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segunda-feira, 29 de junho de 2015

A emissão de obrigações da Mota-Engil

A Mota-Engil vai tentar financiar-se através de uma emissão de obrigações, com reembolso em fevereiro de 2020, pagando uma taxa de juro (cupão) de 3,9%, num montante total de 95 milhões de euros. A operação dividese numa Oferta Pública de Subscrição (OPS) de 70 milhões de euros e o remanescente, 25 milhões de euros, numa Oferta Pública de Troca (OPT) dirigida a titulares de obrigações "Taxa Fixa Mota-Engil 2013/2016, cupão 6.85%".

No que concerne à OPT, a Mota-Engil vai tentar trocar até 25 milhões de euros da emissão obrigacionista realizada em 2013, no montante total de 175 milhões de euros, com vencimento a 18 de março de 2016 por esta nova linha com maturidade em fevereiro de 2020. A empresa oferece um prémio de 14,64€ no preço de cada obrigação detida (500J), o que corresponde a 2,92%. Ou seja, o rendimento será de 6,82% (3,9% do novo cupão, acrescido de 2,92% da compensação), quase idêntico ao cupão de 6,85% da emissão Mota-Engil 2013/2016.

Imaginemos que um investidor adquire, agora, 500€ da obrigação 2013/2016. À cotação de 101,75, vai pagar 508,75€ e vai receber, até à maturidade, um juro de 25,69€. O diferencial entre o ganho do juro e os 500€ a receber no vencimento será de 16,94€ (todos os cálculos feitos com taxas brutas). A contrapartida de 14.64€, troca da Engil 2013/2016 pela Engil 2015/2020, corresponde a uma cotação de 102,2 da obrigação Engil 2013/2016, valor observado no passado mês de maio e a 103 em abril. É normal que, à medida que se aproxima a maturidade da emissão, no dia 18 de março de 2016, acrescida da significativa queda das obrigações no último mês, a cotação seja hoje mais baixa que há alguns meses.

Alguns fatores estão a pressionar os resultados da construtora portuguesa, o que se reflete na descida de quase 65% da ação desde o máximo atingido há um ano, nos 6,40€, para 2,20€, e, consequentemente na subida do risco e da taxa de juro da obrigação 2013/2016. A queda do preço do petróleo, com maior preponderância desde novembro passado, após a OPEP ter mantido a sua produção, tem colocado em causa os orçamentos de países africanos, nomeadamente Angola, onde a Mota-Engil tem significativa carteira de obras públicas. Este país africano reduziu as despesas no seu orçamento para 2015 devido à menor receita do petróleo, cortando consideravelmente nas obras públicas e afetando deste modo a Mota-Engil.

Também a presença da Mota-Engil no Brasil tende a diminuir, após a construção de vários estádios para o Mundial 2014, e devido ao enfraquecimento da economia brasileira, da subida da inflação e das taxas de juro, e da existência de alguma tensão política.
Podemos apontar como pontos fortes da Mota-Engil quer o regresso da atividade económica portuguesa, ainda que provavelmente pouco substancial, mas que poderá dar um novo impulso às obras públicas, quer o novo quadro de apoio comunitário 2014-2020, que trará para o país cerca de 25 mil milhões de euros, à volta de 15% do PIB nacional. Entre 1989 e 2013, Portugal recebeu mais de 96 mil milhões de euros em fundos comunitários.

De salientar que a rentabilidade da obrigação Mota-Engil 2013/2016 é relativamente elevada (cerca de 5%), o que reflete algum risco do título. Taxas de 5% são comparáveis às do financiamento da SAD do FC Porto há algumas semanas. Por isso, a cotação da ação também se ressentiu e perdeu 50% nos últimos 6 meses. Esta nova emissão 2016/2020 com um cupão de 3,9% é arrojada, mas, muito provavelmente, será bem-sucedida, quer pelos pontos positivos da empresa, quer pela falta de alternativas com rendimento semelhante: para maturidades de quatro anos, tanto as outras empresas do PSI 20 como o Estado português pagam taxas bastante mais baixas.


In Vida Económica, 26 de junho de 2015.

Paulo Monteiro Rosa, economista.

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.