Desde 2009, a economia norte-americana cresce anualmente a um ritmo
entre 1.5% e os 3%, bastante mais que a Zona Euro. Nas épocas festivas é
esperado que o PIB cresça mais. Na Páscoa esse desempenho será mais
percetível na Europa, enquanto que no dia de “Ação de Graças”
(Thanksgiving), na última quinta-feira de novembro, o PIB dos EUA sai
mais beneficiado. O Natal é transversal, grosso modo, a todas economias
mundiais. Depois existem as festas localizadas: o novo ano lunar chinês,
o carnaval brasileiro, visita do Papa a Portugal em maio…
Por
que é que as economias tendem a crescer mais nas épocas festivas, como é
o caso da Páscoa? Obviamente, devido ao aumento do consumo que é uma
das variáveis utilizadas para medir o Produto Interno Bruto (PIB =
Consumo + Investimento + Gastos Públicos + Exportações – Importações
traduzido na equação PIB=C+I+G+(X-M)).
Porém, não é correto
inferir aqui qualquer causalidade. PIB=C+I+G+(X-M) é uma identidade, não
é nenhuma função. Uma função pressupõe uma relação, mas não existe
relação causal entre criação de riqueza e consumo. Cria-se riqueza com
base em investimento espelhado na interação do trabalho com bens de
capital. Podemos criar riqueza só com trabalho, mas será residual
comparada com a riqueza que pode ser gerada com a conjunção de trabalho e
capital. A riqueza é função do investimento e da poupança que suporta o
investimento (PIB=f(Investimento)).
Em suma, a medida do PIB é
apenas contábil, e o consumo é o resultado final de qualquer sociedade, e
não a causalidade da riqueza. Um incêndio ou uma guerra geram mais
consumo na reconstrução de casas, por exemplo. Aumenta o PIB, mas no
final o património da nação permanece o mesmo, ou seja, não houve
criação de riqueza.
O multiplicador keynesiano parte do princípio
que um euro gasto terá sempre como retorno um valor igual ou superior a
1 euro. O multiplicador, neste caso do consumo, é traduzido pela fração
[1/(1-c)], indica que a riqueza produzida seria infinita se o consumo
também o fosse, o que não teria lógica económica.
Na pré-história
só existia consumo através de atividades recolectora e de caça. Com o
aparecimento de utensílios e a descoberta da roda temos o primeiro
desemprego em massa, e são libertados recursos humanos para criação de
mais riqueza, bem-estar, progresso civilizacional. Só o investimento
cria riqueza. E de modo análogo, podemos inferir que no futuro
longínquo, quando forem construídos bens que, por absurdo, não tenham
desgaste e sejam eternos, não haveria mais consumo... E, obviamente,
seria o investimento que estaria na origem desse hipotético estágio
avançado, e final, da economia.
Então o consumo nesta época
festiva da Páscoa não é benéfico para as economias e para as empresas?
Claro que é bastante positivo para algumas empresas, nomeadamente as
retalhistas, restauração, turismo… Os lucros serão maiores e poder-se-ão
repercutir em subidas nas cotações. Mas estamos a falar de uma fase
final do consumo. O investimento que é feito “ex-ante” tem como objetivo
uma vida melhor refletida em mais bens e de melhor qualidade. O
investimento cria riqueza para vivermos melhor. O investimento é a causa
do consumo. O consumo é a consequência, e o objetivo, do investimento.
Segundo o Paradoxo da Poupança, princípio proposto pela primeira vez
por John Maynard Keynes, a tentativa de uma determinada sociedade para
aumentar a poupança pode resultar na redução do montante que é poupado.
Por exemplo, numa situação de recessão ou de estagnação económica, se a
população aumentar a sua taxa de poupança, isso irá contribuir para o
agravamento da retração do consumo, da produção e do emprego e,
consequentemente da poupança.
Por que há então crises económicas
com aumento da poupança monetária e a liquidação de processos de
produção? Porque tal é uma consequência e não uma causa. Uma
consequência das políticas expansionistas dos bancos centrais que
enviesam o investimento, a poupança e o consumo, como Friedrich Hayek
demonstra nos seus triângulos que medem a riqueza produzida, através dos
vários estágios de produção. Esta, na realidade, uma boa forma de
calcular o PIB. A poupança real diminui devido à política do Banco
Central através da redução das taxas de juro… o que não aconteceria caso
as taxas de juro fossem encontradas no mercado entre quem poupa e adia o
consumo e quem antecipa o seu consumo e não tem dinheiro suficiente
para o fazer. Em síntese final, a minha poupança não é a tua perda por
não venderes mais produtos. A minha poupança é o teu aumento de
rendimento por teres dinheiro para investir devido ao aforro.
O investimento em Portugal é baixo em relação ao consumo, e essa é uma das causas para os crescimentos anémicos que temos tido.
Paulo Rosa, jornal semanário "Vida Económica" 13 de abril 2017
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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