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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Um diagnóstico positivo para o mercado, após o recente "sell-off"


O bom comportamento das bolsas acionistas nas últimas sessões, e após o "sell-off" nos mercados acionistas nas primeiras sete sessões de fevereiro, reconfirmou a permanência do momento altista dos ativos de risco. Os principais índices acionistas, nomeadamente nos EUA, continuam acima das médias móveis dos 200 dias (MA200). O DAX30 está ligeiramente abaixo, mas poderá quebrar em alta a MA200 e chegar aos 13.000 pontos.

Para dissipar as dúvidas legítimas de alguns investidores acerca da força do mercado, na quartafeira, dia 14 de fevereiro, a reação positiva das ações ao Índice de Preços no Consumidor de janeiro, e que saiu nos 2,1%, (contra os 1,9% esperados), realçando a pressão inflacionista da economia dos EUA, corroborou o bom momento do mercado acionista.

Na primeira hora a seguir à divulgação do dado, o futuro do S&P500 e o índice Dax30 caíram cerca de dois pontos percentuais. Posteriormente, anularam todas as perdas e regressaram aos ganhos nesse mesmo dia e, nas sessões seguintes, retomaram as subidas. Finalizaram a semana de 12 a 16 de fevereiro com uma das melhores prestações desde 2011. Tudo leva a crer que o mercado acionista volta a estar formatado apenas para as boas notícias. Os bons números macroeconómicos a nível mundial permanecem intactos. É de esperar um acelerar da subida da taxa de juro do dólar, com maior frequência, por parte da Reserva Federal, mas o mercado acionista permanece resiliente e imune a esse facto.

No entanto, as obrigações seguem pressionadas com a subida das yields das dívidas soberanas, designadamente nos EUA e na Alemanha (T-bonds e Bunds).

Depois da fuga para ativos de menor risco verificada nas primeiras sessões do mês (em particular no dia 5 de fevereiro, segunda-feira negra) eis que o dinheiro volta a sair do mercado obrigacionista e a reentrar na vertente acionista. A colocação de dívida portuguesa, no dia 14 de fevereiro, a 5 e a 10 anos, correu bastante bem, e veio corroborar o bom momento da economia portuguesa e as boas perspetivas para a manutenção do rating no nível de "investimento", isto é, de menor risco.

Um próximo sinal de alerta nos mercados acionistas será a quebra em alta da fasquia dos 3% pela "yield" das Treasuries a 10 anos, a que poderemos assistir, muito provavelmente, nas próximas semanas. Os olhos dos investidores começam a posicionar-se na próxima reunião da Reserva Federal norteamericana a 20 e 21 de março.

Atualmente, o futuro cotado no CME (Bolsa de Derivados de Chicago) referente à taxa de juro da FED para a próxima reunião indica uma probabilidade de 83% de subida de 0,25 pontos percentuais, para 1,75%.

A alta da moeda única, em particular contra o dólar norteamericano, continua correlacionada com a subida do mercado acionista e com as expetativas de maior inflação e dívida pública nos EUA, e registou máximos desde dezembro de 2014, nos 1,2555 USD. A cotação do futuro do crude WTI regressou aos ganhos, depois de duas semanas em baixa. A Apple subiu dos 157 para os 173 USD/ação, próximos dos 180 dólares alcançados em janeiro, o que demonstra o regresso dos investidores ao mercado acionista, nomeadamente às "big tech".

Uma inversão da tendência altista dos mercados, o fim deste "bullmarket" duradouro, provavelmente acontecerá, e terá maior aceitação e credibilidade junto dos investidores, com um duplo topo ou outra figura técnica como uma "head & Shoulders", como em certa medida aconteceu em 2000 e em 2007.

Paulo Monteiro Rosa, 23 de fevereiro de 2018





sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Repensar os mercados perante um "bull market" duradouro


Após subidas muito rápidas e exponenciais, como foram as do início do ano 2017, um verdadeiro "efeito janeiro", os mercados registaram nos últimos dias fortes quedas que já não se observavam há bastante tempo. Para já, o "bull market" continua, apesar de muitos sinais de exaustão. As subidas das bolsas norte-americanas têm sido exponenciais nos últimos meses, algo que é insustentável no médio/longo prazo. A subida das rentabilidades das obrigações do Tesouro — as "bunds" alemãs e das "Treasuries" norte-americanas a 10 anos - devido ao receio de um aumento da inflação e subida das taxas de juro, acabou por ser uma justificação, ou mesmo um pretexto, para uma correção há muito aguardada...

O "bull market" permanece, apesar de o sentimento do mercado ser negativo no início de fevereiro, algo que não se verificava desde junho de 2016. No entanto, as bolhas (os preços dos ativos bastante acima do seu valor real) vão-se agudizando em vários mercados, desde o acionista ao obrigacionista, passando pelo imobiliário e dívidas soberanas. A política orçamental expansionista dos EUA forneceu o "combustível" necessário para a manutenção deste longo "bull market". No final do milénio passado assistimos a um "bull market" de 8 anos, o que levou muitos investidores e analistas a garantir que os ciclos económicos tinham acabado e que não haveria lugar a recessões e correções nas bolsas. O mesmo acontece hoje em dia. Mas as contas públicas norte-americanas voltam a estar desequilibradas, com o agravamento do défice orçamental.

Os balanços dos principais bancos centrais precisam, mais cedo ou mais tarde, de um saneamento, depois de acumularem ativos, alguns com uma solvabilidade creditícia algo duvidosa, durante vários anos, com os programas de compras de ativos, designadamente através dos "Quantitative Easings". O Dow Jones desceu quase 2,6% a 2 de fevereiro, a maior queda desde junho de 2016. Na segunda-feira, 5 de fevereiro, perdeu 4,6%, depois de ter estado a cair 6,3%, a maior queda desde agosto de 2011. A volatilidade medida pelo índice norte-americano VIX atingiu os 50 pontos nesse mesmo dia, algo que não acontecia desde agosto de 2015. Mas uma andorinha não faz a primavera, e serão precisas mais quedas significativas para validar uma mudança de tendência, e dar início a um "bear market" nas principais bolsas mundiais.

Este pode ser o primeiro sinal de exaustão do mercado nos últimos dois anos, desde a queda das bolsas chinesas, e os investidores não devem ficar alheios a estes sinais de alerta para não serem apanhados no meio de uma verdadeira e forte correção dos mercados e inversão de tendência para negativa, que irá acontecer mais cedo ou mais tarde. O PSI-20 perdeu mais de 9% desde as últimas sessões de janeiro, algo que não acontecia desde o dia da votação do "Brexit-, em junho de 2016, anulando todos os ganhos do primeiro mês do ano. Até 6 de fevereiro, o BCP caiu cerca de 16%, depois de seis sessões consecutivas a perder, numa tomada de mais-valias por parte dos investidores após um fulgurante início do ano com ganhos de mais de 20%. O maior banco privado português há um ano que não registava uma queda tão rápida e desta dimensão.

Na passada segunda-feira, já apelidada de negra, assistimos a um significativo "sell-off" nas praças norte-americanas, que se repercutiu nas restantes principais praças mundiais. Bastaram algumas palavras como "panic sell", "sell-off", "stop loss" nas notícias para os algoritmos dispararem as vendas e amplificarem a queda. Contas suportadas por crédito foram obrigadas a vender e as ordens de "stop loss" foram ativadas.

Paulo Rosa, Vida Económica, 9 de fevereiro 2018



SOBE, SOBE, BOLSA SOBE


O PSI20, principal índice da bolsa de Lisboa, está no ponto mais alto dos últimos dois anos e meio, em sintonia com as congéneres europeias e norteamericanas. Nos EUA os máximos históricos têm sido consecutivos,  

tal como no DAX30, o principal índice alemão.

A economia portuguesa deixou para trás, por agora talvez, os crescimentos anémicos dos últimos 15 anos. Em 2017 o PIB português deverá ter crescido 2.8%, um comportamento que não se verificava desde 2000.

É neste ambiente que a bolsa tem subido. O PSI-20 valorizou 30% nos últimos 12 meses, indo dos 4400 pontos até aos atuais 5700 pontos.

A economia tem beneficiado do bom momento do setor exportador, com o subsetor do turismo a ganhar quota e a chegar a quase 20% das exportações portuguesas. Podemos estar a viver apenas uma correção da forte contração que o país atravessou entre 2011 e 2013, graças à ajuda da política monetária expansionista do Banco Central Europeu (BCE) que, em 2014, através do QE (Quantitative Easing), iniciou uma compra massiva de ativos financeiros dos estados e das empresas. Para se financiar a 10 anos, o país paga as taxas de juro mais baixas da sua história e a diferença face ao que paga a Alemanha para o mesmo prazo (o "spread") tem descido e começa a regressar aos níveis pré-crise do imobiliário norte-americano em 2008.

Na bolsa há animação: a Sonae SGPS e a Sonae Indústria - que são empresas cíclicas - subiram, respetivamente, 90% e 240% desde o verão de 2016. A Sonae Capital aproveitou a boa conjuntura do turismo e subiu 400% nos últimos três anos. As papeleiras Navigator e Altri valorizaram 95% e 75% desde o verão de 2016, acompanhando a subida do preço da pasta de papel que passou dos 650 dólares em fevereiro de 2017 para os atuais mil dólares. O BCP tem subido sustentado no saneamento das contas. São alguns exemplos.

Na Europa, designadamente na Alemanha, o crescimento económico é bastante satisfatório e taxa de desemprego tem vindo a descer. A França mantém-se um pouco relutante ao crescimento, muito devido à forma como está estruturada a economia, mas que a presidência de Emmanuel Macron parece querer mudar, através de reformas arrojadas. Itália permanece com uma elevada dívida pública. Já o excelente desempenho da economia espanhola foi interrompido, talvez pontualmente, pela questão da secessão da Catalunha. Os países nórdicos têm desempenhos mais próximo do germânico. Nos EUA há quase pleno emprego, com o desemprego nos 4% vindo dos 10% em 2009. O crescimento económico é robusto, à volta dos 3%.

Os bons desempenhos das principais economias, que têm ajudado as bolsas a registar consecutivos máximos históricos, podem ser travados caso haja correção de alguma das várias bolhas, já maduras, que persistem há dois anos e que vão desde as ações ao imobiliário, ao crédito concedido e ao endividamento de países.

As "bolhas" nascem do desfasamento do valor dos ativos bastante abaixo do preço de mercado.

A "bolha" autoalimenta-se com a esperança de cada investidor em vender sempre mais caro do que compra, sem olhar ao real. A primeira, desde que há registos, foi a febre das tulipas em 1637… e parece que, enquanto houver mercados, haverá sempre "bolhas". 

Paulo Rosa, Vida Económica, 26 de janeiro 2018





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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.