Since December 25th, 2010

Translate

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A BOLSA EM TEMPO DE GUERRA

Qualquer foco de instabilidade (política, geoestratégica, segurança) gera sempre uma maior aversão ao risco nos investidores. No caso de ações terroristas, as empresas de turismo e de bens de luxo costumam estar entre as que sofrem maiores impacto imediato. É normal que haja já uma retração do turismo em Paris, um dos maiores destinos a nível mundial, na sequência dos atentados de dia 13 de novembro. A pujante classe média-alta chinesa pode refrear as suas viagens a Paris e afetar negativamente a economia parisiense. A empresa francesa de bens de luxo, Louis Vuitton, pode ser penalizada, embora o seu desempenho em bolsa desde os atentados tenha estado estável. Mas também há empresas que costumam sair beneficiadas. É normal que empresas ligadas à segurança, ao armamento e equipamento militar valorizem nas próximas semanas. A resposta francesa aos ataques vai intensificar-se e o Governo já anunciou que em tempo de guerra não se controla o défice, porque é necessário aumentar o orçamento da Defesa.

A guerra ao terrorismo assumida pela França será apoiada não só pelos aliados, mas principalmente pela Rússia, depois de ter sido apurado que a queda do avião civil que ligava a instância turística no Egipto à Rússia, no mês de outubro, se deveu a uma ação terrorista. O sector gaulês da defesa já capitalizou com os atentados, com a Thales a subir 5.8%, batendo máximos históricos, e a Dassault System subiu 1.56%. As restantes cotadas neste sector tiveram capitalizações interessante, caso dos ganhos de 8.47% da BA Systems, 4.78% da Boeing e 8.35% da Raytheon.

A bolsa de Paris, na semana seguinte aos acontecimentos terroristas, teve um desempenho positivo, ainda que ligeiro, com uma subida de 2.2%. Não seria de esperar que a bolsa se ressentisse, devido ao aumento da aversão ao risco?

As principais bolsas a nível internacional estiveram pressionadas desde o início de novembro, por causa de dados da economia dos EUA, incluindo o relatório do emprego. Voltaram os receios quanto à subida das taxas de juro por parte da Reserva Federal dos EUA. Os futuros negociados na bolsa de Chicago (CME Group) passaram a descontar uma subida de taxas do dólar para 0.5% desde essa data. No entanto, dados avançados pelo presidente do Banco Central Europeu, Mário Draghi, sobre uma política monetária inflacionista, cada vez mais agudizada, permitiram ao mercado subir nos dias seguintes aos atentados. 
Se os atentados tivessem acontecido com o mercado aberto, nas bolsas a nível mundial ter-se-ia instalado o pânico e as quedas seriam imediatas. Não foi o caso, com o fim-de-semana a dar tempo para uma total informação sobre o sucedido na noite de sexta em Paris.

Na segunda-feira, 16 de novembro, 3 dias após os ataques terroristas, os investidores, calmamente, a frio e sem pânicos, analisaram o mercado, e apesar de existir uma ameaça, que não era uma novidade, a segurança, e o estado de alerta, aumentaram significativamente, traduzindo-se em maior tranquilidade e menor instabilidade e volatilidade para os mercados. É pertinente referir o indicador UBS "Dynamic Equity Risk Indicator", que mede o apetite pelo risco dos investidores, teve um aumento de (-0.086 pontos) no dia 13 de novembro para 0.451 pontos no dia 20 de Novembro. Antes de serem divulgados os dados relativos ao emprego nos EUA, no dia 6 de novembro, este indicador estava nos 0.5 pontos e a seguir desceu até ao dia dos atentados em Paris. 
 

In Vida Económica, 27 de novembro 2015, Paulo Rosa


 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue

Seguidores

Economista

A minha foto
Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.