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sexta-feira, 13 de maio de 2016

OS CAMIÕES E AS CRISES

Nos EUA há um índice que mede a venda de camiões de grandes dimensões, os chamados "Heavy Weight Truck". Antes do início das recessões económicas e quedas significativas das bolsas em 1990, 2000 e 2008, este índice tinha começado a cair um ou dois anos antes, em 1988, 1999 e 2006 respetivamente. Há uma má notícia: este índice começou a cair em novembro passado. Só o tempo dirá se estamos à beira de uma nova recessão. Estes camiões são utilizados em obras de grande dimensão, na exploração de metais, nas minas, na construção de autoestradas, de edifícios, entre outros. Muitos deles estão nos primeiros estágios da produção, onde se regista um relativo abrandamento da atividade.

Apesar de algum alívio em alta nos últimos dois meses, as matérias-primas ("commodities") têm registado mínimos dos últimos anos. A cotação do petróleo desceu até os mínimos de 2003 nos 27 dólares/barril, o preço do ferro está em mínimos de 2009 e, há dois meses, o índice das "commodities" medido pela Bloomberg chegou perto dos mínimos de há 25 anos. Os receios quanto a um abrandamento económico na China e nas economias emergentes, bem como a efetiva diminuição da procura destes países pressionou os preços em baixa nos últimos tempos.


Nos EUA a diminuição da venda de camiões "pesos pesados" pode sinalizar uma redução das obras públicas e do nível da construção civil de maior dimensão. Um desinvestimento nestes sectores, e a respetiva diminuição da capacidade instalada, pode indiciar menor investimento na construção de casas e no consumo, que já não mostram a vivacidade dos últimos 6 anos.

Os dados do mercado de trabalho norte-americano continuam relativamente robustos, apesar de no passado 6 de maio, os dados de abril terem saído ligeiramente abaixo do que era esperado. As vendas a retalho, o 2º indicador mais importante depois do mercado de trabalho, mostram alguma fraqueza, de mês para mês, desde março de 2015. São já 14 meses… algo que não acontecia desde 2008.

Se estivermos realmente próximos de uma recessão, os mercados de ações norte-americanos iniciarão uma tendência de baixa que se repercutirá nas restantes bolsas mundiais, incluindo a bolsa portuguesa que já se encontra debilitada. A FED teria que reverter a sua política contracionista, iniciada em dezembro passado com a subida taxa de juro de referência, e voltar à política expansionista descendo novamente a taxa para o intervalo [0%-0.25%], algo que seria, também, um revés na credibilidade da FED.

Nada do que dependa da economia portuguesa pode ser um catalisador para subidas das ações da praça de Lisboa. A economia portuguesa limita-se a crescer anemicamente e a bolsa perde cerca de 7% desde o início do ano. Depois do que aconteceu com a resolução do BES em agosto de 2014, com o regresso de várias séries de obrigações sénior do Banco Novo ao BES e a resolução do Banif, não podemos esperar que os investidores estrangeiros se mostrem interessados em investir.

Paulo Rosa, In Jornal "Vida Económica", 13 de maio de 2016



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.