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sexta-feira, 12 de junho de 2015

Mais cedo ou mais tarde a tempestade perfeita vai chegar

Desde o início do ano duas das três principais bolsas chinesas registam ganhos bastante significativos. A bolsa de Shanghai sobe 58% e a bolsa de Shenzhen ganha 112%. Se este comportamento se mantiver até ao final do ano, a bolsa de Shenzhen registará uns impressionáveis 270% de crescimento em 2015! A bolsa da região autónoma chinesa, Hong Kong, sobe 15%, aquém das suas congéneres. O facto de não ter um peso tão significativo de empresas tecnológicas e uma maior exposição a empresas imobiliárias, que neste momento começam a corrigir após uma década em que os preços das casas quadruplicaram em Hong Kong, justifica este desempenho mais fraco da bolsa desta região autónoma.

Em 2014, as bolsas de Shenzhen e Shanghai subiram, ambas, cerca de 50%, valores inferiores aos registados neste momento com apenas cinco meses.

Mas o que é Shenzhen? Um nome muito pouco familiar para quase todas as pessoas do mundo, apesar dos seus telemóveis ou televisores usarem componentes eletrónicos aí produzidos. Há 30 anos, Shenzhen era pouco mais que uma pequena vila chinesa de pescadores contígua a Hong Kong. Hoje, é uma região extremamente industrializada, com um crescimento exponencial.

A sua posição geográfica, junto a Hong Kong, conferiu-lhe uma oportunidade ímpar para o seu crescimento, devido à facilidade de escoamento das suas mercadorias, através de Hong Kong, para todo o mundo. No fundo, foi um crescimento de Hong Kong para além das suas fronteiras, com mão de obra barata que não pára de chegar à região, todos os dias, vinda de todos os pontos rurais da China.

Esta região é um ponto de referência há mais de cinco anos para quem compra produtos tecnológicos na China via internet, desde telemóveis a máquinas fotográficas.Cerca de 90% das compras em sites chineses são efetuadas através de empresas que estão, ou adquirem os seus produtos, em Shenzhen. Muitos vendedores da empresa de comércio eletrónico chinesa Alibaba são desta região ou vendem a partir de Shenzhen.

Shenzhen é o Silicon Valey chinês. Denominada a cidade mundial da tecnologia. Shenzhen, a cidade mais importante em todo mundo na produção de componentes eletrónicos. Todos conhecem Paris como a cidade luz ou Roma a cidade eterna, e Shenzhen é hoje conhecida como a cidade do hardware. É nesta região que são fabricados a maior parte dos "chips" a nível mundial. A China é uma fonte de concorrentes para o mercado mundial, sendo o maior mercado de componentes eletrónicos em todo mundo, e Shenzhen é a sua montra. No entanto, a especulação pode já ter chegado a estas paragens, espelhada na exuberância do índice tecnológico de Shenzhen desde o início do ano. Shenzhen é o equivalente à bolha tecnológica, em 2000, nos EUA.

O principal índice tecnológico dos EUA, o Nasdaq, subiu 100% entre março de 1999 e março de 2000, máximo verificado antes da correção. Em 1998 tinha subido 46%. Muitas empresas que estão entre as maiores do mundo nasceram nesta região da Califórnia apelidada de Silicon Valey, como a Apple, Google, Facebook, AMD, Ebay, Cisco Systems, Yahoo, Hewlett-Packard (HP), Intel, Microsoft entre muitas outras. Existiam muitas mais, mas a bolha das "dotcoms", em 2000, encarregou-se de fazer a triagem entre o joio e o trigo. Só as empresas mais fortes sobreviveram.

A bolha nas obrigações, a valorização dos mercados acionistas norte-americanos, com máximos atingidos ainda a semana passada, a incerteza grega, os problemas na Ucrânia, a bolha tecnológica chinesa, os valores elevados do imobiliário em Hong Kong e noutras paragens do globo, tudo alicerçado nas políticas monetárias inflacionistas dos principais bancos centrais, quer através de taxas de juros muito perto de 0%, quer pelos QE (Quantitive Easings) são ingredientes mais que suficientes para uma tempestade perfeita nos mercados. Mais cedo ou mais tarde.

In Vida Económica, Paulo Monteiro Rosa, 12 junho de 2015




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