No contexto da pandemia da
Covid-19 novas realidades emergem. O confinamento, o encerramento de empresas e
as medidas de distanciamento social determinaram a "economia 90%",
impactando a vida quotidiana. Sem surpresa, as empresas que enfrentam maior
exposição a viagens, e exigem interações presenciais, esperam um longo período
de tempo para regressar à normalidade. Por outro lado, empresas de segmentos de
mercado como construção, consumer Staples e data centers prevêem uma
normalização mais rápida. No S&P 500, os lucros por ação, desde o início do
ano, foram corrigidos em baixa 27%. Todavia, os mercados acionistas continuam
resilientes, apesar da incerteza da forma de recuperação. Perante a enérgica
atuação dos bancos centrais, o efeito TINA (There Is No Alternative) continua a
moldar a postura dos investidores e a alimentar o FOMO (Fear Of Missing Out).
A intensificação das estratégias de digitalização, do direct-to-consumer e da
automação são as principais prioridades dos gestores, dado que o envolvimento
on-line disparou com o confinamento. Aparecem soluções de digitalização
centradas na mudança de comportamento do consumidor num ambiente de baixa
mobilidade e sem contacto. Os restaurantes adicionaram serviços de pedidos e
pagamentos on-line, o retalho voltou-se para o marketing digital e para o
comércio eletrónico, o atendimento ao paciente voltado para a telemedicina. O
trabalho em casa impulsionou as tecnologias e os bancos investem ainda mais em
recursos de financiamento móvel. As empresas dos setores de consumo básico
tiveram picos nas vendas online (receitas da Walmart subiram74%). Muitas
aplicações tiveram um crescimento exponencial de downloads: Chats e vídeo
(+1485%), fitness em casa (+288%), compras (+214%) e comércio eletrónico
(+116%). Os canais diretos ao consumidor conheceram um aumento semelhante, com
os clientes a procurarem alternativas de compra, e as empresas a promoverem as
vendas diretas ao consumidor final, com estratégias de automação nas suas
operações e cadeias de suprimentos que reduzirão no longo prazo os custos
operacionais.
Há uma força de trabalho em mudança. A redução dos custos de mão de obra por
demissões, licenças e cortes de salários, não se limitaram às indústrias mais
afetadas pelo distanciamento social. Em abril, 20,5 milhões de empregos foram
perdidos e a taxa de desemprego nos EUA subiu para 14,7%. As empresas capazes
de fazer a transição de funcionários para trabalhar em casa, optaram pelo WFH
(Work From Home), aparecendo potenciais oportunidades para que alguns dos seus
funcionários continuassem a trabalhar remotamente a longo prazo, com reduções
nos custos das deslocações e dos espaços físicos (os custos de internet,
eletricidade e água passam da empresa para casa). As empresas com funcionários
no local incorreram em custos adicionais associados à garantia da segurança
desses trabalhadores.
Hoje, os gestores privilegiam a liquidez e a robustez do balanço. O aumento da
incerteza levou as empresas a reduzirem gastos de capital, recompras de ações e
pagamento de dividendos. Têm existido oportunidades de fusões e aquisições,
considerando o ambiente amai, para empresas com balanços musculados.
Em parte, o S&P 500 tem mostrado relativa resiliência à contração
económica, devido ao elevado peso das Blues Chips e das empresas defensivas
(não cíclicas). A crise afetou mais as pequenas empresas que têm menos
flexibilidade operacional. No primeiro trimestre, os lucros por ação do S&P
500 caíram 14%, enquanto do Russell 2000 pequena capitalização (Small Caps)
desceram 90%. Os lucros da Microsofi aumentaram 22%.
As plataformas on-line compensam parcialmente as quedas de receita no consumo
pessoal. O consumidor responde por 70% da economia dos EUA, e o consumo
discricionário, excluindo a Amazon, caiu 6% no primeiro trimestre e as vendas a
retalho nos EUA baixaram 16% em abril. Mas as restrições aceleraram a mudança
para o comércio eletrónico.
O aumento dos custos associados à manutenção ou retoma da atividade comercial
continuará a pressionar as margens de lucro. O Facebook mencionou que após um
declínio inicial acentuado em março, a receita com anúncios estabilizou durante
as primeiras três semanas de abril, em comparação com o mesmo período do ano
anterior.
Paulo Rosa, Vida Económica, 22 de maio de 2020
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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