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sexta-feira, 21 de abril de 2023

Devem robots e inteligência artificial ser tributados?

 


Diante de robots cada vez mais sofisticados, sobretudo alicerçados na inteligência artificial (IA), capazes de substituírem o ser humano em tarefas e trabalhos cada vez mais complexos, cresce a ideia de tributação das ferramentas tecnológicas que ocupam gradualmente o lugar do homem em todo a cadeia produtiva, justificada pelo receio de o Estado vir a perder parte das receitas. No entanto, é uma preocupação pouco fundamentada, tendo em conta que os governos têm o poder de criarem novos impostos, sendo certo que no futuro os Estados empenhar-se-ão em manter o equilíbrio entre uma gradual adoção da IA, importante para um crescimento económico mais robusto e um aumento do bem-estar, e a preservação do trabalho humano. Os governos procurarão contrabalançar uma receita ótima para o seu funcionamento e a manutenção do incentivo à inovação. Sendo normal a tributação do trabalho dos robots e das empresas mais mecanizadas, bem como tributar a utilização da inteligência artificial em trabalhos capazes de complementarem o trabalho mais intelectual, mas sem por em causa a adoção dos mais recentes avanços tecnológicos capazes de aumentarem o bem-estar das populações. É provável que a semana laboral encurte, as horas de trabalho semanal diminuam e os trabalhadores possam optar cada vez mais entre mais horas de lazer e menos de trabalho, não sendo os avanços tecnológicos uma ameaça à sustentabilidade da Segurança Social, bem pelo contrário, são uma fonte de financiamento. O ser humano vive em sociedade e ninguém fica rico ou ganha dinheiro isolado numa ilha, necessitando as empresas de compradores com rendimento disponível para adquirirem os seus produtos. Eventualmente, poderá existir alguma fricção pontual e temporária no emprego humano que vai sendo substituído por máquinas cada vez mais aperfeiçoadas, como sempre existiu em cada avanço tecnológico ao longo da História da humanidade. 

As economias crescem à medida que mais recursos produtivos (trabalho e capital) são adicionados. Ou seja, se uma empresa aumentar o número de máquinas e grau de automação, o fator capital aumentará e o fator trabalho, agora mais escasso, será mais valorizado e os salários reais sobem. Em suma, mais tecnologia é sinónimo de mais emprego e melhor remunerado, mais receita para os governos, bem como melhores pensões de reforma depois de uma vida de trabalho. Diante de alguma entropia pontual, os governos usarão o seu poder de criação de impostos para reequilibrarem e otimizarem a redistribuição dos rendimentos. É de esperar no futuro um constante reequilíbrio entre o incentivo à automação e robotização e a preservação dos rendimentos daqueles que vivem do fruto do seu trabalho.

Quando falamos de IA, referimo-nos também à possibilidade de esta otimizar a eficiência fiscal das empresas e das famílias, diminuindo desta forma a receita fiscal dos Estados. Do outro lado, os Estados, tentando eliminar lacunas fiscais que tenderão a custar parte da sua receita nas próximas décadas, terão cada vez mais especialistas em tecnologia e direito a trabalharem em conjunto para criarem IA capaz de blindar a legislação e manter a receita fiscal dos governos adequada aos seus gastos.

A automação pode ser um substituto para o trabalhador humano, mas é também um complemento - usado em conjunto - com o trabalho. Um substituto nos setores de mão de obra intensiva e um complemento nas empresas tecnológicas de forte crescimento e de capital intensivo. Substitutos na tarefas mais básicas (as calculadoras poupam mão de obra nos cálculos de uma mercearia), nas tarefas mais árduas (as máquinas substituem o homem na construção de barragens), mas são cada vez mais um complemento na realização de projetos de arquitetura e engenharia, na segurança, no ensino e no conhecimento, na medicina e na saúde, e na era espacial. No futuro, veículos autónomos mais eficientes e mais baratos substituirão motoristas de camiões e de transportes de passageiros. IA aplicada às intervenções cirúrgicas substituirá médicos-cirurgiões em muitas situações. Ou seja, num cenário de liberdade económica, a tecnologia tomará o lugar do ser humano sempre que seja uma opção mais barata e mais eficiente. Ficaremos todos desempregados? Sim, ficaremos desempregados tal como os remadores das galés gregas e romanas, portageiros, datilógrafas e telefonistas, mas aptos para novos empregos de maior valor acrescentado e mais bem remunerados. Há uma correlação positiva entre salários e tecnologia. Salários mais elevados são o corolário dos avanços tecnológicos, mas mão de obra barata trava os progressos tecnológicos. Se o nível tecnológico numa determinada economia aumenta, os salários acompanham essa subida, o rendimento disponível cresce e a receita fiscal também.

Haverá algum limite para a inteligência artificial? Bem… no filme o “Exterminador implacável” de 1984, o sistema informático do departamento de defesa norte-americano, em 2029, gerido por uma inteligência artificial, a Skynet, de tal forma tão evoluída, e consciente da sua própria existência, perceciona o ser o humano como uma ameaça, procurando, assim, exterminá-lo… 

PMR in VE 20 de abril 2023





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Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto.