Quando Donald Trump foi eleito para a presidência dos EUA, a 8 de
novembro, as cotações das empresas de energias renováveis (EDP, EDPR, as
alemãs RWE e E.ON, as espanholas Iberdrola e Endesa e elétricas
americanas, entre outras) caíram imediatamente, em reação à pouca
simpatia de Trump por energias verdes. Isto numa altura em que o mercado
vive um "rally Trump" impressionante de final de ano, algo que não se
verificava nos últimos anos. O mercado acionista está entusiasmado com o
impulso que Donald Trump promete dar à economia norte-americana, e por
arrasto à economia mundial, através do aumento da despesa pública e da
descida de impostos, prolongando o ciclo de crescimento da economia dos
EUA, que dura há oito anos. Porém, e Inevitavelmente, veremos a dívida
pública norte-americana aumentar, quando já se encontra em níveis
substancialmente elevados, e muito dificilmente se manterá o crescimento
por muito mais tempo.
As expectativas em torno da subida das
taxas de juro nos EUA e da evolução da sua política monetária também
animaram o mercado, num mês que costuma ser bem mais calmo.
O
preço do petróleo também subiu, mas a principal razão não foi o facto de
Trump ter convidado o presidente da Exxon Mobil para Secretário de
Estado. Foi o acordo, entre os países da OPEP, para reduzir a produção
em 1,2 milhões de barris diários no final de novembro e em 1,8 milhões
de barris a partir de janeiro.
Segundo os analistas,
historicamente, a taxa de cumprimento do que é acordado nas reuniões da
OPEP situa-se entre os 50 e os 80%.
Há sempre um país que fura o
acordo, tradicionalmente entre os que produzem barato, na casa dos 5 a
15 dólares por barril, como a Arábia Saudita e países da península
arábica, para não perderem quota de mercado.
Devido à indexação
das receitas do petróleo às despesas públicas dos países, como na
Argélia ou em Angola, os países produtores sentem-se mais confortáveis
com preços altos apesar do risco de perda da quota de mercado. Dado que o
último acordo foi realizado entre membros da OPEP e outros países, como
a Rússia, a probabilidade de incumprimento é ainda maior.
A
perda de quota de mercado dá-se, nomeadamente, para o "Shale Oil"
(petróleo de xisto) cujos poços podem ser reabertos com facilidade e sem
investimentos avultados. A OPEP há muito que deixou de ser um fixador
de preço e está, neste momento, entre a espada e a parede porque ao
reduzir a produção para tentar pressionar o preço em alta, os países que
formam o cartel correm o risco de perder quota de mercado e receitas.
Aliás, o fixador do preço de mercado passou a ser o custo de produção
do "Shale Oil", nomeadamente dos produtores norte-americanos, que ronda,
hoje em dia, valores entre os 50 e os 55 dólares por barril. À medida
que os progressos tecnológicos vão avançando, os custos de produção vão
diminuindo e o preço do petróleo também. Por absurdo, se os custos de
produção do petróleo de xisto norte-americano, e também das "Oil Sands"
(petróleo betuminoso do Canadá e da Venezuela), descesse para 20
USD/barril, então o preço do petróleo baixaria para esses valores.
Para Portugal, país importador de petróleo, é sempre negativa a subida
do preço. A subida sistemática dos preços dos combustíveis nas últimas
semanas, e mesmo meses, é causada não só pelo aumento do preço do barril
de petróleo, mas também pela subida do dólar em relação ao euro, mais
acentuada após a eleição de Donald Trump.
A economia portuguesa
é muito sensível ao preço do petróleo, apesar de existir um crescente
peso das energias renováveis. O Orçamento do Estado para 2017 baseia-se
numa previsão de 51.3 dólares por barril. No Orçamento de Estado para
2017, o Governo prevê que um preço acima dos 20% estimados tenho um
impacto negativo de 0.2 pontos percentuais no PIB. Atualmente o Brent de
Londres, que serve de referência para Portugal, cota bem acima nos 56
dólares.
Caso o preço do barril continue a subir ainda mais, os
impactos negativos no PIB, na balança comercial e na dívida pública
serão consideráveis. Porém, se o petróleo voltar à casa dos 40 ou mesmo
30 dólares, o impacto pode não ser muito positivo, pode não ser muito
relevante porque a economia portuguesa tem um crescimento bastante
anémico e que, provavelmente, continuará no próximo ano.
Paulo Rosa, Semanário "Vida Económica", 16 de dezembro 2016
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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