A Mota-Engil vai tentar financiar-se através de uma emissão de
obrigações, com reembolso em fevereiro de 2020, pagando uma taxa de juro
(cupão) de 3,9%, num montante total de 95 milhões de euros. A operação
dividese numa Oferta Pública de Subscrição (OPS) de 70 milhões de euros e
o remanescente, 25 milhões de euros, numa Oferta Pública de Troca (OPT)
dirigida a titulares de obrigações "Taxa Fixa Mota-Engil 2013/2016,
cupão 6.85%".
No que concerne à OPT, a Mota-Engil vai tentar
trocar até 25 milhões de euros da emissão obrigacionista realizada em
2013, no montante total de 175 milhões de euros, com vencimento a 18 de
março de 2016 por esta nova linha com maturidade em fevereiro de 2020. A
empresa oferece um prémio de 14,64€ no preço de cada obrigação detida
(500J), o que corresponde a 2,92%. Ou seja, o rendimento será de 6,82%
(3,9% do novo cupão, acrescido de 2,92% da compensação), quase idêntico
ao cupão de 6,85% da emissão Mota-Engil 2013/2016.
Imaginemos
que um investidor adquire, agora, 500€ da obrigação 2013/2016. À cotação
de 101,75, vai pagar 508,75€ e vai receber, até à maturidade, um juro
de 25,69€. O diferencial entre o ganho do juro e os 500€ a receber no
vencimento será de 16,94€ (todos os cálculos feitos com taxas brutas). A
contrapartida de 14.64€, troca da Engil 2013/2016 pela Engil 2015/2020,
corresponde a uma cotação de 102,2 da obrigação Engil 2013/2016, valor
observado no passado mês de maio e a 103 em abril. É normal que, à
medida que se aproxima a maturidade da emissão, no dia 18 de março de
2016, acrescida da significativa queda das obrigações no último mês, a
cotação seja hoje mais baixa que há alguns meses.
Alguns
fatores estão a pressionar os resultados da construtora portuguesa, o
que se reflete na descida de quase 65% da ação desde o máximo atingido
há um ano, nos 6,40€, para 2,20€, e, consequentemente na subida do risco
e da taxa de juro da obrigação 2013/2016. A queda do preço do petróleo,
com maior preponderância desde novembro passado, após a OPEP ter
mantido a sua produção, tem colocado em causa os orçamentos de países
africanos, nomeadamente Angola, onde a Mota-Engil tem significativa
carteira de obras públicas. Este país africano reduziu as despesas no
seu orçamento para 2015 devido à menor receita do petróleo, cortando
consideravelmente nas obras públicas e afetando deste modo a Mota-Engil.
Também a presença da Mota-Engil no Brasil tende a diminuir,
após a construção de vários estádios para o Mundial 2014, e devido ao
enfraquecimento da economia brasileira, da subida da inflação e das
taxas de juro, e da existência de alguma tensão política.
Podemos apontar como pontos fortes da Mota-Engil quer o regresso da
atividade económica portuguesa, ainda que provavelmente pouco
substancial, mas que poderá dar um novo impulso às obras públicas, quer o
novo quadro de apoio comunitário 2014-2020, que trará para o país cerca
de 25 mil milhões de euros, à volta de 15% do PIB nacional. Entre 1989 e
2013, Portugal recebeu mais de 96 mil milhões de euros em fundos
comunitários.
De salientar que a rentabilidade da obrigação
Mota-Engil 2013/2016 é relativamente elevada (cerca de 5%), o que
reflete algum risco do título. Taxas de 5% são comparáveis às do
financiamento da SAD do FC Porto há algumas semanas. Por isso, a cotação
da ação também se ressentiu e perdeu 50% nos últimos 6 meses. Esta nova
emissão 2016/2020 com um cupão de 3,9% é arrojada, mas, muito
provavelmente, será bem-sucedida, quer pelos pontos positivos da
empresa, quer pela falta de alternativas com rendimento semelhante: para
maturidades de quatro anos, tanto as outras empresas do PSI 20 como o
Estado português pagam taxas bastante mais baixas.
In Vida Económica, 26 de junho de 2015.
Paulo Monteiro Rosa, economista.
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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