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sexta-feira, 15 de abril de 2016

UMA DÉCADA PERDIDA PARA A RENTABILIDADE DA BANCA

A descida das taxas por parte do Banco Central Europeu (BCE) e a injeção de dinheiro através do "Quantitative Easing" têm garantido a liquidez e solvabilidade ao setor bancário europeu. No entanto, a redução das taxas diminui a rentabilidade à banca. Segundo analistas, por cada 10 pontos base de descida da taxa de juro pelo BCE, a rentabilidade dos bancos desce 5%. Dados revelados pelo FMI esta semana concluem que os juros negativos podem tirar 40% dos lucros da banca nacional. Ou seja, o problema dos bancos não é tanto de liquidez ou de solvência, mas de rentabilidade.

Os depósitos à ordem que são utilizados para conceder crédito - com base no regime de reservas fracionárias que rege o sistema bancário, espelhado na legislação como depósitos irregulares art. 1205º Código Civil – têm vindo a registar uma redução das margens dos bancos no que concerne aos empréstimos concedidos. Os depósitos à ordem não têm qualquer remuneração. Os bancos não pagam, por regra, juros nos depósitos à ordem e a receita gerada pelo seu empréstimo tem descido, porque se empresta cada vez mais a taxas mais baixas.

No entanto, os bancos têm conseguido assegurar alguma rentabilidade beneficiando dos ganhos na carteira própria, que gera lucros com a subida das bolsas, das ações e das obrigações, impulsionadas pelas medidas monetárias expansionistas do BCE.

Quando os mercados começarem a corrigir, a rentabilidade dos bancos poderá descer drasticamente e gerar um ciclo vicioso: a queda das ações dos bancos arrastará a queda da bolsa que desvalorizará a carteira própria dos bancos, e, consequentemente, penalizará as cotações dos bancos…

No início do ano, a banca europeia foi dos setores mais penalizados, mas as preocupações resultavam sobretudo da descida da cotação do petróleo e do desempenho da economia chinesa. Os problemas que a banca poderá atravessar nos próximos tempos pela manutenção das taxas baixas, na sua maior parte negativas, pode não estar ainda totalmente interiorizados pelos investidores.

O elevado crédito malparado é outro problema que preocupa os gestores bancários, e não é só em Portugal. Ainda esta semana, vários analistas referiram que os resultados da banca norte-americana neste primeiro trimestre devem ser mais fracos por essa razão.

Os bancos ganham dinheiro com os empréstimos concedidos, com os ganhos da carteira própria, com a intermediação financeira e comissões cobradas pela manutenção da conta, pela custódia de títulos, com lançamentos de operações mensais desde créditos à habitação passando pelo pagamento de dividendos, entre outras. Assim sendo, as comissões tenderão a ser cada vez mais elevadas para compensar as perdas nos outros negócios. A banca vai preferir arriscar menos e cobrar mais pelos seus serviços, dando sustentabilidade e solidez ao sistema bancário.

A economia portuguesa tem um crescimento anémico há quase 15 anos que se deve manter, senão mesmo agudizar. O frágil crescimento também penaliza os resultados bancários. Os principais bancos portugueses, o BCP, o antigo BES, a Caixa Geral de Depósitos, sobrevivem há anos através de sucessivos aumentos de capital, com injeções de dinheiro por parte dos donos.

O desempenho em bolsa dos bancos cotados não deve ser animador nos próximos tempos, tal como não o foi desde 2000, com perdas à volta dos 90%. Quem detinha ações do BCP em 2000, e as manteve até hoje, está a perder cerca de 97.5%, além de que teve que acompanhar os aumentos de capital, colocar mais dinheiro no banco. O BPI perde 80% desde o início de 2008.

Paulo Rosa In "Vida Económica" 15 de abril de 2016



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.