A correlação negativa entre o cross cambial euro/dólar e o rendimento do
tesouro norte-americano a 2 anos tem sido quase perfeita, muito perto de -1,
desde 4 de maio, conforme pode ser observado no círculo C2 do gráfico, aquando
da perceção de uma Reserva Federal dos EUA (Fed) ainda hawkish na
reunião FOMC (Federal Open Market Committee) a 3 de maio, seguindo-se uma
publicação de um mercado de trabalho robusto em abril no dia 5 de maio.
O gráfico
corrobora uma relação significativamente negativa entre o euro/dólar e o
rendimento a 2 anos do tesouro norte-americano, sobretudo aquando do colapso
bancário regional nos EUA em março deste ano e desde 4 de maio. Em 2023, o gráfico
espelha dois momentos de quase perfeita correlação inversa, o círculo C1
durante o mês de março e o círculo C2 nas últimas quatro semanas, desde 4 de
maio.
Para se perceber
a evolução do eur/usd nas próximas semanas, há dois dados macroeconómicos
norte-americanos cruciais que serão divulgados nos próximos dias, o mercado de
trabalho e a inflação, bem como a reunião da Fed a 14 de junho.
Se o mercado de trabalho na próxima sexta-feira, dia 3 de junho, continuar a
mostrar resiliência, ou seja, Non Farm Payrolls acima de 150 mil [postos de
trabalho líquidos criados, excetuando agrícolas], e taxa de desemprego inferior
a 3,6%, a Reserva Federal dos EUA deverá mesmo aumentar a taxa de juro no
próximo dia 14 de junho em mais 25 pontos, para o intervalo de 5,25% a 5,50%,
facto que seria reforçado se a inflação nos EUA em maio, a ser divulgada no dia
13 de junho se mantiver persistente, ou seja, acima de 4,7% ou 4,8%.
Atualmente, a probabilidade desse aumento de 25 pontos base é de 66%. Todavia,
dados fracos do mercado de trabalho norte-americano e inflação a desacelerar
mais rápido do que esperado penalizaria muito provavelmente o desempenho do
dólar nas próximas semanas.
Entretanto,
caso os dados macroeconómicos se mantiveram relativamente robustos no próximo
mês e meio, mercado de trabalho forte em junho, divulgado na primeira
sexta-feira de julho e a inflação acima do estimado, o cross eur/usd
poderá continuar pressionado em baixa, podendo o mercado antecipar mais uma
alta de 25 pontos para o intervalo [5,50% a 5,75%] na reunião de 26 de julho,
reforçando ainda mais a alta do dólar.
Enquanto
isso, os dados da inflação de vários países da Zona Euro publicados na
quarta-feira passada, dia 31 de maio,
sobretudo da Alemanha (6,1%), França (5,1%) e Espanha (3,2%), mostraram uma
significativa desaceleração dos preços no consumidor na Europa e são também
suficientemente pertinentes para perceber uma postura eventualmente menos hawkish do
BCE, podendo corroborar um pouco mais esta queda do euro face ao dólar.
Na terça-feira, o indicador de confiança industrial na Zona Euro caiu para
-5,2 em maio de 2023, de -2,8 revisto no mês anterior, um numero mais fraco do
que as previsões do mercado de -4,0.
O sentimento entre os fabricantes atingiu o nível mais baixo desde novembro
de 2020, ou seja, à medida que as expectativas de produção das empresas e as
avaliações do nível atual das carteiras de encomendas se deterioram, os stocks
de produtos acabados são cada vez mais elevados e acima do normal, ditando um
agravamento da atividade económica da Zona Euro e, consequente, abrandamento da
política monetária do BCE, consolidando as probabilidades de alta do dólar.
Também a recessão técnica na Alemanha, contração económica no último trimestre
2022 e o primeiro trimestre de 2023, penalizam o euro. Porém, os últimos dados
da balança comercial de bens dos EUA, referentes a abril, registaram o maior défice desde outubro de 2022, podendo reequilibrar
um pouco o câmbio euro/dólar.
PMR in VE 2 de junho 2023
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