É esperado um aumento de 50 pontos base, de acordo com o mercado monetário,
devendo o BCE corroborar também uma alta de mais 50 pontos base na próxima
reunião no dia 16 de março. Todavia, a significativa desaceleração da inflação
na Zona Euro em janeiro, divulgada hoje, pode atenuar o tom hawkish de
Christine Lagarde (refrear um pouco a sua atual postura restritiva), sendo
expectável, ainda neste primeiro semestre, que seja alcançada a taxa de juro
terminal do banco central da Zona Euro, remetendo algum alívio para a segunda
metade do ano. A inflação subjacente na Zona Euro caiu 0,8% em cadeia e
fixou-se nos 5,5% em termos homólogos, corroborando uma considerável melhoria
dos receios inflacionistas, permitindo ao BCE moderar a sua política
energicamente contracionista, desacelerando o ritmo de aumento das suas taxas
de juro.
A subida do euro face ao dólar
nos últimos meses pode também suavizar o discurso do BCE na reunião de amanhã.
Também a atitude do BCE poderá eventualmente abrandar um pouco o tom hawkish
se a Reserva Federal dos EUA adotasse hoje uma postura menos restritiva.
Para mitigar a crise ditada pelo confinamento
pandémico, o balanço do BCE aumentou 80% desde a primavera de 2020. No entanto,
diante da inflação mais elevada das últimas décadas, o BCE referiu que chegou a
hora de reduzi-lo. A diminuição terá
início no próximo mês de março e ascenderá, em média, a 15 mil milhões
de euros por mês até ao final do segundo trimestre de 2023. A evolução da
inflação e do crescimento económico determinará o ritmo a partir dessa data. A
desaceleração da inflação em janeiro na Zona Euro não é suficiente para refrear
a atual dimensão de redução do balanço, mas a ameaça de uma eventual recessão à
medida que os juros sobem poderá condicionar o quantitative tightening
do BCE na segunda metade do ano.
Algum alívio na política monetária restritiva do BCE melhoraria as perspetivas
para economia portuguesa em 2023.
Em 2022, o turismo, a gradual
reabertura e a recuperação mais tardia da economia portuguesa impulsionaram o
PIB em 2022. A melhoria nas cadeias de abastecimento ao longo do ano passado
foi também favorável para o crescimento económico e para a desaceleração da
inflação. Todavia, o rendimento disponível, sobretudo das famílias, já bastante
penalizado em termos reais pela elevada inflação, tende a diminuir cada vez
mais à medida que o BCE aumenta as suas taxas de juro, prometendo afetar o PIB
substancialmente este ano de 2023.
Uma eventual recessão em 2023 nos
EUA e na Alemanha agravaria ainda mais o cenário económico português.
Em 2023, os pontos mais positivos
serão, com alguma certeza, a resiliência do turismo e a execução do Plano de Recuperação
e Resiliência (PRR), sendo os principais pontos negativos, uma recessão nas
principais economias avançadas e o rendimento disponível cada vez mais
penalizado pela substancial subida das taxas de esforço dos empréstimos,
sobretudo no crédito à habitação.
As famílias têm sido bastante
penalizadas pela elevada inflação, bem como as empresas sem princing power. E mesmo algumas empresas
com pricing power (poder de fixação
de preços) começam gradualmente a perder essa capacidade à medida que o
rendimento disponível das famílias diminui. Todavia, o Estado conseguiu o ano
passado arrecadar mais receita impulsionada pela elevada inflação, sobretudo
nos impostos que são uma percentagem, como o IVA, incidindo sobre os preços
mais elevados.
As empresas também serão afetadas
quer pelo recuo da procura privada, quer pelas taxas de juro mais elevadas que
dificultam e encarecem o financiamento do investimento. Em suma, o recuo da
procura interna parece ser transversal às famílias, empresas e Estado.
Nota: Texto escrito em 1 de
fevereiro