Historicamente setembro é para os mercados acionistas o mês
com o pior desempenho do ano, fenómeno que tem sido corroborado pelo
comportamento do índice americano S&P 500 desde a sua criação em 1957. Na
verdade, muitos apelidam essa queda anual como o “efeito setembro”,
referindo-se aos retornos tradicionalmente fracos do mercado de ações no atual
mês. Nos EUA as razões avançadas para as quedas são várias, desde o regresso
dos investidores das férias de verão, às necessidades financeiras das famílias
para pagar as mensalidades e material escolar dos filhos que estão de volta às
aulas. Outro argumento é que o ano fiscal para muitos fundos de investimento
termina em setembro. Assim, esses fundos vendem para não mostrarem ganhos
substanciais que poderiam ser guardados para os anos fiscais seguintes, e
também, por essa via, reduzirem os seus encargos fiscais. Esta constatação nos
mercados acionistas dos EUA estende-se às restantes praças mundiais, que têm um
comportamento semelhante aos principais índices americanos, nomeadamente ao
mais abrangente S&P 500. A hegemonia da economia dos EUA, a maior do mundo,
cujo peso é de cerca de 24% da riqueza global produzida anualmente, influencia
o andamento das restantes economias globais e consequentemente das principais
praças financeiras mundiais. De salientar a crescente importância da economia
chinesa que poderá alterar no futuro este paradigma assente essencialmente em
aspetos socioeconómicos americanos.
Embora esses fatores possam desempenhar um papel relevante,
detalhes mais técnicos e de “price action” poderão também influenciar a
evolução dos mercados nas próximas semanas. No início de cada ano, os analistas
tendem a ser excessivamente otimistas, forçando-os a cortar as estimativas mais
tarde, geralmente após o encerramento da época de resultados do segundo
trimestre em agosto. Essas reduções das suas avaliações (“downgrades”)
frequentemente afetam o mercado no mês seguinte, com alguns investidores institucionais
a reduzirem o risco de algumas das suas posições e a contribuírem para as
tradicionais quedas em setembro. Mas será que este ano as desvalorizações em
setembro poderão estar limitadas ou reverterem para ganhos? Isto porque grande
parte da diminuição de risco (“de-risking”) já aconteceu, devido ao colapso
histórico dos mercados acionistas durante o primeiro semestre de 2022. Será que
assim que os analistas concluírem as emissões de “downgrades” desta vez, muitas
ações ficarão ainda mais baratas e, nesse ponto, os investidores, nomeadamente
os institucionais, serão mais ativos do que o habitual e adotarão uma postura
mais compradora? Na verdade, a propensão este ano para vender no presente mês
de setembro é muito menor do que habitualmente. Os investidores acumulam perdas
e os fundos não têm o habitual incentivo de otimização fiscal porque os ganhos
não existem. Todavia, a tendência é fundamental e a incerteza talvez seja mesmo
a única certeza atualmente.
O certo é que para já o mercado iniciou o mês de setembro em
baixa. Depois de quase dois meses e meio de recuperação, os mercados acionistas
têm corrigido desde o final de agosto, penalizados pelas perspetivas de uma
maior alta dos juros depois das palavras de Jerome Powell, presidente da
Reserva Federal dos EUA, no simpósio de Jackson Hole, e após a resiliência do
mercado de trabalho americano em agosto, dados divulgados no dia 2 de setembro.
Também se intensifica a crise energética na Europa com o aproximar do inverno
e, sobretudo, depois do corte do fornecimento pela Grazprom do gás russo
através do Nord Stream 1, agravando ainda mais o atual contexto económico
desfavorável. Serão estes três fatores negativos um prenúncio de alerta para a
tendência do atual mês? Certo é que a volatilidade continuará a ser nos
próximos meses a palavra de ordem. Se uma explicação convincente para o “efeito
de setembro” fosse encontrada, os investidores experientes começariam
imediatamente a vender em agosto, outros por sua vez tentariam antecipá-los e
venderiam em julho, e o padrão histórico desapareceria rapidamente. Apesar de
existir uma tendência identificada, provavelmente a estratégia de negociação
até ao final do mês deve-se basear no quotidiano e não confiante de que o
“efeito setembro” seja uma realidade certa e um retorno garantido. Se o mercado
de ações cair durante este mês, nós saberemos, com certeza, os motivos em
outubro. PMR In VE 7 setembro 2022
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