No Jornal de Negócios de 14 de março, o jornalista Rui Barroso
avisou: "as empresas do PSI 20 vão abrir os cordões à bolsa para premiar
os acionistas. E há mesmo três cotadas que vão pagar aos investidores
mais que o lucro que obtiveram no ano passado". O artigo explica que o
dinheiro a entregar aos acionistas subiu 20% em relação ao montante
distribuído em 2016. Com mais 350 milhões de euros, os dividendos das
principais cotadas vão chegar aos 2200 milhões de euros. Distribuir a
quase totalidade dos lucros pelos acionistas não costuma ser uma boa
notícia para o futuro da empresa. Mas distribuir mais do que os lucros, é
um caso que merece reflexão. Não que seja inédito.
Mas em
2017, depois de todas as lições que a crise, e a História, nos
ensinaram, há três empresas que vão dar a ganhar aos donos mais do que
elas próprias ganharam: Sonae Capital, Nos e CTT. Pelo interesse que
desperta junto dos investidores particulares, vejamos o caso dos CTT. Em
2016, os resultados dos CTT desceram 14%, de 72 milhões de euros para
os 62 milhões de euros (M€), abaixo dos 64 M€ esperados pelos analistas.
O cash flow operacional desceu 24%, dos 134 M€ para os 102 M€,
justificados principalmente pela queda do correio tradicional. A
diminuição no uso de correio por parte da Autoridade Fiscal teve um
impacto de cerca de 10 milhões de euros na redução das receitas. No
último ano os resultados não vinham superando as expectativas, e na
bolsa o preço da ação já tinha antecipado resultados fracos com uma
queda de 50% desde os máximos nos 10.49 €/ação em 11 de novembro de
2015.
O correio postal está em declínio, a distribuição de
encomendas tem muitos concorrentes e mais eficientes e o recém-criado
Banco Postal, apesar dos custos terem sido baixos, não tem sido a
mais-valia que se esperava, não só porque o negócio ainda tem muito
caminho a percorrer até chegar ao break-even (quando a receitas
ultrapassam as despesas) mas principalmente pelo momento menos favorável
do setor bancário. Porém, a empresa liderada por Francisco Lacerda
mantém um dividendo bastante atrativo de 0.48 euros por ação, algo que
só se consegue justificar com o intuito da administração fidelizar ou
agradar à estrutura acionista. Esta política de dividendos já foi
adotada pela Portugal Telecom com os resultados que se conhecem, bem
como pela Brisa com consequências nada positivas…
No curto
prazo, uma rentabilidade elevada do dividendo ("dividend yield") na casa
dos 10%, atrai investidores que procuram rendimento. Mas no médio/longo
prazo, investidores que procuram estabilidade nos dividendos e
crescimento da empresa tendem a afastar-se. Distribuir mais do que os
resultados obtidos, não só não gera poupança para novos projetos, como
retira dinheiro às poupanças que suportam o negócio ou, pior, implica
aumento de dívida. Numa gestão mais prudente, com distribuição de metade
dos lucros, o dividendo deveria ser de 0.20 €/ ação. Será de 0.48 euros
por ação, com um payout ratio (parte dos resultados distribuídos) de
quase 120%! Teve lucros de 62 milhões de euros e vai distribuir 72
milhões em dividendos! Se a principal empresa portuguesa de correios não
conseguir nos próximos tempos melhorias nos resultados terá, então,
apenas duas alternativas: ou mantém a sua política suicida de dividendo e
a descapitalização da empresa, ou assume uma postura responsável e
ajusta os dividendos aos resultados gerados.
Depois da
divulgação dos resultados, a ação CTT registou um novo mínimo histórico
nos 4.741€, 55% abaixo do máximo histórico. Os CTT entraram em bolsa há 3
anos a 5.52€. Onde é que já ouvimos esta história?
Paulo Rosa, Jornal "Vida Económica", 17 março 2017
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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