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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

É SEXTA-FEIRA! QUERO UM BOM INVESTIMENTO JÁ!

Quem trabalha numa sala de mercados, já atendeu muitos clientes a perguntar por títulos seguros. Estes investidores querem comprar algo que seja seguro e chegam mesmo a sugerir algumas hipóteses, acreditando que há casos de empresas que seria impossível vê-las falir ou desvalorizar muito. Estas perguntas abundam em períodos em que, como agora, "os depósitos a prazo no banco não dão nada!"

Não há títulos seguros em termos absolutos. Há apenas títulos mais seguros que outros, em termos relativos.

A casa financeira Jefferies, no passado 2 de setembro, reviu em baixa o preço alvo dos CTT de 11 para 7 euros, alterando a recomendação de comprar para manter. O título CTT é visto por uma boa parte dos investidores como um "título seguro". Se cair um pouco é de comprar porque vai sempre recuperar e dar um bom encaixe no futuro. No entanto, no último ano, os resultados não superaram as expetativas dos investidores. O negócio tradicional dos CTT e que corresponde à área não liberalizada, o correio postal, está em declínio. A distribuição de encomendas postais tem muitos concorrentes e mais eficientes. O recém-criado Banco Postal, apesar dos custos terem sido baixos, não tem sido a mais-valia que se esperava, não só porque o negócio ainda tem muito caminho para fazer até chegar ao break-even (ponto de equilíbrio no balanço) mas principalmente pelo momento menos favorável que o setor bancário está a passar.

Pois este título, que aparentemente os investidores têm como seguro e sólido, já perdeu cerca de 40% desde novembro do ano passado. Títulos seguros? Podemos afiançar títulos mais seguros que muitos outros, mas não conseguimos apontar um que seja seguro e totalmente isento de risco. Até um certificado de aforro, dos ativos financeiros mais seguros que existem, tem o seu risco inerente. Esta conclusão sobre o risco dos ativos financeiros ficou mais percetível desde a crise financeira de 2008...


A Navigator, antiga Portucel Industrial, é um bom título, uma exportadora de excelência, com elevada rentabilidade do dividendo (dividend yield). É um título seguro? Vamos ganhar sempre dinheiro? Ninguém pode garantir. A procura de pasta de papel pode diminuir caso se passe a utilizar menos papel por alguma razão tecnológica. Mas a Navigator também produz energia através da biomassa! E quem nos garante que não aparecem outras empresas com uma energia nova no futuro?
No curto prazo – durante uma semana ou alguns meses haveralgum desfasamento entre a cotação de uma ação e o valor da empresa, mas no longo prazo a cotação reflete quase sempre o valor da empresa. Exceção feita, muitas vezes, às ações de empresas muito especulativas, em fase de falência ou que apresentam os relatórios e contas atrasados em mais de três anos.

Ou seja, quando existe uma significativa assimetria de informação, a negociação destes títulos é realizada exclusivamente por especuladores e/ou profissionais, não se aconselhando o investidor particular a alimentar qualquer propensão para investir nestas empresas.

Paulo Rosa, In jornal semanário "Vida Económica", 30 de setembro de 2016



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.