mas, neste caso, em contexto recessivo (bust deflacionista).

 

Gráfico 2 – Evolução da inflação e do PIB

Fonte: Banco Carregosa
 

Numa primeira fase o aumento da oferta agregada (AS1 para AS2) permite uma queda da inflação num ambiente de crescimento económico (ponto A para ponto B). Todavia, as taxas de juro cada vez mais elevadas penalizam a procura agregada (AD1 para AD2), aumentando a probabilidade de recessão e de aumento da taxa de desemprego, podendo este cenário ser benéfico para uma queda considerável da inflação, mas numa conjuntura recessiva (passando agora do ponto B para o C). No último relatório de dezembro, a Fed antecipou uma subida da taxa de desemprego para 4,6% em 2023, mas ainda assim espera um crescimento económico este ano, ainda que ligeiro, de 0,5%. Atualmente a taxa de desemprego nos EUA, número relativo a dezembro, fixou-se em 3,5%, e a taxa de inflação homóloga desceu para 6,5%.

 

Gráfico 3 – Evolução da inflação homóloga nos EUA (retrospetiva e perspetiva)

Fonte: Banco Carregosa


A Fed esforça-se para que os preços regressem ao objetivo de 2%, mas a dúvida persiste se o consegue com um soft ou um hard landing da economia.

Entretanto, os dados da inflação dos EUA referentes a dezembro mostraram uma resiliência da categoria shelter (rendas de habitação e rendas equivalentes dos proprietários de casas) que pesando um terço no índice de preços no consumidor (IPC), continua a impulsionar a inflação

Gráfico 4 - Evolução nos EUA dos preços casas (shiller) e do shelter CPI

Fonte: Banco Carregosa, Bloomberg

O gráfico 4 mostra que o item shelter tem um desfasamento de 12 a 18 meses relativamente à evolução dos preços das casas. E em recessão o crescimento do item shelter é de zero ou até negativo. Atualmente contribui com cerca de 3 pontos percentuais dos 6,5% do IPC dos EUA em dezembro, participando em quase metade do atual valor da inflação. É um fardo significativo e que tem impulsionado a inflação, mas à medida que os preços das casas abrandam o ajustamento em baixa tende a acontecer, podendo ser acelerado em caso de recessão.


Paulo Monteiro Rosa, 20 de janeiro 2023 in VE

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.