Since December 25th, 2010

Translate

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

A capacidade preditiva do rendimento a 2 anos na antecipação das Fed Funds Rate


Os rendimentos do tesouro norte-americano a dois anos tendem a refletir as expetativas de política monetária da Reserva Federal dos EUA (Fed). Ou seja, a evolução do rendimento das obrigações do tesouro a 2 anos é talvez uma das melhores ferramentas de previsão da evolução das taxas de juro da Fed, as taxas de fundos federais (Fed Funds Rate). Habitualmente os rendimentos do tesouro a 2 anos incorporam não só as declarações dos vários membros do banco central dos EUA, como também os dados macroeconómicos que vão sendo divulgados desde o mercado de trabalho aos números da inflação. Sendo percetível a influência do nível dos rendimentos das obrigações do tesouro norte-americano na evolução da política monetária da Fed, corroborada pela evidência empírica, terá assim a Fed todo o trabalho facilitado na prossecução da sua política monetária de subida, descida ou manutenção das suas taxas de juro? Sim, mas a Fed também trabalha para isso, tentando ser o mais transparente possível nas semanas que antecedem as suas reuniões ordinárias de política monetária. Em suma, ambas se influenciam entre si, rendimentos a 2 anos e Fed Funds Rate.
    
Quando os investidores esperam um movimento das Fed Funds Rate, por exemplo um aumento de 75 pontos base, o banco central dos EUA tenta não surpreender o mercado, facultando todas as atualizações e informações necessárias nas semanas anteriores à FOMC (reunião ordinária da Fed). Esta postura de não surpreender o mercado tem sido gradual ao longo das últimas décadas e, assim sendo, nos últimos anos não têm existido surpresas. Portanto, a Fed preocupa-se em promover uma gradual melhoria da sua comunicação acerca da evolução da sua política monetária. A título de exemplo, em 2012 foi introduzido o gráfico de pontos (dot plot), resumindo as perspetivas dos membros da Fed para as taxas dos fundos federais no futuro, sendo mais um esforço da Fed para ser mais transparente em relação às suas políticas. A par do dot plot divulgado sempre na última reunião do trimestre, é também publicada a atualização das perspetivas trimestrais, nomeadamente para a inflação, emprego e PIB.

A necessidade de uma melhoria futura na comunicação pela Fed ficou bem patente em 1994, aquando do “massacre das obrigações”. Nesse ano, a economia norte-americana emergia da recessão de 1990/91 e os rendimentos dos títulos do tesouro começavam a subir ligeiramente em relação aos mínimos de 1993, à medida que as perspetivas de crescimento melhoravam, embora sem que nenhum sinal de inflação tivesse surgido. Entretanto, Alan Greenspan e a Fed surpreenderam os mercados ao começarem a apertar a política monetária, e os títulos do tesouro desvalorizaram substancialmente quando as Fed Funds Rate subiram consideravelmente ao longo do ano. A capacidade preditiva da yield do tesouro a 2 anos desapareceu durante alguns meses, sobretudo de março de 1994 até ao final desse ano (como observado no gráfico, círculo 1).



Entretanto, no último trimestre de 2021, depois de ano e meio à volta dos 0,15% a 0,20%, o rendimento do tesouro norte-americano com maturidade a 2 anos inicia a sua tendência de alta a partir de novembro de 2021, impulsionado não só pela inflação cada vez mais elevada, nessa altura já acima dos 6%, percecionando-se uma subida dos preços cada vez mais generalizada e contínua, mas também pelo anúncio da Fed, em 3 de novembro, do começo do seu tapering no mês seguinte, em dezembro. No entanto, a primeira subida das taxas de juro pela Fed acontece apenas no dia 16 de março de 2022 (o último aumento havia sido em dezembro de 2018), em 25 pontos base para o intervalo de 0,25% a 0,50%, mas a yield a 2 anos era já nessa altura de quase 2%, antecipando ainda mais aumentos das taxas de juro da Fed que se viriam a materializar meses mais tarde (no gráfico podemos constatar essa capacidade preditiva, círculo 2). Ainda no gráfico podem ser observados movimentos e comportamentos semelhantes em ocasiões anteriores, corroborando assim o poder de antecipação das futuras Fed Funds Rate, em vários meses, trimestres ou mesmo em mais de um ano, pelos rendimentos das obrigações do tesouro a 2 anos.

Entretanto, a yield a 2 anos é também superior à yield do tesouro norte-americano a 10 anos desde julho de 2022, identificando uma curva de rendimentos invertida, indiciando recessão económica. Atualmente o diferencial entre estas duas taxas de juro é negativo de -0,83%, o spread mais elevado desde o início da década de 1980, aquando de uma recessão bastante prolongada, como pode ser corroborado pelo gráfico.


Quanto mais elevada for a vida de um empréstimo maior é o risco associado a esse mesmo empréstimo, sendo, desta forma, normal um declive positivo da curva de rendimentos. Não é habitual, porém, uma curva de rendimentos com inclinação negativa, mas quando acontece, este fenómeno reflete as expectativas dos investidores de queda das taxas de juro de mais longo prazo e de descida da inflação, normalmente contextos associadas a recessões.


Entretanto, a yield a 2 anos é também superior à yield do tesouro norte-americano a 10 anos desde julho de 2022, identificando uma curva de rendimentos invertida, indiciando recessão económica. Atualmente o diferencial entre estas duas taxas de juro é negativo de -0,83%, o spread mais elevado desde o início da década de 1980, aquando de uma recessão bastante prolongada, como pode ser corroborado pelo gráfico.


  



Quanto mais elevada for a vida de um empréstimo maior é o risco associado a esse mesmo empréstimo, aumentando o risco de incumprimento, sendo, desta forma, normal um declive positivo da curva de rendimentos. Não é habitual, porém, uma curva de rendimentos com inclinação negativa, mas quando acontece, este fenómeno reflete as expectativas dos investidores de queda das taxas de juro de mais longo prazo e de descida da inflação, normalmente contextos associados a recessões.

PMR In VE 17 de fevereiro 2023





Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue

Seguidores

Economista

A minha foto
Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.