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sexta-feira, 20 de maio de 2016

A RELAÇÃO FATAL ENTRE A EDP RENOVÁVEIS E O CRUDE

Depois do terramoto no Japão, a 11 de março de 2011, e as repercussões na central nuclear nipónica de Fukushima, muito países, incluindo a Alemanha, afirmaram que iriam reduzir a capacidade de geração de energia através do nuclear, ou mesmo acabar com todas as centrais nucleares. Entre meados de 2011 e meados de 2012, o preço do petróleo caiu dos 117 dólares para os 80 dólares por barril. Cerca de um ano depois do desastre de Fukushima, e perante a forte queda da cotação do petróleo, a EDP Renováveis (EDPR) começou a subir sustentadamente. Terá sido coincidência?
No primeiro trimestre de 2016, a energia produzida pelas centrais eólicas foi muito significativa, e os preços da eletricidade na Alemanha chegaram mesmo a ser negociados a valores negativos, devido à energia acumulada. Nalgumas centrais nucleares, a venda foi feita a qualquer preço, caso contrário essa energia seria perdida.

Em Portugal, a empresa que mais poderá beneficiar de uma conjuntura antinuclear é a EDPR. A empresa tem uma dimensão significativa, com uma capitalização bolsista de quase seis mil milhões de euros, cerca de três vezes mais que o BCP. Foi das primeiras empresas eólicas do mundo e é uma das principais produtoras de energia eólica, à escala internacional. Por ser detida maioritariamente pela EDP (com 77,5% do capital), a EDPR é um alvo pouco apetecível para um investidor que pretenda tomar uma posição de relevo. A sua cotação dificilmente subirá pela via da contestabilidade e disputa de controlo. Em contrapartida, o facto de estar ligada a uma empresa bastante sólida, embora bastante endividada – a EDP – garante-lhe alguma estabilidade.

A cotação da EDP Renováveis segue o preço do petróleo: quando a cotação do barril do petróleo baixa, a energia passa a ser produzida em maior quantidade através dos derivados do petróleo nomeadamente nas centrais termoelétricas, pelo que a cotação da EDPR entra em queda e vice-versa. No entanto, a partir de meados de 2014 essa correlação foi quebrada. Apesar da queda do preço do petróleo, a cotação da EDPR continuou a subir, muito provavelmente, pelas intenções de vários países, nomeadamente da Alemanha, em terminar com a produção de energia nuclear.

A rentabilidade do dividendo (dividend yield) é muito pouco atrativa e não é motivo para o bom desempenho da cotação nos últimos quatro anos. Este ano a empresa pagou cinco cêntimos de euros, o que corresponde a uma rentabilidade de 0.8%. Este nível de remuneração é muito pouco aliciante quando comparada com os dividendos na praça portuguesa na casa dos 5%, na EDP, nos CTT, na Navigator ou na Altri. Não sendo por pagar um bom dividendo, a valorização da EDPR em bolsa espelha as elevadas expectativas quanto aos resultados futuros da empresa.
Em 2015, "grosso modo", o cash flow operacional (EBITDA) cresceu cerca de 25% e a empresa espera que cresça a uma taxa de 20% ao ano nos próximos. Os resultados operacionais (EBIT) cresceram 37% em relação ao ano anterior.

A EDPR sempre colmatou os fracos resultados, fruto de uma receita relativamente baixa e aos elevados investimentos, com os subsídios estatais. A cotação foi bastante penalizada há anos quando foi anunciado que as ajudas governamentais iriam diminuir ou mesmo acabar. Porém, a cotação tem-se mantido firme em alta nos últimos anos, sinalizando que a empresa poderá sobreviver bem sem ser subsídio-dependente. É verdade que nos últimos 12 meses, a EDPR caiu cerca de 1%. Mas nesse mesmo período, o PSI 20 perdeu 20,5%.

Paulo Rosa, In "Vida Económica" 20 de maio de 2016


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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.