A guerra comercial iniciada pelos EUA contra as importações continua
a penalizar os mercados, sem poupar ninguém. David Ricardo, economista
britânico de origem sefardita portuguesa, já o tinha dito há mais de 150 anos
na sua teoria das vantagens comparadas do comércio entre países. Esta guerra
comercial era tudo o que a Turquia não precisava para suster a sua moeda. A
lira turca fez novos mínimos históricos nos 7.2362 por dólar (USD/TRY),
penalizada pela inflação de 16% em julho, a mais elevada desde 2004, por fatores
políticos como o afastamento pelo regime turco de pessoas capazes, desde cientistas
a professores, fundamentais para o crescimento económico, e pelas imposições
alfandegárias dos EUA ao aço e alumínio da Turquia. A instabilidade turca pode,
nos próximos tempos, colocar em causa a estabilidade política, económica e
financeira ao nível mundial, sendo sempre uma justificação plausível para a
correção dos mercados que permanecem inflacionados pelas baixas taxas de juro.
Os quatro bancos europeus mais expostos à Turquia - BBVA, Unicredit, ING e BNP - perderam cerca de 11 mil milhões de euros no início da semana.
Os quatro bancos europeus mais expostos à Turquia - BBVA, Unicredit, ING e BNP - perderam cerca de 11 mil milhões de euros no início da semana.
As “big tech”
norte-americanas continuam a suportar o mercado e a debelar as quedas das
bolsas, porém na quarta-feira acabaram por ceder. Em julho, as vendas a retalho
nos EUA, dado macroeconómico mais importante a seguir ao relatório de emprego,
saíram acima do esperado e refletem a robustez da economia para sustentar as
bolsas.
No plano nacional, a primeira vítima da guerra comercial foi
a Navigator que arrastou o índice PSI 20 para uma queda de 3%. A guerra
comercial chegou a Portugal, após o Departamento do Comércio norte-americano
impor uma taxa de 37,34% às importações de papel da Navigator, aplicada
retroativamente ao período compreendido entre agosto de 2015 e fevereiro de
2017. A empresa alertou que os lucros devem diminuir em quase 25% este ano e prometeu
contestar a medida junto dos tribunais norte-americanos. Na segunda-feira, a
Navigator registava, a meio da sessão, uma queda de 20%, a maior de sempre,
arrastando a Semapa, com cerca de 70% da papeleira, e a Altri, a segunda maior
produtora de pasta de papel portuguesa. O BBVA reviu em baixa o preço alvo da
Navigator de 5.70 € para 5.20 €.
Com o pontual abrandamento da crise turca, regressou o tema
Tesla e o maior LBO de sempre (leveraged buyout- compra alicerçada em dívida).
A queda de 10% da Bayer, dona da Monsanto, que foi obrigada a pagar cerca de
250 milhões de dólares a um doente oncológico, penalizou o sector químico. A
meio da semana, o mercado aliviou com o provável retomar das conversações entre
os EUA e a China no final do mês.
Segundo dados do Eurostat a economia da Zona Euro cresceu ao
ritmo mais lento dos últimos dois anos, 2%, aquém dos 2.1% esperados. A
economia irlandesa é excepção com quase 10%. A economia portuguesa fixou-se nos
2.3% e a economia alemã cresceu acima das expectativas, impulsionada pelos
gastos dos consumidores e do Estado.
Ações: Sonae SGPS e PSI20
As produtoras de pasta de papel Navigator, Altri e a Semapa,
lideraram as perdas do PSI20. Seguiu-se a queda da Sonae, agora liderada por
Cláudia Azevedo, que continua a acentuar as perdas, seguindo o comportamento
negativo das congéneres europeias do sector do retalho. De salientar que a
Sonae tem sido há muitos anos um barómetro fiável para aferir o comportamento
do PSI20. A Jerónimo Martins, apesar de ter perdido esta semana cerca de 2%, apresenta
um comportamento interessante, do ponto de vista da análise técnica. O BCP seguiu
em baixa, com o setor bancário penalizado pelo comportamento da lira turca. A
Galp recuou após a queda semanal de 2.5% do petróleo.
Commodities: Cobre
O cobre perdeu perto de 4% esta semana, e continua na sua
tendência de queda, superior a 20%, desde os máximos atingidos nos 333 dólares
por libra (0,4536 kg), alcançados no início de junho. Além de ser um indício de
abrandamento económico mundial, esta descida é justificada. O cobre encontra-se
em valores de junho de 2017, mínimos de há 14 meses. A queda da cotação do
cobre agudiza-se com a escalada da guerra comercial entre os EUA e a China
ameaçando o crescimento global, alimentando as preocupações dos investidores de
diminuição da procura deste metal imprescindível para a construção de redes
elétricas, casas, carros, aparelhos eletrónicos… Mas, atenção, as potenciais
greves no Chile podem quebrar este ciclo de baixa.
Câmbios: USD/ZAR RAND sul africano
A fraqueza e os sucessivos mínimos históricos registados pela
lira turca têm afectado as moedas dos países emergentes. A moeda sul-africana desvaloriza
há vários dias, e na segunda-feira registou uma queda significativa de 9%
contra o dólar americano. O USD/ZAR valia 14.13 no início do dia e a meio da
sessão um dólar já comprava 15.55 Rand sul-africanos, o valor mínimo desde junho
de 2016. A taxa de inflação aumentou para o máximo dos últimos 6 meses, porém
mantém-se aparentemente controlada nos 4.6%. A taxa de juro do banco central
sul africano (SARB, South Africa Reserve Bank) espelha isso, e até desceu dos
6.75% para 6.5% em março.
Paulo Monteiro Rosa, Jornal Económico, 17 de agosto de 2017
Paulo Monteiro Rosa, Jornal Económico, 17 de agosto de 2017
https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/as-primeiras-vitimas-da-guerra-comercial-345231
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