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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O FUTURO DAS MOEDAS VIRTUAIS

A bitcoin (BTC), a cripto-moeda com maior potencial para vir ser a uma moeda comumente aceite, não reúne, para já, os três requisitos para ter sucesso: servir como meio de troca, como unidade de conta e como reserva de valor. A aceitação da Bitcoin está confinada a alguns negócios “legítimos”, como angariação de fundos, mas provavelmente também é usada no crime organizado. É pouco usada como unidade de conta pois até os maiores entusiastas da criptomoeda a valoram noutras moedas, nomeadamente em dólares e euros. A reserva de valor pressupõe estabilidade e a Bitcoin tem registado um comportamento errático desde o seu nascimento em 2009. Poderá, no futuro, vir a cumprir estes três requisitos, mas para já não cumpre.

Nas ditas moedas convencionais, com o seu cariz fiduciário como o euro e o dólar, os Bancos Centrais simplesmente imprimem mais dinheiro quando optam por uma política monetária expansionista. Aqui, o dinheiro não é impresso – é descoberto. Milhões de computadores à volta do mundo “mineram” moedas e competem uns com os outros.

A bitcoin não é, atualmente, uma oportunidade de investimento, mas é uma oportunidade de “trade” que deve ser acompanhada diariamente. A especulação, como mostra a sua volatilidade, é muita e o facto de poder ser usada em pagamento de negócios ilícitos pode ser um forte incentivo à sua procura e subida da cotação.

Segundo o departamento da ONU para o Crime e Drogas, hoje o crime organizado deverá ascender a 2 biliões de dólares, cerca de 3.6% do PIB mundial. Atualmente, segundo a “Bitcoin Block Half”, existem 16.5 milhões de bitcoins em circulação, quase 80% dos 21 milhões que podem ser “minerados”, e o último só poderá ser decifrado daqui a 123 anos em 2140. Com o crescente controlo de capitais e da moeda física em todos os países do mundo - ainda há poucas semanas foi aprovada em Portugal legislação que impede pagamentos em notas acima dos 3 mil euros – as bitcoins facilitam os pagamentos no crime organizado. A cotação atual da bitcoin é de 3400 euros, logo, no total, existem 56 mil milhões de euros equivalentes em bitcoins (3400 euros X 16,5 milhões de BTC), cerca de 30% da moeda existente em Portugal, 30 vezes menor que o montante total anual do crime organizado. Se, por hipótese, todo o crime organizado fosse efetuado em bitcoins, então a sua cotação rondaria os 100 mil euros ou 120 mil dólares (30 X 3400 euros X 16.5 milhões de bitcoins). Um potencial de subida de 30 vezes, 3000%, face à atual cotação.

A mineração tem os seus custos crescentes à medida que vão sendo decifrados códigos de novas bitcoins. Só compensa continuar a minerar se a cotação da bitcoin for também subindo para acompanhar o aumento dos custos em processadores e computadores mais potentes. Poderá também ser um estímulo a avanços tecnológicos no âmbito da construção de computadores com “hardware” cada vez mais sofisticado.

O sistema financeiro convencional, quer se goste ou não, continua inabalável perante a subida e maior confiança na bitcoin. Os Estados têm o poder do controlo da moeda, quer seja impressa quer seja virtual, a par do poder do lançamento de impostos.

O investimento não é massificado, apenas pontual e reservado a conhecedores do sistema da Bitcoin mais propensos ao risco, mais jovens e da área dos mercados financeiros, da informática e das engenharias. Existem muitas plataformas para fazer “trades” constantes e diários em BTC, nomeadamente através de instrumentos alavancados como CFD (“Contrats For Difference” - Contratos pela Diferença), sendo a prova cabal da especulação existente na sua negociação… Existem várias casas financeiras reputadas na negociação de Forex e CFD que não permitem negociação de BTC. Existem também casas onde se pode adquirir mesmo a criptomoeda BTC, e não um derivado, para guardar no computador ou vender mais tarde.

Em suma, apesar de não ter qualquer estatuto de moeda e de existir uma total incógnita quanto ao seu futuro, a bitcoin poderá ainda ter potencial de subida devido à especulação, ao hipotético crescimento dos pagamentos de negócios ilícitos e ao custo crescente para descobrir novas moedas, que começam a escassear. Quanto às outras criptomoedas que vão surgindo, parece que o maior móbil para a sua subida seja mesmo a especulação. Fortes “crashs” nestas moedas, bem como o seu desaparecimento são hipóteses bastante plausíveis.





Paulo Rosa, semanário "Vida Económica", 1 de setembro 2017

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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.