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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

ERA UMA VEZ NA AMÉRICA...

Quem será melhor para a economia e para as bolsas, Donald Trump ou Hillary Clinton? Estas eleições são, talvez, uma exceção do que aconteceu nos EUA nos últimos 200 anos. Um povo dividido - cerca de dois terços dos brancos apoiam Trump e a maior parte dos hispânicos e dos afro-americanos votam Hillary. Em termos de evidência histórica do Dow Jones desde 1901 até 2016, uma vitória de Hillary Clinton seria mais desejável para os mercados. O DJ teve um retorno médio anual de 7% com presidentes democratas, contra os 3% de retorno médio em administrações republicanas. As presidências democratas têm tendência para políticas expansionistas mais expressivas, quer monetária quer orçamental? Talvez. Mas se forem criadas bolhas, através de políticas monetárias bastante inflacionistas por parte da FED e aumento do orçamento federal através de mais despesa pública e subida dos impostos, elas terão que ser corrigidas mais tarde ou mais cedo.

Há quem refira que uma governação de Hillary seria mais previsível que uma governação de Trump. Mas uma vitória de Hillary pode resultar num impasse no capitólio, parlamento dos EUA, com um congresso atualmente controlado pelos republicanos. A maioria dos senadores (câmara alta) e da casa dos representantes (câmara baixa) são republicanos, o que pode contribuir para mais investigações sobre os e-mails de Hillary, a Fundação Clinton e alegadas corrupções, levando a um eventual "impeachment" (destituição).

Apesar de existirem fatores que beneficiam mais um ou outro candidato há uma estatística importante: a economia e o mercado foram penalizados a seguir às eleições de 1992, 2000 e 2008. Nos últimos oito anos, a economia dos EUA subiu, mas começa a arrefecer. Numa situação de pleno emprego - a taxa de desemprego está abaixo dos 5% - a economia deveria crescer cerca de 3%, mas cresce apenas 1%. A correção pode estar a caminho, seja quem for o próximo presidente.

As sondagens nas últimas semanas têm encurtado a distância entre Trump e Clinton. Hillary foi perdendo a vantagem e muitas sondagens apontam para um empate técnico. Os mercados também têm corrigido e boa parte dos analistas justifica as perdas do mercado com esse facto, o que mostra que estariam mais confortáveis com uma vitória de Hillary. Porém, os dados macroeconómicos mais fracos nos EUA, e uma possível subida das taxas de juros por parte da Reserva Federal no próximo mês podem ser a verdadeira razão do fraco desempenho dos mercados acionistas nos últimos dias.

O índice S&P 500 tem lateralizado desde julho e está em mínimos dos últimos quatro meses, descendo 5% desde os máximos históricos atingidos em agosto, nos 2193 pontos. Neste momento está perto da média móvel de 200 dias (MA200) que passa nos 2080 pontos, que é uma fronteira entre um mercado "bull" (altista) e um mercado "bear" (de baixa). O Nasdaq 100 já perdeu 4% desde o máximo de 25 de outubro até 1 de novembro. A descida do Nasdaq 100 pode ter mais relação com a eventual bolha que existe no setor, alimentada pela falta de alternativas, com taxas de juro negativas e pelos resultados trimestrais abaixo das estimativas, do que pelas sondagens das eleições.

Paulo Rosa, In "Vida Económica" 4 de novembro 2016





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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.