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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A ORIGEM DAS CRISES FINANCEIRAS



O dinheiro criado pelos bancos centrais, ao abrigo de diversos planos de "estímulos à economia", não foi emprestado às empresas, para que retomassem o investimento, criassem emprego e a economia crescesse, porque já existia um ótimo na utilização da capacidade empresarial instalada. Esse dinheiro novo foi largamente aplicado nos mercados financeiros, criando bolhas financeiras que, quando surgir o ajustamento, poderão repercutir-se na economia real, tal como aconteceu em 2008. Ainda o ano passado, o programa de Quantitative Easing (QE) do Banco Central Europeu (BCE), trouxe dinheiro novo que serviu para estimular as obrigações e o mercado de ações durante alguns meses, com o principal índice alemão, o Dax, a subir cerca de 30% desde janeiro até meados de abril. Tinha ganhado, por antecipação, mais de 10% de setembro de 2014 até ao final desse ano.

Se por absurdo todas as pessoas estivessem doentes, então o PIB seria zero, porque não haveria ninguém para produzir, para cuidar das crianças e dos mais velhos. Uma população extremamente envelhecida tem um impacto idêntico a uma população doente. Se por absurdo só existissem idosos a necessitar de cuidados de saúde, a riqueza produzida seria zero, porque tal como uma população doente, não haveria ninguém para trabalhar! Então se a população, de um modo geral, não está doente como é possível existirem crises económicas? O dinheiro criado pelos bancos centrais gera ciclos económicos. Acelera os períodos expansionistas e amplifica, devido ao necessário ajustamento de um “boom” artificial”, as fases de crise e depressão económica.
As inovações tecnológicas, o surgimento de novas energias, podem criar um atrito pontual na economia, mas jamais crises. Bem pelo contrário, a riqueza e as condições de vida melhoram.

Mesmo o choque petrolífero de 1973, com os preços do petróleo a quadruplicaram, que transferiram riqueza dos países não produtores dessa matéria-prima para os que a produziam, contribuíram para uma crise económica que foi intensificada pelas políticas monetárias inflacionistas dos bancos centrais. A Reserva Federal dos EUA havia enveredado por políticas expansionistas para colmatar a crise económica de 1970, o crescimento do seu défice comercial e os danos provocados pelo fim do sistema monetário Bretton Woods em vigor desde 1944, e suspenso unilateralmente pelos EUA em agosto 1971, altura em que a Fed Funds Rate era de 5.5%. Em outubro de 1973, início da subida do preço do petróleo, estava nos 10%.



O dinheiro criado pelos bancos centrais não é economicamente real?

Para receberem o novo dinheiro do BCE os bancos nacionais entregam, em troca, títulos de dívida pública. Porém, os montantes de moeda e de poupança na economia ficam enviesados pela entrada deste novo dinheiro. Os detentores de poupança, além de a verem perder valor, serão impelidos a gastar mais porque o stock de moeda aumenta, logo a taxa de juro desce e já não compensa poupar. Alguns investimentos, alicerçados nessa poupança, ficam sem suporte.

Os novos investimentos procuram setores com rentabilidades aliciantes e de curto prazo. Neste momento, poderemos estar a assistir a um novo boom, ainda que muito contido, na construção em Portugal. Existem nos créditos à habitação de 1.75% e com os indexantes em todos os prazos negativos, quer sejam a Euribor a 3 meses, 6 meses ou 12 meses. A partir de 2011 os spreads, em Portugal, subiram de 1% para níveis à volta dos 5%, e o mercado imobiliário sofreu uma retração e a construção esteve parada nos últimos 4 anos.

A riqueza produzida por um país não pode ser estimulada por mais consumo. Como referia o economista francês Frédéric Bastiat, na "Falácia da Janela Quebrada", se uma criança parte um vidro, o pai vai ter que pagá-lo, estimulando a indústria vidreira. Mais crianças partissem vidros e a indústria vidreira e a economia por arrasto teriam um forte impulso. Todavia, o pai da criança ao pagar o vidro ficaria sem dinheiro, por exemplo, para comprar uns sapatos, e esta indústria seria penalizada. É uma soma nula, uma falácia. Quando consumimos um produto, não só abdicamos de consumir outro, como o dinheiro que é utilizado para consumo não poderá ser poupado e haverá menos dinheiro para novos investimentos.

Na década 30, o famoso confronto entre Keynes e Hayek acabou por definir a economia moderna, com a maioria das vozes a dar vitória ao primeiro. A doutrina de Keynes passou a ser uma referência para os governantes vindouros que, para enfrentar as crises económicas originadas pelos bancos centrais, endividam-se sucessivamente para financiar os gastos públicos, como preconizava Keynes, e perversos efeitos crowding out surgem, que no longo prazo levarão a crises económicas e à necessidade de ajustamentos. É uma política muito popular e apreciada pelos políticos e pela sua agenda eleitoral. Em 1974, a dívida pública portuguesa era de 15% do PIB, os cofres estavam vazios de dívida, hoje é de 130%.

Hayek media a riqueza produzida com triângulos. Estes eram constituídos por vários estágios, desde a extração à distribuição e consumo, passando pela produção e armazenagem, que iam aumentando de tamanho devido ao valor acrescentado do estágio anterior para o seguinte. Os triângulos eram tantos maiores, e logo maior a riqueza produzida (PIB), quantos mais estágios tivessem, dependentes de inovação e desenvolvimento (I&D). Mais estágios conduziriam ao deslocamento para a direita da curva de possibilidades de produção. Uma maior produção de máquinas, com capital proveniente da poupança real, levaria a uma maior produção de bens. Apesar dos recursos serem escassos, com maior produtividade poderemos obter mais riqueza.

Para debelar as crises económicas, deveremos enveredar por políticas que estimulem a poupança e o investimento e diminuam a intervenção dos Bancos Centrais, nesta matéria. Talvez, focando-se quase exclusivamente numa cabal supervisão do sistema bancário.

Paulo Rosa, economista, In Vida Económica 12 de fevereiro de 2016




 

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.