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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

LUTAR OU FUGIR?

Os títulos das notícias de bolsa não enganam: "o pior mês do ano da Bolsa de Lisboa", "a pior semana nos EUA desde 2011" e podíamos continuar...

Os alertas não são de agora. Vêm, pelo menos, desde 2014, quando os sinais de correção estavam implícitos: o imobiliário na China e em Hong Kong está a níveis exorbitantes há vários anos; nos EUA já se encontra aos níveis de 2006, perto do auge antes da crise do "sub-prime"; o esmagamento das taxas de juro pelos principais bancos centrais do mundo, quer através de agressivas políticas monetárias inflacionistas, quer por via da cedência de liquidez aos bancos, os sucessivos "Quantitative Easing" (ou programas de compras de ativos), bem como a descida das taxas de juro de referência para valores praticamente de 0% (algumas são mesmo negativas) contribuíram para descidas artificiais em terreno nunca experimentado.

A desvalorização recente da moeda chinesa, o vuan-renminbi, não é mais que um reflexo da desvalorização consecutiva do dólar americano (USD), do iene japonês (JPY) nos últimos anos e da queda do euro no último ano, tudo reflexo dos "Quantitative Easing" e das descidas das taxas de juro pelos bancos centrais destas zonas económicas.

As autoridades chinesas estão apenas a ajustar a sua moeda às principais moedas mundiais. No entanto, esta atitude demonstra também a fraqueza a que se assiste na China, plasmada na correção dos mercados acionistas e no abrandamento, para mínimos dos últimos seis anos, do forte ritmo de crescimento da produção industrial a que todos estavam habituados.

O preço das matérias-primas em mínimos espelha a diminuição da procura mundial. O petróleo cotado nos EUA, o WTI de Nova Iorque, desceu, pela primeira vez desde 2009, abaixo dos 40 USD/Barril. A cotação do petróleo desce há quase nove semanas consecutivas, o maior ciclo de quedas desde 1986, tendo apenas observado um interregno na semana passada.

No 2º trimestre do ano os lucros das empresas do S&P500 cresceram ao ritmo mais baixo dos últimos seis anos. Os lucros subiram em média apenas 0.07 USD/ação relativamente ao trimestre homólogo de 2014.

A preocupação da Reserva Federal dos EUA, para além do "timing" da subida das taxas de juro, passou a ser a baixa inflação e o abrandamento económico quer norte-americano, quer chinês. A bolsa de Shanghai registou, há uma semana, a maior queda desde 2007.

O que os investidores devem fazer agora? Lutar ou fugir? Perante a forte queda das bolsas americanas muitos investidores, que até agora mantinham firmes as suas carteiras, não acreditando que os mercados podem encetar uma correção a qualquer momento, entraram em pânico e quiseram desfazer-se de todos os títulos. É a atitude típica do "panic sell".

O ser humano é dotado de uma parte primitiva junto ao tronco cerebral, o complexo reptiliano, uma ferramenta de sobrevivência, que nos diz, perante uma ameaça, se devemos lutar ou fugir. O investidor que não consegue lidar com estes sinais emanados do cérebro entra em pânico, tendo dificuldade em perceber se perante a queda deve fugir, vendendo tudo, ou enfrentar a correçáo esperar por um "pullback", uma recuperação em alta. Mesmo assustado, o investidor não deve descurar o seu instinto de sobrevivência: lutar ou fugir? Ele existe para o ajudar. Jamais deve entrar em pânico, sob pena de ser mal sucedido...

Paulo Rosa, In Vida Económica, 4 de setembro. Escrito dia 1 de setembro.

 



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.