A 29 de outubro de 1929, terça-feira negra, quantidades massivas de
ações da Bolsa de Nova Iorque foram postas à venda, mas não havia
compradores. Anos antes, no meio da euforia, os bancos permitiam a
compra de 10 ações a quem tivesse dinheiro para uma. À medida que as
cotações subiam, a bolha ia sendo alimentada.
A crise
financeira de 2008, como a de 1929, tiveram na génese políticas
monetárias expansionistas das autoridades monetárias. A evolução das
taxas de juro da FED na década anterior a cada uma das crises parece
tirada a papel químico, como se vê no gráfico.
A Reserva
Federal dos EUA, FED, desceu as taxas de juro de referência, de 6% em
2000 para 1% em 2003, para tentar controlar os efeitos do rebentamento
da bolha das "dotcom", causada pelo acesso ao capital barato na década
de 90. Acabou por criar uma falsa poupança e crédito barato, que levaram
à duplicação dos preços das casas nos EUA, de 2003 a 2006.
Quando a Reserva Federal subiu as taxas de 1% para 5%, entre 2003 a
2006, os agentes económicos não conseguiram pagar as prestações e os
preços das casas caíram. A falência das famílias aumentou e culminou na
crise do sub-prime. Mais tarde, viria a resultar na crise das dívidas
soberanas dos países periféricos da Zona Euro e a colocar em causa a
sobrevivência da moeda euro.
Em 1929 aconteceu o mesmo: a taxa
de juro da FED era de 7% em 1921 e de 2,5% em 1925. No final de 1929 já
se encontrava de novo nos 6%. A história já mostrou que os bancos
centrais só compram tempo. Apesar de atualmente os Estados não poderem
ser financiados diretamente pelos bancos centrais, as operações de
cedência de liquidez pelos bancos centrais são feitas convencionalmente
com títulos da dívida pública. Os bancos compram obrigações do tesouro
aos Estados, financiando os orçamentos dos governos, que usam como
garantia para obter financiamento e nova moeda junto dos bancos
centrais. Os bancos centrais mais não fazem do que financiar as dívidas
dos Estados, com a intermediação dos bancos.
Há vários filmes e
documentários sobre a crise de 2008. O "Inside Job" é um dos mais
conhecidos e realista, mas conta a história do meio para a frente. Como
numa ecografia feita no 4º mês de gestação, o "Inside Job" nada refere a
respeito dos primeiros 4 meses.
Em 1929, os carros ficaram na
linha de produção das fábricas. Não houve uma crise de superprodução
porque a maior parte das pessoas não tinha automóvel. Os carros não
tiveram compradores devido ao desfasamento entre a poupança e a política
monetária da FED. O governo dos EUA, tentou travar a queda dos preços,
através da manutenção dos salários nominais. O resultado foi a falência
das empresas pelo aumento dos custos laborais reais e subida do
desemprego. As autoridades optaram por políticas económicas
expansionistas. O aumento de impostos para compensar a despesa pública, o
protecionismo e a diminuição das taxas de juro agudizaram a crise.
Esta política, ainda hoje em voga, parte erradamente do princípio de
que o consumo é o motor da economia, mas o verdadeiro fermento do
crescimento económico é o investimento. Para haver consumo, tem que
existir antes poupança e investimento. São o aforro, o investimento e a
propensão do ser humano pelo conhecimento do mundo que o rodeia que
estão na génese do crescimento económico.
Paulo Rosa, In Jornal Semanário "Vida Económica" 28 de Outubro 2016.
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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