A Standard & Poor's (S&P), uma das três principais
casas de classificação de crédito (credit rating), após 5 anos e 9 meses, desde
13 de janeiro de 2012, retirou a classificação da dívida portuguesa de "BB
+", no estágio denominado "Junk bond" (obrigações especulativas)
para o nível "BBB -", passando para a categoria de "Investment
grade" (investimento de qualidade), com uma perspetiva estável.
As ações e obrigações portuguesas reagiram logo em alta: a
banca liderada pelo BCP chegou a subir cerca de 8% e as "yields" das
obrigações do tesouro portuguesas desceram à volta de 10% de 2.75% para 2.5%. A
dívida portuguesa ficou atrativa e menos dependente das compras e da liquidez
que tem sido cedida nos últimos anos pelo Banco Central Europeu (BCE), que tem
mantido as taxas artificialmente baixas.
Os efeitos deste tipo de notícias são imediatos, quer na
queda, quer na subida de rating: há fundos, nacionais e estrangeiros, que só
investem em dívida – seja de países ou de – cujo rating esteja na categoria
investimento ("investment grade", onde se encontram as melhores
notações). Esses grandes investidores podem agora regressar e dar um impulso ao
mercado acionista e também à vertente obrigacionista, levando as taxas de juro
das obrigações a descer e o preço a valorizar. Outro efeito da subida de rating
é a melhoria das condições de financiamento do Estado em novas emissões. O
serviço de dívida (pagamento de juros por parte da República Portuguesa) das
próximas emissões de Portugal, nomeadamente para "rolar dívida"
(novas emissões de obrigações para reembolsar obrigações mais antigas, que
chegam à maturidade e têm que ser saldadas) vai certamente beneficiar com
isso.
Também fundos mais avessos ao risco que alocam apenas uma
pequena parte do dinheiro que lhes é confiado em obrigações especulativas, as
aludidas "Junk Bonds" podem agora investir mais dinheiro na dívida
portuguesa.
O mercado já espera, pela decisão da Fitch, em dezembro, que
pode servir como prova de que as casas financeiras começam a olhar para a nossa
dívida com olhos mais otimistas. A Fitch terá uma reação mais tardia porque
também manteve a sua notação em "investment grade" até mais tarde, 28
de junho de 2012. A Moody's foi a 1ª casa de rating a colocar a dívida pública
portuguesa como "Junk Bond" para Ba2 equivalente a BB na métrica das
outras agências de classificação de crédito.
Porém não nos podemos esquecer que a dívida pública ainda
permanece em níveis muito críticos, à volta dos 130% do PIB nominal, e que o
governo ainda tem muito trabalho pela frente. O défice público deve continuar
controlado e a dívida pública tem que começar a descer nos próximos tempos, sob
pena de voltarmos a descer para patamares de investimento especulativo. A
economia portuguesa precisa de crescer acima dos 2%. O melhor comportamento da
economia europeia dos últimos 10 anos também contribui em parte para esta
melhoria.
Existem, porém, fatores exógenos que, obviamente, não dependem de nós, mas podem condicionar a recuperação da economia portuguesa: o desempenho das bolsas norte-americanas e da sua economia. As praças acionistas dos EUA sobem há mais de 8 anos sem qualquer correção, e começa a não existir suporte da economia real para essas subidas, ou seja, mais cedo ou mais tarde irão corrigir, e quanto mais tarde maior será a queda. Quando isso acontecer, a nossa economia, como é muito aberta, poderá sofrer e voltar a ver descer o rating da nossa dívida…
Paulo Monteiro Rosa, semanário "Vida Económica" 22 de setembro de 2017
Existem, porém, fatores exógenos que, obviamente, não dependem de nós, mas podem condicionar a recuperação da economia portuguesa: o desempenho das bolsas norte-americanas e da sua economia. As praças acionistas dos EUA sobem há mais de 8 anos sem qualquer correção, e começa a não existir suporte da economia real para essas subidas, ou seja, mais cedo ou mais tarde irão corrigir, e quanto mais tarde maior será a queda. Quando isso acontecer, a nossa economia, como é muito aberta, poderá sofrer e voltar a ver descer o rating da nossa dívida…
Paulo Monteiro Rosa, semanário "Vida Económica" 22 de setembro de 2017
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