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sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Fará setembro jus à tendência secular?

Historicamente setembro é para os mercados acionistas o mês com o pior desempenho do ano, fenómeno que tem sido corroborado pelo comportamento do índice americano S&P 500 desde a sua criação em 1957. Na verdade, muitos apelidam essa queda anual como o “efeito setembro”, referindo-se aos retornos tradicionalmente fracos do mercado de ações no atual mês. Nos EUA as razões avançadas para as quedas são várias, desde o regresso dos investidores das férias de verão, às necessidades financeiras das famílias para pagar as mensalidades e material escolar dos filhos que estão de volta às aulas. Outro argumento é que o ano fiscal para muitos fundos de investimento termina em setembro. Assim, esses fundos vendem para não mostrarem ganhos substanciais que poderiam ser guardados para os anos fiscais seguintes, e também, por essa via, reduzirem os seus encargos fiscais. Esta constatação nos mercados acionistas dos EUA estende-se às restantes praças mundiais, que têm um comportamento semelhante aos principais índices americanos, nomeadamente ao mais abrangente S&P 500. A hegemonia da economia dos EUA, a maior do mundo, cujo peso é de cerca de 24% da riqueza global produzida anualmente, influencia o andamento das restantes economias globais e consequentemente das principais praças financeiras mundiais. De salientar a crescente importância da economia chinesa que poderá alterar no futuro este paradigma assente essencialmente em aspetos socioeconómicos americanos.

 

Embora esses fatores possam desempenhar um papel relevante, detalhes mais técnicos e de “price action” poderão também influenciar a evolução dos mercados nas próximas semanas. No início de cada ano, os analistas tendem a ser excessivamente otimistas, forçando-os a cortar as estimativas mais tarde, geralmente após o encerramento da época de resultados do segundo trimestre em agosto. Essas reduções das suas avaliações (“downgrades”) frequentemente afetam o mercado no mês seguinte, com alguns investidores institucionais a reduzirem o risco de algumas das suas posições e a contribuírem para as tradicionais quedas em setembro. Mas será que este ano as desvalorizações em setembro poderão estar limitadas ou reverterem para ganhos? Isto porque grande parte da diminuição de risco (“de-risking”) já aconteceu, devido ao colapso histórico dos mercados acionistas durante o primeiro semestre de 2022. Será que assim que os analistas concluírem as emissões de “downgrades” desta vez, muitas ações ficarão ainda mais baratas e, nesse ponto, os investidores, nomeadamente os institucionais, serão mais ativos do que o habitual e adotarão uma postura mais compradora? Na verdade, a propensão este ano para vender no presente mês de setembro é muito menor do que habitualmente. Os investidores acumulam perdas e os fundos não têm o habitual incentivo de otimização fiscal porque os ganhos não existem. Todavia, a tendência é fundamental e a incerteza talvez seja mesmo a única certeza atualmente.

 

O certo é que para já o mercado iniciou o mês de setembro em baixa. Depois de quase dois meses e meio de recuperação, os mercados acionistas têm corrigido desde o final de agosto, penalizados pelas perspetivas de uma maior alta dos juros depois das palavras de Jerome Powell, presidente da Reserva Federal dos EUA, no simpósio de Jackson Hole, e após a resiliência do mercado de trabalho americano em agosto, dados divulgados no dia 2 de setembro. Também se intensifica a crise energética na Europa com o aproximar do inverno e, sobretudo, depois do corte do fornecimento pela Grazprom do gás russo através do Nord Stream 1, agravando ainda mais o atual contexto económico desfavorável. Serão estes três fatores negativos um prenúncio de alerta para a tendência do atual mês? Certo é que a volatilidade continuará a ser nos próximos meses a palavra de ordem. Se uma explicação convincente para o “efeito de setembro” fosse encontrada, os investidores experientes começariam imediatamente a vender em agosto, outros por sua vez tentariam antecipá-los e venderiam em julho, e o padrão histórico desapareceria rapidamente. Apesar de existir uma tendência identificada, provavelmente a estratégia de negociação até ao final do mês deve-se basear no quotidiano e não confiante de que o “efeito setembro” seja uma realidade certa e um retorno garantido. Se o mercado de ações cair durante este mês, nós saberemos, com certeza, os motivos em outubro. PMR In VE 7 setembro 2022




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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.