Surgem no tempo dos fenícios, dos gregos e dos romanos as primeiras embarcações
cujos principais meios de propulsão eram as velas e os remos, conhecidas por galés.
As velas são uma tecnologia há muito conhecida e capturam o vento, gerando
força de propulsão para empurrar o barco na direção pretendida, mas, na ausência
de vento, os remos são fundamentais, principalmente nos navios de guerra. Deste
modo, as galés utilizavam como principais propulsores o vento e a força humana. Inovações gregas e romanas procuraram substituir a propulsão braçal do homem pela
força de bois e de cavalos, através de embarcações movidas a rodas de pás com
tração animal que funcionavam como mecanismos de propulsão. Todavia, estas
soluções mais técnicas raramente foram utilizadas. Num mundo em que o trabalho ‘escravo’
nos remos era barato, o complicado mecanismo da embarcação não era rentável em
termos de custos.
A partir do renascimento no séc. XV, as transformações na sociedade europeia foram
bem evidentes na cultura, economia, política e religião. O mundo ocidental
assistiu a uma gradual transição do feudalismo para o capitalismo e a profundas
alterações e desenvolvimentos relativamente às estruturas medievais. Uma sociedade
e uma economia alicerçadas nas crescentes liberdades de pensamento e de
escolarização permitiram mais conhecimentos e notáveis avanços tecnológicos. A
invenção da máquina a vapor em 1698 alicerçou a primeira revolução industrial
de 1760 a 1840. A produtividade do trabalho aumentou significativamente e pela
primeira vez na história o padrão de vida de toda a população começou a
experimentar um crescimento sustentado. O aumento dos rendimentos das famílias
e os crescentes avanços tecnológicos fizeram um caminho lado a lado. Quanto
mais elevado o custo da mão de obra, mais baratos eram os novos conhecimentos
tecnológicos em termos relativos. Provavelmente, mão de obra barata e escrava
em abundância e liberdade limitada ter-nos-iam deixado na idade das trevas por mais
alguns séculos.
Economias assentes em baixos salários, cujos bens e serviços produzidos sejam
competitivos apenas via preço e não tecnológico, têm o futuro hipotecado. Todavia,
salários mais elevados têm que ser suportados por ganhos de produtividade. A
produtividade do trabalho aumenta, e, consequentemente, os salários, à medida que
se emprega mais tecnologia.
Há uma correlação positiva entre salários e tecnologia. Salários mais elevados
são o corolário dos avanços tecnológicos e mão de obra barata trava os
progressos tecnológicos. São variáveis interdependentes. ‘Ceteris paribus’, se
o nível tecnológico numa determinada economia aumenta, os salários acompanham
essa subida. O nível tecnológico determina o nível dos salários e vice-versa. A subida dos salários é inflacionista, mas impulsiona a tecnologia que é deflacionista. As
empresas utilizarão mais intensamente tecnologia ou mão de obra de acordo com o
seu custo.
No futuro, veículos autónomos mais eficientes e mais baratos substituirão
motoristas de camiões e de transportes de passageiros. A inteligência
artificial aplicada às intervenções cirúrgicas substituirá médicos-cirurgiões
em muitas situações. Ou seja, num cenário de liberdade económica, a tecnologia
tomará o lugar do ser humano sempre que seja uma opção mais barata e mais
eficiente. Ficaremos todos desempregados? Sim, ficaremos desempregados tal como
os remadores das galés gregas e romanas, portageiros, datilógrafas e
telefonistas, mas aptos para novos empregos de maior valor acrescentado e mais bem remunerados.
Paulo Monteiro Rosa, 31 de dezembro de 2021 In Vida Económica
A transversalidade e Universalidade da ciência económica. O objecto de estudo da economia é a maximização do bem-estar do ser humano, mas não deixa de ser em sentido estrito. A ciência económica é mais abrangente. A todos os seres vivos e não vivos. Ver página "descrição do blog".
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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021
Salários, tecnologia e liberdade
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