Since December 25th, 2010

Translate

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

NOVEMBRO: UM BOM MÊS PARA POUPAR E INVESTIR

O Estado Português vai realizar uma nova emissão de Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), que será a terceira desde a criação deste produto destinada ao mercado de retalho, no montante de 500 milhões de euros. Esta subscrição, dirigida ao público em geral, arrancou a 14 e termina a 25 de novembro. Trata-se de um título de dívida a cinco anos, com reembolso em 30 de novembro de 2021, sendo os juros pagos semestralmente.

O investimento mínimo é de mil euros e em múltiplos desse valor até ao máximo de um milhão de euros. A OTRV será admitida à cotação na Euronext, como as duas emissões já existentes. Estas últimas cotam acima de 100, ou seja, se o investidor pretender vender agora o seu investimento vai receber um valor superior ao que investiu, o que dá mais garantias e entusiasmo à presente emissão. A cotação em bolsa varia de acordo com a evolução das taxas de juro: negativamente, se subirem as taxas de juro da dívida soberana portuguesa e positivamente com taxas de juro mais altas do mercado monetário, no caso, se a taxa Euribor a 6 meses subir.

A taxa de juro é de 2% acrescida da Euribor a 6 meses que, caso seja negativa como acontece atualmente, não será tida em conta. Há mais de um ano que as taxas Euribor a 6 meses estão em terreno negativo. Se as taxas de juro subirem nos próximos cinco anos, então a remuneração será maior. Há comissões bancárias de subscrição e amortização, guarda de títulos e pagamento de juros a ter em conta, bem como 28% de imposto a pagar, como acontece sempre que há pagamento de juros e dividendos.

Nas duas operações anteriores, em abril e agosto, os juros eram a taxa fixa de 2.2% e 2.05%, respetivamente. A taxa desta terceira emissão é de 2%, ligeiramente mais baixa que as anteriores, mas esta opção do Estado é justificada pela elevada procura nas emissões anteriores, pelas reduzidas taxas de juro dos depósitos a prazo, o produto de poupança preferido dos portugueses, que estão muito próximas de zero, e pela evolução das taxas de juro no mercado da dívida. Para dar um exemplo, no início de novembro, a taxa das Obrigações do Tesouro (OT) a cinco anos cotava à volta dos 1.8%, esta semana foi aos 1.95%, mas abaixo dos 2% garantidos pelo Estado.

Os títulos de dívida emitidos pelo Estado, ou por qualquer outra entidade, não têm todos o mesmo risco. Normalmente o risco é mais elevado quanto maior for a maturidade, o prazo contado desde a emissão até ao reembolso, do título em causa. Temos mais certezas no curto prazo com base em tendências e notícias e a incerteza aumenta com o tempo. As expetativas para inflação também influenciam as taxas de juro de longo prazo.

As OTVR são muito semelhantes aos Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro no que concerne à perceção de risco. Têm um caráter de aforro e destinados ao público em geral, pelo que deverão estar poupados a perdas em caso de renegociação de dívida, ou bancarrota (default). O mercado de dívida esteve vedado à Grécia e a Portugal durante os períodos de resgate. Porém a República Helénica continuou a financiar-se no mercado através da emissão de Bilhetes do Tesouro. Portugal emitiu sempre BT entre abril de 2011, quando pediu ajuda externa, e junho de 2014. Na Grécia a reestruturação da dívida pública, de abril de 2012, apenas penalizou as OT. Os BT foram sempre pagos integralmente. Se os BT, instrumentos de dívida de curto prazo e cuja emissão em mercado primário é assegurada por bancos, foram sempre pagos, a probabilidade de um instrumento de dívida criado para o retalho, como as OTRV, ser sempre pago é mais elevada.

Tendo em conta o risco implícito, as OTRV têm uma rentabilidade muito atrativa face às alternativas para o mesmo nível de taxa de juro. As OT a 5 anos rendem atualmente 1.95% e têm um risco mais elevado que as OTRV, sendo mais propensas a um "haircut" em caso de reestruturação da dívida soberana portuguesa. Se a Euribor a 6 meses passar para cerca de 2%, as OTRV pagam 4%, uma taxa bastante interessante face a títulos com um risco significativamente mais alto como as obrigações da SAD do FC Porto ou da SAD do Benfica…

Paulo Rosa, Semanário "Vida Económica", 18 novembro 2016


Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue

Seguidores

Economista

A minha foto
Naturalidade Angolana
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.