Esta sexta, a DBRS, a única agência de “rating” que permite a
Portugal aceder ao programa de compra de títulos e injeção monetária do
Banco Central Europeu, vai pronunciar-se sobre a sustentabilidade da
dívida pública portuguesa e sobre o seu “rating” (notação ou
classificação). Apesar de não se esperar que desça para um nível de
“Junk Bond” (a que se chama “lixo”, “high yield”, não investimento,
investimento especulativo), também não se espera que haja qualquer
revisão em alta.
Para que a notação de rating tenha uma
expectativa mais otimista e seja revista positivamente pela empresa
canadiana DBRS, o rácio dívida/ PIB nominal terá que baixar e mostrar que
consegue manter esse curso. É de esperar que essa decisão não tenha
qualquer impacto no custo de financiamento do país, visto que as taxas a
que negoceiam as obrigações soberanas não são reflexo da notação de
crédito da República. Os investidores acreditam que o BCE manterá as
taxas de juro mais baixas do que seria de esperar.
Apesar do governo
ter apresentado na semana passada o Programa de Estabilidade e do Plano
Nacional de Reformas, que a médio prazo podem ter um impacto positivo,
mas não devem alterar a classificação da qualidade da nossa dívida
pública.
A dívida pública portuguesa continua acima dos 130% do
PIB nominal e permanecem os défices públicos, apesar de em 2016 ter sido de
apenas de 2%. O serviço da dívida, ou seja, o pagamento dos juros,
contribui para esse desequilíbrio. Atualmente o saldo primário das
contas públicas, que exclui o pagamento dos juros, é positivo. Porém,
enquanto tivermos défices orçamentais superiores ao crescimento
económico, designadamente à riqueza nominal, o rácio da dívida pública em relação ao PIB nominal vai sempre
crescer, e a aversão ao risco de os investidores estrangeiros aumentar.
A variação da dívida pública é idêntica ao valor do saldo orçamental nominal.
A probabilidade das casas de classificação de crédito (agências de
rating de crédito como a S&P, a Moody’s, a Fitch e a DBRS)
melhorarem a perspetiva é cada vez menor e, num futuro próximo, e caso a
dívida pública continue a aumentar, pode mesmo dar-se o caso de uma
revisão em baixa do “rating” da dívida portuguesa.
Apesar de ter
melhorado um pouco, o crescimento da economia portuguesa continua
anémico, aquém dos 2%. Imaginemos que o crescimento da economia nacional
era de 4% e o défice orçamental de 2%, então teríamos, grosso modo, uma
descida de dois pontos percentuais da dívida pública de 131% para 129%,
apenas pelo efeito do crescimento económico.
Quando teremos
crescimentos de 4% ou 5%? Provavelmente, mais depressa o défice
orçamental volta para a casa dos 3% ou 4%, do que a economia nacional
apresenta um crescimento sustentável e duradouro. A economia portuguesa é
competitiva via preço, com mão-de-obra intensiva, e enquanto este não
evoluir para uma economia assente no aumento da produtividade e na
competitividade extra-preço e de capital intensivo, os crescimentos
continuarão anémicos, penalizados também pelo fator demográfico de
envelhecimento da população.
A DBRS poderá também ter em conta
dois fatores externos: a política de estímulo monetário em curso na Zona
Euro e o calendário e ritmo de uma futura subida de taxas, o
posicionamento do BCE em relação à dívida portuguesa e o compromisso de
manter Portugal na Zona Euro, através de uma vigilância apertada das
contas públicas e uma supervisão eficiente aos principais agentes
económicos.
E a S&P, a Fitch e a Moody’s só alterarão
positivamente o seu “rating” sobre a dívida pública portuguesa quando
existir evidência suficiente de que as fragilidades atuais estão a ser
debeladas e quando a probabilidade de Portugal honrar os seus
compromissos e pagar a dívida for elevada. Ou seja, o rácio de dívida
pública/PIB nominal precisa de baixar antes de se iniciar um novo ciclo de
subida de juros que inflacione as taxas da nossa dívida pública.
Paulo Rosa, Jornal semanário "Vida Económica" 21 abril 2017
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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