Todos os dias ouvimos a palavra "eles" nas mais diversas conversas ou
situações. "Eles dão chuva para amanhã", ou seja, os meteorologistas
preveem chuva. "Eles dizem que o candidato X vai ganhar as eleições com
uma percentagem de X%". "Eles estão a pensar construir mais uma ponte
entre o Porto e Gaia". "Eles vão passar a multar…". "Eles
fizeram uma lei…". A entidade "eles" reveste-se de
poder. "Eles" mandam, fazem, dizem e "nós" acatamos
resignados.
Nos mercados financeiros a entidade "eles", além de ter muita força, serve na maior parte das vezes para justificar os nossos erros, a nossa indisciplina perante o todo-poderoso, o sobrenatural "Eles" que enviesa as nossas análises e nos faz perder dinheiro, segundo a nossa perspetiva.
Realizamos uma compra de um determinado número de ações a um determinado preço, e depois a cotação sobe muito, ou desce acentuadamente, e nós temos a tendência de afirmar que "eles" puxaram pelo título para vender mais caro ou "eles" pressionaram o título, através da venda de ações que têm em carteira, para comprarem mais baixo.
Não é apenas nos mercados, mas na nossa vida em geral, que o "eles" é uma entidade sempre presente.
Tudo é influenciado pelo "eles".
As estratégias ruinosas, os nossos falhanços ou aquilo que não conseguimos controlar.
Os acontecimentos não dependem da vontade humana, mas da interação humana. "Nós" também pertencemos, muitas vezes, ao grupo "eles", à aludida entidade "eles", e através da nossa interação no quotidiano, na compra de um determinado ativo, também estamos a influenciar o meio que nos rodeia, a cotação da ação de uma empresa.
Na realidade, existem pessoas, coletivas ou singulares, que influenciam mais o dia a dia do mundo ou o andamento dos mercados, como é o caso do presidente dos EUA, Donald Trump.
Haverá repercussões na vida das pessoas quando a administração norte-americana decide qualquer política sobre as tarifas alfandegárias a aplicar à China ou à União Europeia?
Quando a Reserva Federal decide não avançar com mais subidas de taxas de juro, mas até está a pensar em descê-las? No entanto, a Reserva Federal age de acordo com o andamento dos dados macroeconómicos norte-americanos, que vão sendo divulgados, e que dependem da ação humana. Mas esta ação humana é muitas vezes influenciada pela própria ação das autoridades monetárias. Em suma, muitas vezes os bancos centrais tomam medidas para colmatarem decisões tomadas no passado.
O dia a dia de um camponês no meio de um arrozal na China não influenciará substancialmente a vida do planeta, a não ser a sua própria vida. Porém, o dia a dia de todos os camponeses de arroz na China terá influência sobre a vida de muitas outras pessoas. Há pessoas que influenciam mais que outras, mas todas têm a sua importância.
Existem alguns investidores que pensam que o mercado está contra eles e raramente acham que são eles que podem estar errados.
Chegam mesmo a dizer, após entrarem no mercado, que "eles" já estão a levar o mercado para o lado oposto da sua posição. Se não entrassem, o mercado não teria esse comportamento. É paradoxal a atitude destes investidores, porque significa que eles, apesar de se acharem pouco relevantes e sem força para alterarem o rumo do mercado e os seus preços, são bastantes importantes e muito significativos que o "eles" está a olhar para aquilo que fazem, e o "eles" atua no mercado em função das suas posições. Em abono da verdade, este perfil de investidores procura desculpas, que os confortem, para justificarem alguns insucessos nos mercados financeiros… quando nos sucessos já pertencem ao "eles".
Paulo Monteiro Rosa, In "Vida Económica", 24 maio 2019
Nos mercados financeiros a entidade "eles", além de ter muita força, serve na maior parte das vezes para justificar os nossos erros, a nossa indisciplina perante o todo-poderoso, o sobrenatural "Eles" que enviesa as nossas análises e nos faz perder dinheiro, segundo a nossa perspetiva.
Realizamos uma compra de um determinado número de ações a um determinado preço, e depois a cotação sobe muito, ou desce acentuadamente, e nós temos a tendência de afirmar que "eles" puxaram pelo título para vender mais caro ou "eles" pressionaram o título, através da venda de ações que têm em carteira, para comprarem mais baixo.
Não é apenas nos mercados, mas na nossa vida em geral, que o "eles" é uma entidade sempre presente.
Tudo é influenciado pelo "eles".
As estratégias ruinosas, os nossos falhanços ou aquilo que não conseguimos controlar.
Os acontecimentos não dependem da vontade humana, mas da interação humana. "Nós" também pertencemos, muitas vezes, ao grupo "eles", à aludida entidade "eles", e através da nossa interação no quotidiano, na compra de um determinado ativo, também estamos a influenciar o meio que nos rodeia, a cotação da ação de uma empresa.
Na realidade, existem pessoas, coletivas ou singulares, que influenciam mais o dia a dia do mundo ou o andamento dos mercados, como é o caso do presidente dos EUA, Donald Trump.
Haverá repercussões na vida das pessoas quando a administração norte-americana decide qualquer política sobre as tarifas alfandegárias a aplicar à China ou à União Europeia?
Quando a Reserva Federal decide não avançar com mais subidas de taxas de juro, mas até está a pensar em descê-las? No entanto, a Reserva Federal age de acordo com o andamento dos dados macroeconómicos norte-americanos, que vão sendo divulgados, e que dependem da ação humana. Mas esta ação humana é muitas vezes influenciada pela própria ação das autoridades monetárias. Em suma, muitas vezes os bancos centrais tomam medidas para colmatarem decisões tomadas no passado.
O dia a dia de um camponês no meio de um arrozal na China não influenciará substancialmente a vida do planeta, a não ser a sua própria vida. Porém, o dia a dia de todos os camponeses de arroz na China terá influência sobre a vida de muitas outras pessoas. Há pessoas que influenciam mais que outras, mas todas têm a sua importância.
Existem alguns investidores que pensam que o mercado está contra eles e raramente acham que são eles que podem estar errados.
Chegam mesmo a dizer, após entrarem no mercado, que "eles" já estão a levar o mercado para o lado oposto da sua posição. Se não entrassem, o mercado não teria esse comportamento. É paradoxal a atitude destes investidores, porque significa que eles, apesar de se acharem pouco relevantes e sem força para alterarem o rumo do mercado e os seus preços, são bastantes importantes e muito significativos que o "eles" está a olhar para aquilo que fazem, e o "eles" atua no mercado em função das suas posições. Em abono da verdade, este perfil de investidores procura desculpas, que os confortem, para justificarem alguns insucessos nos mercados financeiros… quando nos sucessos já pertencem ao "eles".
Paulo Monteiro Rosa, In "Vida Económica", 24 maio 2019