O "debt-ceiling" representa o limite de endividamento dos EUA.
Trata-se de um limite, definido no Congresso, ao montante de dívida que
pode ser contraído pelo governo federal. O primeiro limite foi
estabelecido em l917, há 100 anos, nos 11,5 mil milhões de dólares. Hoje
está muito perto dos 20 biliões de dólares, 1700 vezes superior ao
inicial, e representa cerca de 110% do PIB norte-americano.
Em
outubro do ano passado os republicanos, que eram e continuam a ser
maioria no Congresso após as eleições de novembro, acordaram com a
antiga administração Obama uma extensão do "debt-ceiling" até 16 de
março de 2017. O acordo previa a suspensão do limite de empréstimos por
parte do Tesouro norteamericano com o intuito de evitar o incumprimento e
era justificado com a subida de gastos na defesa.
Para a
semana esse acordo vai terminar, mas muito provavelmente o Congresso
renovará a suspensão ou decidirá até aumentar o limite ao endividamento,
uma vez que os republicanos estão na administração e dominam o
Congresso. Mas o problema permanece e agudiza-se porque a dívida pública
dos EUA está em níveis preocupantes, e poderá aumentar devido aos
possíveis défices orçamentais fruto da política orçamental da
administração de Donald Trump refletida na diminuição de impostos e
aumento da despesa pública.
Desde 2010, a dívida pública
norte-americana quase duplicou. Os entraves legais ao aumento da dívida
soberana, com os seus freios e contrapesos, têm sido inócuos a ponto de
não terem impedido a subida exponencial da dívida pública. Para que
serve, então, a existência de um teto para a dívida plasmado na lei
quando é sistematicamente quebrada essa mesma regra? Há seis anos, em
julho e início de agosto de 2011, os mercados foram marcados por um
receio crescente, à medida que se aproximava o dia limite do
"debt-ceiling", a 2 de agosto. A volatilidade e a incerteza marcaram
várias semanas estivais nas bolsas a nível mundial. Uma luta de forças
no Congresso entre democratas - que não tinham a maioria, mas era deles a
administração Obama e pretendiam subir o teto - e os republicanos que
não cederam até a última hora em que o país iria ficar sem dinheiro para
pagar aos funcionários públicos e todos os compromissos que o Tesouro
norte-americano tinha assumido. Teria sido a falência dos EUA. As
próprias casas de rating de crédito ameaçaram com isso mesmo,
dispondo-se a cortar a notação de crédito dos EUA. A Moodys, em meados
de julho de 2011, colocou sob "vigilância negativa" a dívida soberana
dos EUA. Isso vem sendo feito há quase um século desde a criação dessa
mesma regra. O "debt-ceiling" foi sempre sendo ajustado para cima, de
acordo com as crescentes necessidades de financiamento para compensar
por vezes os défices orçamentais, que seriam espelhados na subida da
dívida pública...
Um ajustamento de acordo com a evolução da
inflação não seria problemático, mas usá-lo para financiar o crescente e
sistemático aumento da dívida pública é bastante perigoso para a
economia dos EUA, que já padece de desequilíbrios ao nível orçamental e
cronicamente há 40 anos a nível comercial, os denominados défices
gémeos.
Em Portugal, há anos, nomeadamente desde a crise
financeira de 2008 e a crise das dívidas soberanas dos países europeus
periféricos, que se vem falando de um teto para a dívida pública. De uma
dívida de 60% do PIB, o máximo permitido para a entrada no euro, para
uma dívida de 130% do PIB, de hoje, vai um salto de gigante. Colocar
esse entrave, esse teto na Constituição da República Portuguesa teria
algum efeito? Não iria acontecer o mesmo que se verifica nos EUA?
Paulo Rosa, Jornal "Vida Económica", 10 de março 2017
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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