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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Recessão nos EUA com taxa de desemprego em mínimos?!

Nos meses de março e abril de 2020, a economia norte-americana perdeu 22 milhões de postos de trabalho em consequência do confinamento total ditado pela pandemia. Desde essa altura, além de ter recuperado os postos de trabalho perdidos, já criou mais 2,5 milhões, num total de 24,5 milhões de empregos criados desde maio de 2020 até janeiro de 2023. Ou seja, a economia norte-americana criou 2,5 milhões de empregos em termos líquidos nos últimos 33 meses, uma média de 75 mil empregos por mês, o que efetivamente não representa um número que assegure um forte crescimento económico, mas um aumento do PIB real à volta de 1%, tal como observado em 2022. A partir de agora, uma criação mensal consecutiva acima de 300 mil postos NFP indiciaria, essa sim, uma economia robusta, cujo crescimento do PIB seria de 3 ou 4%. Entretanto, uma criação frágil, abaixo de 100 mil postos NFP ou até destruição de postos de trabalho, sinalizaria uma recessão.


A população norte-americana aumentou de 328,3 milhões de habitantes no início de 2020 para 333,3 no final de 2022, mais 5 milhões. Mas enquanto a força de trabalho aumentou ligeiramente de 164,7 para 165,8 milhões, a população civil não institucional (todas as pessoas com mais de 15 anos de idade excluindo as forças armadas, asilos para idosos, prisões, casas de correção, hospícios) subiu muito mais, de 260,2 milhões no início de 2020 para 266 milhões em janeiro de 2023, correspondendo a isso uma taxa de participação de 63,3% e 62,4% no início de 2020 e em janeiro de 2023, respetivamente. Ou seja, além de um aumento populacional de 5 milhões de habitantes, há também quase mais 6 milhões [em grande parte provavelmente devido à pandemia] de população civil não institucional fora da força de trabalho, alcançando os 100 milhões, desde marginalizados aos desencorajados e às pessoas que não querem trabalhar. O acréscimo de mais 2,5 milhões de empregos não suportam talvez apenas o aumento da população em 5 milhões. Uma hipotética subida da taxa de participação dos atuais 62,4% para os 63,3% [verificados no início de 2020] seriam mais 2,5 milhões de trabalhadores aptos para trabalhar, o que implicaria uma alta da taxa de desemprego para quase 5% ou absorveria parte das atuais 11 milhões de ofertas de emprego, fonte do JOLTS.
  
Ainda na passada segunda-feira, Janet Yellen referiu que não há recessão quando a taxa de desemprego nos EUA está no nível mais baixo dos últimos 53 anos, nos 3,4%. Todavia, a secretária do tesouro norte-americano salientou também que não há recessão quando a economia cria mais 500 mil empregos [em termos líquidos] em apenas um mês, número verificado em janeiro. Se a primeira afirmação relativa à taxa de desemprego é dúbia quanto à robustez da economia, dependendo muito do contexto, verificando-se até muitas vezes uma recessão após pleno emprego, já a segunda consideração, relativa à criação de emprego, corrobora uma visível resiliência económica.

Certo é que os pedidos de subsídio de desemprego semanais nos EUA (Jobless Claims), atualmente de 183 mil, muito perto dos mínimos históricos de meados de março de 2022, poderão confirmar recessão entre os 250 mil e os 300 mil, ou seja, muito antes dos 400 mil que anteriormente dividiam a recessão de expansão. Este facto surge não só devido à pandemia, mas também por causa da tendência de descida da taxa de participação nas últimas décadas, a saber de 66% em 2008 para 63% em 2019. Entretanto, a Fitch espera que os gastos do consumidor diminuam de 2,8% em 2022 para apenas 0,2% em 2023, tendo o consumo um peso de 68% na formação do PIB dos EUA. Também permanece o declive negativo da curva de rendimento norte-americana, um sinal de recessão.

Entretanto, já após os dados do emprego, o discurso de Jerome Powell no Economic Club de Washington foi menos hawkish do que antecipado, surpreendendo muitos investidores. Powell referiu que 2023 deve ser um ano de "quedas significativas na inflação", corroborando também que o mandato da Fed tem dois objetivos principais, a estabilidade de preços e o pleno emprego, dando a entender que é fundamental a robustez do mercado de trabalho, ainda mais num cenário desejável de soft landing, no seguimento a uma pergunta sobre a resiliência do relatório do emprego na passada sexta-feira e as suas possíveis consequências nefastas na evolução da inflação. Powell frisou também que é provável que haja mais aumentos de taxas de juro no período que agora começou de desinflação, mas não se comprometeu com essas mesmas subidas. Por último, e não menos importante, Powell teve a oportunidade de refrear os mercados acionistas numa altura em que estes valorizam significativamente desde o início de janeiro. Mas não, optou por afastar os receio de inflação dos salários, desvalorizando os números do emprego e evidenciando, assim, um profundo conhecimento do mercado de trabalho dos EUA. 

PMR In VE 10 de fevereiro 2023

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.