A
descida das taxas por parte do Banco Central Europeu (BCE) e a injeção de
dinheiro através do "Quantitative Easing" têm garantido a liquidez e
solvabilidade ao setor bancário europeu. No entanto, a redução das taxas
diminui a rentabilidade à banca. Segundo analistas, por cada 10 pontos base de
descida da taxa de juro pelo BCE, a rentabilidade dos bancos desce 5%. Dados
revelados pelo FMI esta semana concluem que os juros negativos podem tirar 40%
dos lucros da banca nacional. Ou seja, o problema dos bancos não é tanto de
liquidez ou de solvência, mas de rentabilidade.
Os depósitos à ordem que são utilizados para conceder crédito - com base no
regime de reservas fracionárias que rege o sistema bancário, espelhado na legislação
como depósitos irregulares art. 1205º Código Civil – têm vindo a registar uma
redução das margens dos bancos no que concerne aos empréstimos concedidos. Os
depósitos à ordem não têm qualquer remuneração. Os bancos não pagam, por regra,
juros nos depósitos à ordem e a receita gerada pelo seu empréstimo tem descido,
porque se empresta cada vez mais a taxas mais baixas.
No entanto, os bancos têm conseguido assegurar alguma rentabilidade
beneficiando dos ganhos na carteira própria, que gera lucros com a subida das
bolsas, das ações e das obrigações, impulsionadas pelas medidas monetárias
expansionistas do BCE.
Quando os mercados começarem a corrigir, a rentabilidade dos bancos poderá
descer drasticamente e gerar um ciclo vicioso: a queda das ações dos bancos
arrastará a queda da bolsa que desvalorizará a carteira própria dos bancos, e,
consequentemente, penalizará as cotações dos bancos…
No início do ano, a banca europeia foi dos setores mais penalizados, mas as
preocupações resultavam sobretudo da descida da cotação do petróleo e do
desempenho da economia chinesa. Os problemas que a banca poderá atravessar nos
próximos tempos pela manutenção das taxas baixas, na sua maior parte negativas,
pode não estar ainda totalmente interiorizados pelos investidores.
O elevado crédito malparado é outro problema que preocupa os gestores
bancários, e não é só em Portugal. Ainda esta semana, vários analistas referiram
que os resultados da banca norte-americana neste primeiro trimestre devem ser
mais fracos por essa razão.
Os bancos ganham dinheiro com os empréstimos concedidos, com os ganhos da
carteira própria, com a intermediação financeira e comissões cobradas pela
manutenção da conta, pela custódia de títulos, com lançamentos de operações
mensais desde créditos à habitação passando pelo pagamento de dividendos, entre
outras. Assim sendo, as comissões tenderão a ser cada vez mais elevadas para
compensar as perdas nos outros negócios. A banca vai preferir arriscar menos e
cobrar mais pelos seus serviços, dando sustentabilidade e solidez ao sistema
bancário.
A economia portuguesa tem um crescimento anémico há quase 15 anos que se deve
manter, senão mesmo agudizar. O frágil crescimento também penaliza os
resultados bancários. Os principais bancos portugueses, o BCP, o antigo BES, a
Caixa Geral de Depósitos, sobrevivem há anos através de sucessivos aumentos de
capital, com injeções de dinheiro por parte dos donos.
O desempenho em bolsa dos bancos cotados não deve ser animador nos próximos
tempos, tal como não o foi desde 2000, com perdas à volta dos 90%. Quem detinha
ações do BCP em 2000, e as manteve até hoje, está a perder cerca de 97.5%, além
de que teve que acompanhar os aumentos de capital, colocar mais dinheiro no
banco. O BPI perde 80% desde o início de 2008.
Paulo Rosa In "Vida Económica" 15 de abril de 2016
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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