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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

SOBE O RATING, BAIXA O JURO



A Standard & Poor's (S&P), uma das três principais casas de classificação de crédito (credit rating), após 5 anos e 9 meses, desde 13 de janeiro de 2012, retirou a classificação da dívida portuguesa de "BB +", no estágio denominado "Junk bond" (obrigações especulativas) para o nível "BBB -", passando para a categoria de "Investment grade" (investimento de qualidade), com uma perspetiva estável. 

As ações e obrigações portuguesas reagiram logo em alta: a banca liderada pelo BCP chegou a subir cerca de 8% e as "yields" das obrigações do tesouro portuguesas desceram à volta de 10% de 2.75% para 2.5%. A dívida portuguesa ficou atrativa e menos dependente das compras e da liquidez que tem sido cedida nos últimos anos pelo Banco Central Europeu (BCE), que tem mantido as taxas artificialmente baixas. 

Os efeitos deste tipo de notícias são imediatos, quer na queda, quer na subida de rating: há fundos, nacionais e estrangeiros, que só investem em dívida – seja de países ou de – cujo rating esteja na categoria investimento ("investment grade", onde se encontram as melhores notações). Esses grandes investidores podem agora regressar e dar um impulso ao mercado acionista e também à vertente obrigacionista, levando as taxas de juro das obrigações a descer e o preço a valorizar. Outro efeito da subida de rating é a melhoria das condições de financiamento do Estado em novas emissões. O serviço de dívida (pagamento de juros por parte da República Portuguesa) das próximas emissões de Portugal, nomeadamente para "rolar dívida" (novas emissões de obrigações para reembolsar obrigações mais antigas, que chegam à maturidade e têm que ser saldadas) vai certamente beneficiar com isso. 

Também fundos mais avessos ao risco que alocam apenas uma pequena parte do dinheiro que lhes é confiado em obrigações especulativas, as aludidas "Junk Bonds" podem agora investir mais dinheiro na dívida portuguesa. 

O mercado já espera, pela decisão da Fitch, em dezembro, que pode servir como prova de que as casas financeiras começam a olhar para a nossa dívida com olhos mais otimistas. A Fitch terá uma reação mais tardia porque também manteve a sua notação em "investment grade" até mais tarde, 28 de junho de 2012. A Moody's foi a 1ª casa de rating a colocar a dívida pública portuguesa como "Junk Bond" para Ba2 equivalente a BB na métrica das outras agências de classificação de crédito. 

Porém não nos podemos esquecer que a dívida pública ainda permanece em níveis muito críticos, à volta dos 130% do PIB nominal, e que o governo ainda tem muito trabalho pela frente. O défice público deve continuar controlado e a dívida pública tem que começar a descer nos próximos tempos, sob pena de voltarmos a descer para patamares de investimento especulativo. A economia portuguesa precisa de crescer acima dos 2%. O melhor comportamento da economia europeia dos últimos 10 anos também contribui em parte para esta melhoria. 
Existem, porém, fatores exógenos que, obviamente, não dependem de nós, mas podem condicionar a recuperação da economia portuguesa: o desempenho das bolsas norte-americanas e da sua economia. As praças acionistas dos EUA sobem há mais de 8 anos sem qualquer correção, e começa a não existir suporte da economia real para essas subidas, ou seja, mais cedo ou mais tarde irão corrigir, e quanto mais tarde maior será a queda. Quando isso acontecer, a nossa economia, como é muito aberta, poderá sofrer e voltar a ver descer o rating da nossa dívida…

Paulo Monteiro Rosa, semanário "Vida Económica" 22 de setembro de 2017



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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.