Since December 25th, 2010

Translate

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

E agora, lutar ou fugir?



A Correção chegou ao outro lado do Atlântico. Os mercados acionistas norte-americanos registaram a pior semana desde 2011, a refletir não só o abrandamento da produção industrial chinesa dos últimos 6 anos, mas também o receio quanto ao arrefecimento da economia dos EUA.

Os alertas não são de agora. Há vezes meses, mesmo já durante o ano de 2014, os sinais de correção estavam de certa forma implícitos. O imobiliário na China e Hong Kong está a níveis exorbitantes há vários anos e mesmo nos EUA já se encontra neste momento aos níveis de 2006, perto do auge antes da crise do imobiliário neste país. O esmagamento das taxas de juro pelos principais bancos centrais do mundo, através de agressivas políticas monetárias inflacionistas, através da criação de mais dinheiro, através de cedência de liquidez aos bancos e mais tarde sucessivos “Quantitative Easings” (QE), bem como pela descida das taxas de juro de referência para valores praticamente de 0%, descidas artificiais e a pisar terreno jamais experienciado no passado. A queda das obrigações. A descida acentuada das bolsas chinesas tem arrastado os mercados dos países emergentes, nomeadamente os asiáticos, e agora está a atingir as praças europeias e norte-americanas. Os problemas geo-políticos em várias regiões.

A desvalorização da moeda chinesa, o yuan-renminbi, há duas semanas, não é mais que um reflexo à desvalorização consecutiva do dólar americano (USD), do iene japonês (JPY) nos últimos anos e à queda do euro no último ano, tudo reflexo dos “Quantitatives Easings” e das descidas das taxas de juro pelos bancos centrais destas zonas económicas. As autoridades chinesas estão apenas a ajustar a sua moeda às principais moedas mundiais. No entanto esta atitude demonstra também a fraqueza que se assiste na China, plasmada na correção dos mercados acionistas e no abrandamento, para mínimos dos últimos 6 anos, do forte ritmo de crescimento da produção industrial a que todos estavam habituados a assistir na segunda maior economia do mundo.

O preço das matérias-primas em mínimos espelha a diminuição da procura mundial. O petróleo cotado nos EUA, o WTI de nova Iorque, baixou, pela primeira vez desde 2009, dos 40 USD/Barril. Este é a maior referência para a cotação do petróleo mundial a par do Brent de Londres. O petróleo desce há 8 semanas consecutivas, o maior ciclo de quedas desde 1986.

No 2º trimestre do ano os lucros das empresas que compõe o S&P500, um dos principais índices acionistas norte-americanos, cresceram ao ritmo mais baixo dos últimos 6 anos. Os lucros subiram em média apenas 0.07 USD/ação relativamente ao trimestre homólogo de 2014. A preocupação da Reserva Federal dos EUA deixou de ser o “timing” da subida das taxas de juro, e passou a ser a baixa inflação e o abrandamento económico. A bolsa de Shanghai registou nesta segunda-feira a maior queda desde 2007.

O que os investidores devem fazer agora? Lutar ou fugir? A emoção não se deve apoderar das decisões dos investidores. Este devem ser racionais, disciplinados. Perante a forte queda das bolsas americanas muitos investidores, que até agora se mantinham fieis e firmes a aguentar as suas carteiras, não acreditando que os mercados poderiam encetar uma correção a qualquer momento, descurando os sinais que iam surgindo, entraram agora em pânico e querendo desfazer-se de todos os títulos em carteira, alienar tudo. Um “panic sell” não é salutar…

O ser humano, a par dos animais mais evoluídos, é dotado de uma parte primitiva junto ao tronco cerebral, o complexo reptiliano. Uma ferramenta de sobrevivência imprescindível, que nos diz, perante uma ameaça, se devemos lutar ou fugir. O investidor que não consegue lidar com estes sinais emanados do nosso cérebro vai entrar em pânico, não conseguindo perceber se perante a ameaça da queda dos mercados deve fugir, alienando toda a carteira, ou enfrentar a correção dos mercados e esperar por um “pullback”, uma recuperação em alta depois das fortes descidas, porque por vezes os mercados amplificam as quedas. Deve, racionalmente, enfrentar a ameaça e analisar se consegue superá-la ou não.
Um investidor assustado não deve descurar o seu instinto de sobrevivência: Lutar ou fugir. Este existe para o ajudar. Jamais deve entrar em pânico, sob pena de ser mal sucedido…

Paulo Monteiro Rosa, 24 de Agosto de 2015

Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue

Seguidores

Economista

A minha foto
Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.