Os mercados acionistas mundiais, incluindo os norte-americanos,
reagiram negativamente às restrições de importação anunciadas pela
administração de Donald Trump, que irá criar uma tarifa alfandegária de
25% sobre o aço e outra de 10% na importação de alumínio. Estas medidas
podem causar danos não só fora dos EUA, mas também na própria economia
norte-americana, nomeadamente nos setores automóvel e construção civil
que utilizam o alumínio e aço como matéria-prima essencial. Apenas 200
mil americanos trabalham no setor do aço, alumínio e ferro.
Bruxelas lamentou as medidas protecionistas e prometeu “reagir com
firmeza”, segundo palavras do presidente da Comissão Europeia,
Jean-Claude Juncker. Mas se a União Europeia (UE) quiser aumentar as
tarifas e barreiras alfandegárias aos produtos norte-americanos, os EUA
podem retaliar com um imposto sobre os carros europeus. Atualmente, os
EUA impõem uma tarifa de 2,5% sobre as importações de automóveis da UE. A
UE impõe uma tarifa de 10% sobre as importações de automóveis dos EUA. A
Alemanha exporta anualmente 25 mil milhões de dólares em automóveis,
nomeadamente das marcas Mercedes, BMW e Porsche muito apreciadas pelos
norte-americanos.
No entanto, entre as grandes economias do
mundo, a dos EUA é das menos protecionistas, e esse facto está bem
refletido no enorme défice comercial à volta dos 3.5%, cerca de 40 mil
milhões de dólares mensais. Os EUA são muito mais abertos que a Europa, o
Japão e especialmente a China. E parece um pouco hipócrita para os EUA
que as nações mais protecionistas se queixem das ações de uma nação
menos protecionista.
Os EUA consomem grande parte dos produtos
fabricados no mundo que são pagos com dólares, grosso modo a “maior
exportação” dos EUA. Para colmatar o défice comercial os EUA têm um
eficiente mercado financeiro que equilibra a balança de pagamentos
através da emissão de dívida pública que, no entanto, não para de
crescer e em 2017 fixou-se nos 105% do PIB, valores só verificados no
pós-II Grande Guerra. Em 2008 era de 67%, em 1980 de 35%.
A
China tem metade da capacidade de produção mundial de aço, grande parte
da qual é excessiva e desnecessária, devido aos estímulos estatais de
2008 que reforçaram a sua capacidade industrial. Esta capacidade
excedentária chinesa culminou com exportação de aço para o resto do
mundo a preços muito baixos, no que alguns consideraram “dumping”. Além
disso, tanto os EUA como a UE partilham a ideia de que a China ainda não
é uma economia baseada no mercado, devido aos amplos e persistentes
subsídios governamentais, explícitos e implícitos, e outras formas de
apoio do setor público que se traduzem em produtos chineses com uma
competitividade falseada.
Mas a UE e, em parte, os EUA não são
uma economia aberta, e o livre mercado não existe em nenhuma parte do
mundo. A Europa já impôs dezenas de medidas “anti-dumping” contra as
exportações chinesas de aço. Qual é, então, a diferença substancial
entre as medidas da UE e as atuais tomadas pela Administração dos EUA,
que a Europa diz que vai retaliar? Se a UE fosse tão aberta, por que é
tão complexo o Brexit e a incapacidade do Reino Unido para voltar a ter
acesso ao mercado europeu? A Noruega e a Suíça pagam uma fortuna e têm
de cumprir mais de uma centena de diretivas europeias para poderem ter
acesso ao mercado único.
A globalização além de ter dado
oportunidade a muitos países de saírem da pobreza, tal como referia Adam
Smith, com as vantagens absolutas ao nível do comércio, e mais tarde
David Ricardo, com as vantagens comparadas, permite que muitos países,
mesmo que não sejam competitivos na produção de nenhum bem, continuem a
especializar-se em produzir aquilo que fazem de melhor. É uma mais-valia
preciosa para o bem-estar mundial que políticas protecionistas não
devem por em causa. A economia portuguesa, como é uma das mais abertas,
será também das mais penalizadas com um aumento do protecionismo.
Paulo Rosa, 9 de março de 2018
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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